“Dificilmente. Mas a partir de agora todos somos candidatos, não é? Depois, etapa a etapa, é que vamos vendo… mas é muito improvável, obviamente”, respondeu, com um sorriso, o quarto classificado do Tour-2024, ao ser questionado sobre se poderia cumprir o sonho de ganhar uma grande Volta já nesta Grande Boucle.
Em entrevista à agência Lusa, o melhor voltista português da atualidade garante que não chega à 112.ª Volta a França, que arranca no sábado, em Lille, e termina em 27 de julho, em Paris, com mais pressão do que no ano passado, quando se estreou na prova.
“Até pelo contrário. A temporada está a correr bem. Sei que chego numa boa forma física e de boa saúde. Portanto, é dar o meu melhor e ajudar o meu líder, que é o Tadej”, disse.
Vencedor das Voltas à Suíça, Romandia e País Basco – foi o primeiro ciclista na história a conquistar estas três corridas na mesma temporada -, João Almeida lembra que a UAE Emirates vai alinhar com um plano para levar Pogi ao quarto triunfo no Tour, que será adaptado “etapa a etapa”.
“Só uma queda ou um azar muito grande o tira fora da corrida. Vamos só com o objetivo que é o Tadej (vencer) e, pessoalmente, vou sem qualquer objetivo de resultados”, assume.
Apesar de estar a viver a melhor época da carreira, o ciclista de 26 anos acha que é “muito difícil” acabar no pódio da prova que descreve como “o maior palco do ciclismo mundial e a maior corrida do mundo”, porque os corredores que vão alinhar neste Tour “são muito fortes”.
“Chego numa boa forma física e vou dar o meu melhor, mas também não vou com o objetivo de fazer um resultado. Se fizer, é sempre secundário e vou sempre com o objetivo de destruir aquele pelotão naquelas subidas para o Tadej ficar na melhor posição possível. Não muda muito, mas não é a mesma coisa”, sublinhou.
Recordado que, na história recente da Volta a França, vários gregários de luxo acabaram por ficar no pódio, como o seu companheiro britânico Adam Yates em 2023, Almeida disparou: “Mas depois temos os outros ‘extraterrestres’ que vão na roda a poupar e chegam sempre mais fresquinhos, não é?”.
“Mas é tranquilo. Com os resultados que já tive esta temporada, também chego com outra calma e com bastantes vitórias já, portanto também não sinto qualquer pressão ou dever de fazer um resultado”, reiterou.
Quando fala em extraterrestres, Almeida refere-se a Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) e Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), os ciclistas que acompanharam ‘Pogi’ no pódio da Grande Boucle no ano passado.
“Daí para trás, já é diferente”, defendeu, considerando que colocar Primoz Roglic no mesmo patamar de favoritismo destes três “seria um pouco irrealista”, até porque o esloveno da Red Bull-BORA-hansgrohe esteve no Giro – embora tenha desistido, após uma sucessão de quedas, durante a 16.ª etapa.
O português evita equiparar-se aos principais candidatos, embora reconheça que é bastante mais consistente durante a temporada do que Evenepoel, que está a ter prestações abaixo do esperado, numa época que começou mais tarde devido a um acidente num treino em dezembro.
“O Remco também quando se prepara bem e tem um objetivo bastante claro, ele chega sempre numa forma bastante boa”, ressalvou, concedendo que “há sempre surpresas na Volta a França”.
Para Almeida, o Tour vai decidir-se na montanha, embora os contrarrelógios, nomeadamente a cronoescalada da 13.ª etapa, possam fazer diferenças.
“Temos bastantes chegadas em alto e bastante duras e vai ser o que vai fazer a diferença total. Este ano não há nenhuma (etapa) de sterrato, como no ano passado. Não há pavé. A primeira semana, obviamente, vai ser muito complicada, porque há muitas etapas planas. Estradas em França que são bastante más: estreitas, muitas divisórias de estrada, etc. É bastante perigoso, portanto vai ser um stress, o caos total e pode haver quedas”, antecipou à Lusa.
O importante, segundo o português, é os homens da UAE Emirates tentarem livrar-se das quedas nos primeiros dias e chegaram sem azares a Paris. Nessa travessia de 3.338,8 quilómetros exclusivamente em território francês, Almeida gostava de chegar a uma subida e ficar só com “dois ou três na roda”.
“Se isso acontecer, já vou ficar feliz. Quando for puxar a dar tudo, e olhar para trás e só vir para aí três corredores, aí vou sentir que o meu trabalho foi bem feito”, concluiu.