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Ciclismo: O azar não larga Jonas Vingegaard

Jonas Vingegaard a atravessar um mau momento
Jonas Vingegaard a atravessar um mau momentoANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP
Um ano depois do seu grave acidente no País Basco, Jonas Vingegaard abandonou o Paris-Nice na sexta-feira, na sequência de uma nova queda. Embora o custo médico seja muito inferior, o azar parece estar a instalar-se para o bicampeão da Volta a França.

Em abril de 2024, o dinamarquês viu-se "morrer" quando ficou numa vala, a tossir sangue, após um violento acidente na Volta ao País Basco. Um pneumotórax, sete costelas partidas, um esterno fracturado e uma clavícula partida em vários pedaços: os danos foram terríveis para o líder da Visma, que passou 12 dias no hospital, oito dos quais nos cuidados intensivos.

Em comparação, esta simples "contusão" na mão esquerda, contraída num acidente aparentemente inofensivo, na quinta-feira, a meio da 6ª etapa de Paris-Nice, parece realmente o mal menor.

Na altura, o seu lugar-tenente, Matteo Jorgenson, temia uma fratura, porque o dinamarquês estava com muitas dores, incapaz de travar ou de entrar no ritmo.

Quando desceu para o pequeno-almoço, na sexta-feira de manhã, Vingegaard continuava a sentir dores e foi tomada a decisão de"mandá-lo para casa, na Dinamarca, para uns dias de repouso", explicou Grischa Niermann, o diretor desportivo da equipa , ao pé do autocarro, no início da 6.ª etapa, em Saint-Julien-en-Saint-Alban, debaixo de chuva.

"Nada partido"

"Não há nada partido, mas ainda é muito doloroso e ele não se sente bem em geral depois deste acidente, por isso decidimos não correr riscos", acrescentou Niermann.

"Estamos a falar de Jonas", insistiu, "e está fora de questão comprometer os seus próximos objectivos, nem que seja em um por cento", a começar, claro, pela Volta a França, que ele espera vencer em julho.

Nierman espera mesmo que o seu ciclista possa alinhar na partida da Volta à Catalunha, que começa dentro de dez dias. A próxima prova do programa do dinamarquês, o Critérium du Dauphiné, só chega em junho.

Mas"Jonas sente-se muito mal por ter de abandonar a corrida. Ele estava lá para ganhar, era esse o seu principal objetivo na primavera. Já estávamos muito pessimistas ontem à noite (quinta-feira) e isto não é Lourdes", explicou Niermann.

Questionado sobre as possíveis consequências psicológicas para o dinamarquês de 28 anos, que confessou este inverno ter pensado em interromper a carreira após o acidente no País Basco, o chefe de equipa desvalorizou a questão.

"Foi um acidente muito estúpido numa subida a uma velocidade muito baixa. Alguns ciclistas chocaram uns contra os outros mesmo à sua frente e Jonas não conseguiu evitá-los. Infelizmente, as corridas são assim", disse.

"Má sorte"

"Estas coisas acontecem, ele teve muito azar", disse o seu companheiro de equipa Victor Campenaerts.

"Sinto-me mal por ele", comentou Matteo Jorgenson, o vencedor cessante e atual camisola amarela: "Sem Jonas, será mais difícil controlar a corrida, mas penso que ainda temos uma boa hipótese de vencer o Paris-Nice."

O facto é que Vingegaard, agora pai de dois filhos, tinha caído muito pouco até então e quase parecia ter um totem de imunidade antes da queda no País Basco, que o tornou mais cauteloso em cima de uma bicicleta.

Num desporto cada vez mais rápido e cada vez mais perigoso, muitos ciclistas admitiram, nos últimos anos, ter sido desencorajados por uma queda, como Julian Alaphilippe, que sofreu um grave acidente em 2022.

O próprio Tadej Pogacar teve uma experiência muito próxima no sábado passado, na Strade Bianche, quando se despistou fortemente, mas sem outras consequências para além de nódoas negras, antes de vencer a corrida.

"Vingegaard despistou-se a 15/20 km/h por hora, isso é azar. Mas, infelizmente, haverá outros acidentes. Estamos num desporto de alto risco e temos de aceitar isso", afirmou Thierry Gouvenou, diretor técnico da Volta à França.