"Claro que teria gostado de enfrentar os cavaleiros de hoje! Quem é que não sonhava em fazer parte do pelotão de hoje?". O homem com 525 vitórias não perde de vista os grandes eventos do calendário.
"Vejo o Dauphiné todos os dias, é uma corrida muito boa", disse.
Na quarta-feira, apreciou a vitória no contrarrelógio do Critérium du Dauphiné do seu compatriota Remco Evenepoel, que conquistou a camisola amarela nessa ocasião e manteve-a esta quinta-feira.
"Remco Evenepoel fez um grande golpe", disse.
"Ganhar a Jonas Vingegaard por 20 segundos e a Tadej Pogacar ainda mais (por 48 segundos) é enorme. Talvez Remco estivesse a ter um grande dia e Tadej não tão bom. Mas, mesmo assim, uma diferença destas surpreendeu-me", acrescentou.
Poderá o desempenho do seu jovem compatriota fazer dele um favorito credível para a próxima Volta a França? O cinco vezes vencedor da Grande Boucle é cauteloso.
"As montanhas são uma história diferente de um contrarrelógio. Mesmo que Remco diga que perdeu peso, estou à espera de ver do que ele é capaz até à chegada no domingo. Aconteça o que acontecer, este Dauphiné vai ser muito instrutivo", defendeu.
Merckx também gostou da atitude de Evenepoel após a sua vitória de quarta-feira, a milésima de um ciclista da Quick-Step.
"Ao dedicar o seu sucesso a Patrick Lefevere (fundador e chefe da equipa belga até à época passada), Remco teve um gesto muito bonito. É um grande reconhecimento pelo que Patrick fez", afirmou.
"Difícil de comparar"
Quanto a Tadej Pogacar, que é muitas vezes considerado pelos seus seguidores como seu herdeiro, ao ponto de ser apelidado de"Pequeno Canibal", Merckx não se atreve a fazer comparações.
"É difícil comparar duas épocas diferentes", disse o belga, cuja carreira estendeu-se de 1965 a 1978.
"Penso que, no meu tempo, havia mais concorrência. Hoje, nas clássicas, Pogacar tem de ter cuidado com (Mathieu) Van der Poel e Van Aert. Nas grandes voltas, há mais alguns rivais", acrescentou.
Preocupado com a segurança dos ciclistas face às velocidades atingidas na corrida -"é rápida" - o antigo recordista da hora, uma marca que se manteve durante 28 anos, considera que "correm grandes riscos nas descidas".
Por esta razão, o belga não se opõe à limitação das relações de transmissão, apesar do ceticismo do presidente da UCI, David Lappartient, que considera que "reduzir a velocidade, de uma forma geral, é algo antitético numa corrida de bicicleta".
"Os mais fortes serão sempre os mais fortes", disse Merckx.
"Na F1, existem regras para limitar o desempenho dos carros. Porque não fazer o mesmo com o ciclismo?", questionou.
No entanto, a velocidade não é o único fator de risco de queda.
"Tenho reparado que os ciclistas estão a pedalar cada vez menos em competição, preferindo longas sessões de treino. Perdem a orientação quando regressam às corridas e não se comportam tão bem no pelotão", considerou.
Espera "voltar a andar de bicicleta em breve", alguns meses depois de ter sofrido uma queda feia em janeiro, que o obrigou a duas operações à anca em janeiro e março.
Quanto ao seu 80.º aniversário, na próxima terça-feira, vai celebrá-lo "calmamente e com a família".
"Não vou fazer nada de especial", concluiu.