"A partir de Roterdão, o sucesso do público está garantido", declarou Marion Rousse no início da corrida, na segunda-feira.
A diretora da Volta à França não estava enganada. A primeira etapa foi assistida por 150.000 espectadores nas estradas entre Roterdão e Haia.
"A multidão é inacreditável, é de arrepiar", disse a experiente ciclista neerlandesa Marianne Vos (37 anos), que ganhou a camisola verde para a melhor velocista desta Volta.
Se as audiências televisivas em França foram baixas (entre 1,5 e 2 milhões de telespectadores durante a semana), os números dispararam no estrangeiro: na Bélgica houve mais 20% de telespectadores do que em 2023 e nos Países Baixos, a subida é de uns notáveis 40%. O que comprova que o Tour é interessante fora de França.
Niewiadoma vence por quatro segundos
Mas foi sobretudo a nível desportivo que se registaram as notícias mais positivas. A intensidade da corrida também melhorou, uma vez que muitas das ciclistas são capazes de ganhar etapas. Em oito dias de corrida, houve seis vencedoras diferentes.
Jovens ciclistas deram a conhecer-se ao grande público, como Cédrine Kerbaol (23 anos), que venceu na sexta-feira em Morteau.
O que se passou na última etapa, na subida do Alpe d'Huez, vem juntar-se ao mérito desportivo, já que a polaca Katarzyna Niewiadoma venceu o Tour por apenas quatro segundos sobre a neerlandesa Demi Vollering.
A União Ciclista Internacional introduziu um salário mínimo (32.000 euros por ano) para as ciclistas das equipas World Tour a partir de 2020, para que possam dedicar-se totalmente ao ciclismo.
A diferença em relação aos salários dos homens é abismal. Por exemplo, a polaca Katarzyna Nieuwiadoma recebeu 56.480 euros pela sua vitória, seis vezes menos do que o campeão masculino (Tadej Pogacar).
"Temos muita sorte"
"A nossa geração tem muita sorte", garantiu a corredora Cédrine Kerbaol. "Tenho um pouco de pena daquelas que estão aqui há anos", acrescentou.
As condições de trabalho também melhoraram. A maioria das equipas viaja num autocarro confortável, tal como os homens.
"Há dez anos, Marion Rousse (então ciclista) tinha de mudar de roupa na mala do carro", recorda Christian Prudhomme, diretor de ciclismo da ASO, a organizadora da Volta a França.
As coisas mudaram muito. Atualmente, muitas equipas realizam testes em túnel de vento e utilizam a crioterapia para a recuperação das suas ciclistas, que também têm nutricionistas.
A melhor prova destas melhorias é a equipa francesa FDJ-Suez, criada em 2006 por Stephen Delcourt. O que era um bom clube há uma década é agora uma referência no pelotão feminino.
"De 20 empregados em 2020, para os 46 que somos hoje e com a ideia de chegar aos 50 no próximo ano", explicou Delcourt. Nos últimos cinco anos, o orçamento (desconhecido) da equipa quadruplicou, o que permitirá à FDJ-Suez acolher a francesa Juliette Labous e, provavelmente, a número um mundial Demi Vollering nas fileiras da equipa na próxima época, para se juntarem à promissora Evita Muzic.
"A economia do ciclismo feminino ainda é frágil. A título de exemplo, a equipa francesa Auber 93 procura um patrocinador capaz de fornecer os 500.000 euros necessários para evitar o desaparecimento. A visibilidade do Tour é crucial para o desenvolvimento do ciclismo feminino e orgulho-me de participar nesta etapa de progresso. As mulheres merecem-no", concluiu a diretora da Grande Boucle feminina.