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Ciclismo: Isaac del Toro, o mexicano que apimenta o Giro

Isaac del Toro no pódio no domingo
Isaac del Toro no pódio no domingoLUCA BETTINI/AFP
Jovem, brincalhão e super talentoso, o mexicano Isaac del Toro está a agitar o Giro de Itália com o seu espírito impetuoso, que faz lembrar um certo Tadej Pogacar.

Primeiro representante do seu país a envergar a camisola de líder numa grande Volta, o corredor da equipa UAE mantém-se firmemente no comando da classificação geral do Giro à medida que se aproximam as etapas de alta montanha da terceira semana, que decidirão o desfecho desta 108.ª edição.

Pode ele conseguir? Essa pergunta marca o ritmo da corrida desde que o jovem assumiu o comando na 9.ª etapa, em Siena, no domingo passado.

Muitos acreditam que sim, pois desde então, El Torito tem-se mostrado “o mais forte e de longe” neste Giro, segundo o colombiano Egan Bernal, vencedor do Tour de France em 2019. Facilmente até, chegando por vezes a roçar a insolência, como no domingo, quando vestiu calmamente um colete em plena subida, na roda de Bernal e Richard Carapaz, que, esses sim, se contorciam de dor.

Mas subsiste a dúvida sobre a sua capacidade para aguentar várias etapas de montanha seguidas. "Não sei, tudo isto é novo para mim, estou a viver um sonho. Às vezes isso deixa-me um pouco nervoso. Mas está tudo bem: tenho apenas 21 anos", repete ele todas as noites num inglês de aeroporto, vagamente envergonhado.

Porque a situação está longe de ser simples para o pequeno endiabrado de madeixa castanha que deveria ser apenas um simples gregário de Juan Ayuso ou até de Adam Yates. Em vez disso, viu-se catapultado para o centro das atenções numa equipa que tenta agradar a gregos e troianos.

"Não sou o Tadej Pogacar"

"Vamos ver. O Juan e o Adam são tão fortes, temos de jogar com todas as cartas, mas claro que mostrei que sou suficientemente bom", afirmou ele no domingo à noite.

Na verdade, só se fala dele neste Giro, onde exibe o seu carisma natural e um estilo vibrante que remete para o seu grande mestre na UAE, Tadej Pogacar, com quem troca mensagens com frequência.

"Acho que ele acredita em mim. Mas eu não sou o Tadej Pogacar, ele tem um motor maior do que o meu", garante Del Toro, a quem Pogacar - atualmente em fase de treinos - aconselhou por mensagem a atacar na etapa de Siena, antes de publicar uma foto dos dois nas redes sociais.

Na verdade, a ascensão de Del Toro faz lembrar a de Pogi na Vuelta de 2019, onde o esloveno venceu três etapas e ficou em terceiro lugar na sua primeira grande Volta, antes de vencer, logo no ano seguinte, o Tour de France.

Os dois têm também em comum o facto de terem vencido o Tour de l'Avenir, o Tour de France dos jovens talentos. Até a impressão visual é semelhante quando Del Toro se posiciona, tal como o esloveno, inclinado para a frente na bicicleta, com o tronco bem direito, no momento da subida.

"A estrela de amanhã"

"É outro fenómeno que temos aqui", conclui Fabio Baldato, diretor desportivo de Del Toro neste Giro. Nascido nas margens do Pacífico, em Ensenada, na Baixa Califórnia, antes de se mudar para São Marino aos 15 anos, o mexicano vem, tal como Pogacar, de um país sem tradição ciclística.

No seu país, começa-se a viver o entusiasmo - "imaginem o que é ter todo um povo por trás de ti", maravilha-se ele - e Raul Alcala, profissional mexicano nos anos 80/90, já vê Del Toro "vencer o Giro".

"Ele está destinado a fazer grandes coisas. Surpreende toda a gente, mas já mostrou coisas muito boas esta temporada, como na sua vitória em Milão-Turim", uma das clássicas mais antigas do mundo, explicou ele ao jornal Esto.

Para Alex Carrera, agente de Del Toro, é “importante para o ciclismo” ter um corredor vindo de outro continente que não a Europa. Segundo ele, Del Toro, de quem também elogia o profissionalismo, tem “tudo para se tornar a estrela de amanhã”. E está bem colocado para o dizer, já que também é agente de Pogacar, pois claro.