Na manhã de sábado, as estrelas do pelotão masculino e feminino fizeram o último reconhecimento de um percurso muito ondulado, com trechos de paralelo, que os espera nos arredores de Kigali, a capital do "país das mil colinas".
Em Ruanda, estes primeiros Mundiais de ciclismo em África constituem um evento histórico, e as autoridades, decididas a mostrar o melhor cartão de visita possível, têm-se empenhado em preparar a competição com todos os detalhes desde que lhes foi atribuída em 2021.
A televisão pública RTV mostra no canto superior esquerdo do ecrã a contagem decrescente para o início da semana de ciclismo, e centenas de adeptos e curiosos aglomeram-se ao longo do percurso para observar a passagem dos ciclistas durante o treino nas suas modernas bicicletas.
Durante esse primeiro contacto, os ciclistas, habituados às corridas na Europa, puderam descobrir uma "atmosfera única", como descreveu o belga Ilan Van Wilder, após pedalar entre palmeiras e goiabeiras, com os habitantes a utilizarem as suas antigas bicicletas para transportar grandes cargas de bananas ou imponentes bidões de água.
"Muda a perspetiva"
"Isto muda a perspetiva, é outro mundo. Vemos coisas que nos fazem relativizar em relação às condições que temos em França. Fomos muito bem recebidos", refletiu a ciclista Juliette Labous.
A francesa vai participar no contrarrelógio feminino (de 31 km), em que Marlen Reusser, Chloe Dygert e Demi Vollering partem como favoritas.
Entre os homens, todos esperam um duelo estelar entre o atual bicampeão mundial da especialidade, Remco Evenepoel, e Tadej Pogacar num percurso difícil (40 km e 680 m de desnível).
Agora ou nunca para Pogacar?
Evenepoel preparou-se para a competição na cidade espanhola de Calpe e conseguiu habituar-se ao calor, embora as temperaturas em Kigali sejam razoáveis, com máxima de 28 graus para domingo, segundo as previsões.
A humidade e a altitude – a capital ruandesa está situada a quase 1.600 m – serão fatores a ter em conta, mas as estradas estão em estado impecável e não poderão servir de desculpa para nenhum ciclista.
Pogacar, grande favorito para defender o seu título na prova em linha do próximo domingo, aspira ao seu primeiro maillot arco-íris no contrarrelógio – o seu melhor resultado foi o sexto lugar em 2022 – para lançar a primeira pedra de uma dobradinha inédita.
Talvez seja o momento do agora ou nunca para ele, pois o percurso pode igualar o seu nível ao do bicampeão olímpico, que poderá responder com a sua melhor aerodinâmica nas subidas de Nyanza, Péage e Kimihurura.
"O percurso é favorável para mim, mas para bater um especialista absoluto como Remco e tornar-me campeão do mundo, será preciso estar em forma ótima no dia D", afirma Pogacar, que se preparou a fundo para o contrarrelógio nos últimos meses.
Jonas Vingegaard e outros grandes especialistas como Filippo Ganna ou Josh Tarling optaram por não participar nestes Mundiais. Assim, como juiz desse duelo a dois, apresenta-se o australiano Jay Vine, muito forte na Vuelta a España, ou o seu compatriota Luke Plapp.
O colombiano Wálter Vargas, os mexicanos Isaac Del Toro e Eder Frayre, e os espanhóis Raúl García Pierna e Iván Romeo tentarão fazer um bom tempo, embora as suas hipóteses de pódio sejam reduzidas.