Na empinada chegada a Boulogne-sur-Mer, MVDP foi o melhor de um exclusivo grupo, aguentando uma aceleração tardia do campeão mundial de fundo para conquistar a segunda vitória na Grande Boucle e oferecer o segundo triunfo à Alpecin-Deceuninck nesta edição.
Tal como há quatro anos, o classicómano neerlandês venceu a segunda etapa e, consequentemente, vestiu a camisola amarela, repetindo o feito que o seu lendário avô, o eterno segundo Raymond Poulidor, o homem que mais vezes subiu ao pódio da Volta a França (oito) sem nunca a liderar, jamais alcançou.
“Passou mesmo muito tempo desde que ganhei uma etapa no Tour e também desta segunda vez sou recompensado imediatamente com a camisola amarela. Acho que valeu a pena esperar”, declarou, depois de se impor a Pogacar (UAE Emirates) e Vingegaard (Visma-Lease a Bike), respetivamente segundo e terceiro na meta e também na geral.
Num final digno de uma clássica, João Almeida chegou a estar atrasado, mas acabou por recolar ao grupo de elite, trabalhando inclusive para posicionar o seu líder da UAE Emirates e acabando na 15.ª posição, com as mesmas 4:45.41 horas do vencedor.
“Não estava na melhor posição a duas subidas do fim. Houve uma grande confusão e perdi algumas posições. Pude regressar e ajudar um pouco”, descreveu o ciclista português aos microfones da Eurosport, confessando que até esperava que o final fosse “um bocado mais duro”.
Ao chegar com os da frente, Almeida deu um salto na geral, sendo agora 13.º, a 49 segundos de Van der Poel, que lidera com quatro de vantagem sobre o campeão em título e seis face a Vingegaard, dias depois de ter assumido não gostar da ‘Grande Boucle’ por sentir não ter “muito a ganhar”.
A segunda jornada começou ‘atrasada’ devido às condições meteorológicas adversas, que dificultaram a chegada dos autocarros das equipas a Lauwin-Planque, ponto inicial da mais longa etapa da 112.ª edição.
Sob uma chuva diluviana, num cenário mais próprio de um dia de inverno, Bruno Armirail (Decathlon AG2R La Mondiale) voltou a tentar a sua sorte, unindo-se logo no primeiro quilómetro ao campeão cazaque de fundo e contrarrelógio Yevgeniy Fedorov (XDS Astana), ao norueguês Andras Leknessund (Uno-X) e ao belga Brent van Moer (Lotto) na fuga.
Um furo obrigou Nelson Oliveira (Movistar) a parar a marcha, mas rapidamente o ciclista português com mais presenças em grandes Voltas (22) regressou ao pelotão, que abordou os 209,1 quilómetros até Boulogne-sur-Mer com cautela, mas não sem sobressaltos.
Ao quilómetro 44, Fedorov e Leknessund caíram, mas conseguiram recolar aos seus companheiros de jornada, que nunca tiveram uma vantagem superior a três minutos.
Numa jornada incomparavelmente mais tranquila do que a da véspera, a fuga acabou a mais de 50 quilómetros da meta, antes do início das ‘rampas’ mais difíceis.
A UAE Emirates acelerou no Côte du Haut Pichot, onde Geraint Thomas (INEOS) e Jonathan Milan (Lidl-Trek) ficaram envolvidos numa queda, e o pelotão, devido à pouca largura da estrada, acabou por ficar cortado.
Os dois grupos haveriam de reagrupar-se mais adiante, mas os derradeiros 30 quilómetros foram de alta tensão, com a subida a Saint-Étienne-au-Mont, outra terceira categoria com uma inclinação média de 9,5%, a servir para Matteo Jorgensen (Visma-Lease a Bike) testar Pogacar.
O tricampeão do Tour respondeu ‘presente’, sendo acompanhado, entre outros, por Vingegaard e Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), além de Van der Poel, mas não por Almeida, que foi obrigado a perseguir o primeiro grupo, com sucesso, ao contrário de outros candidatos ao top 10, como Thomas e o seu companheiro Carlos Rodríguez, ambos já com um atraso de 1.20 minutos, ou o então camisola amarela Jasper Philipsen.
O novo Vingegaard, um que ataca em etapas planas, acelerou a cinco quilómetros da meta, mas foi Florian Lipowitz (Red Bull-BORA-hansgrohe) aquele que mais tempo aguentou na frente. No entanto, o estreante alemão foi anulado por Almeida, perfeito a lançar o seu líder esloveno, que foi batido pela sua ‘besta negra’ – este ano MVDP derrotou Pogi no Paris-Roubaix e na Milão-San Remo.
Nelson Oliveira chegou a mais de sete minutos e vai partir, na segunda-feira, para a terceira etapa a 8.38 do neerlandês da Alpecin-Deceuninck.