A mais longa tirada da 108.ª edição do Giro foi também a mais atribulada até ao momento, já que uma queda, ocorrida a pouco mais de 70 quilómetros da meta, ‘eliminou’ o campeão de 2022 e levou a organização a decidir tomar aí os tempos para a geral, ainda liderada pelo dinamarquês Mads Pedersen (Lidl-Trek).
Mas nem o sprint final foi livre de complicações, com Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck) a esquivar uma série de toques entre os pretendentes à etapa para festejar o primeiro triunfo do ano, no final dos 227 quilómetros entre Potenza e Nápoles.
“É um grande alívio. A equipa acreditou sempre em mim. Não foi um início de época fácil, com a lesão (no joelho) falhei muitas corridas e cheguei aqui sem uma vitória. Alcançar a primeira é um alívio”, assumiu o australiano, que bateu o belga Milan Fretin (Cofidis) e o francês Paul Magnier (Soudal Quick-Step).
Bem depois dos homens rápidos, que cortaram a meta com um registo oficial de 4:59:52 horas, chegou o camisola rosa Mads Pedersen, que beneficiou da decisão da organização de contar os tempos no momento da queda.
Com todos os ciclistas creditados com o mesmo registo, o dinamarquês continua a liderar com 17 segundos de vantagem sobre Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe) e 24 sobre o seu colega checo Mathias Vacek.
Antes do caos, a sexta jornada permitiu que Taco van der Hoorn (Intermarché-Wanty) recuperasse o protagonismo na prova, onde ganhou uma etapa em 2021.
O neerlandês juntou-se ao francês Enzo Paleni (Groupama-FDJ) na fuga do dia, anulada apenas a 2,5 quilómetros do final, já depois de a corrida ter sido neutralizada.
Uma queda provocada por Jai Hindley, que deslizou no asfalto molhado, fez cair meio pelotão, levando a organização a ‘travar’ a marcha dos ciclistas, para assistir os acidentados – a corrida não pode prosseguir sem ambulâncias a acompanhá-la -, nomeadamente o australiano da Red Bull-BORA-hansgrohe.
O vencedor da edição de 2022 da ‘corsa rosa’ e vice-campeão de 2020 bateu com a cabeça no chão e desistiu de imediato – é uma baixa de peso no apoio a Roglic -, ao contrário de Adam Yates (UAE Emirates) ou Richard Carapaz (EF Education-EasyPost), que prosseguiram apesar da queda.
A organização do Giro parou mesmo a etapa, com os corredores a aguardarem uma nova partida, que foi dada a pouco mais de 60 quilómetros de Nápoles e que respeitou a diferença registada entre os fugitivos e o pelotão no momento da queda.
Com a tirada a não atribuir segundos de bonificação, a perseguição não foi tão ‘feroz’ como seria de esperar e, já com o ‘maglia rosa’ Mads Pedersen atrasado – descolou já dentro dos derradeiros 30 quilómetros -, os dois aventureiros chegaram mesmo a aumentar a vantagem.
Mas a fuga morreria na praia, mais concretamente nos 2.500 metros finais, antecedendo novo momento caótico: Wout van Aert (Visma-Lease a Bike) lançou-se em busca da sua primeira vitória da época, mas abdicou, talvez pensando nas possibilidades do seu companheiro Olav Kooij, que foi ‘apertado’ por Matteo Moschetti.
O italiano da Q36.5 haveria de ser relegado para último, mas o mal já estava feito e o jovem neerlandês perdeu a possibilidade de lutar por um sprint no qual se impôs Kaden Groves, que somou a segunda vitória no Giro e a nona em grandes Voltas – tem sete na Vuelta.
Pedersen, que chegou tranquilamente vários minutos depois, foi creditado com o tempo do australiano da Alpecin-Deceuninck, e vai partir de rosa, na sexta-feira, para a mais dura etapa até ao momento, os 168 quilómetros entre Castel di Sangro e Tagliacozzo, onde a meta é antecedida por uma contagem de montanha de primeira categoria.
"Já tive melhores dias. Nunca é bom cair a 70 km/h. Sinto-o no meu corpo agora", resumiu o líder do Giro, que também caiu e confessou sentir dores.
Afonso Eulálio (Bahrain Victorious) continua a 30.57 minutos do ‘maglia rosa’, na 122.ª posição da geral.