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Tour: Arensman bisa na última etapa de montanha da qual Pogacar saiu de amarelo

Mais um grande desempenho de Arensman
Mais um grande desempenho de ArensmanLOIC VENANCE/AFP

A dececionante 19.ª etapa da Volta a França demonstrou esta sexta-feira a Thymen Arensman que pode derrotar extraterrestres, com o ciclista neerlandês da INEOS a beneficiar da cobardia de Jonas Vingegaard e da debilidade do futuro campeão Tadej Pogacar.

Na véspera, Vingegaard tinha assegurado que o Tour ainda não tinha acabado, mas hoje, na última jornada de alta montanha, nem o dinamarquês, sempre demasiado controlado e dependente das indicações da equipa, nem a sua Visma-Lease a Bike fizeram qualquer movimento para tentar destronar o esloveno da UAE Emirates, que apesar de parecer estar menos forte, ficou mais perto do quarto triunfo final na Grande Boucle (2020, 2021 e 2024).

Os dois chegaram a estar isolados na companhia de Arensman, mas, empenhados em marcar-se, deixaram o neerlandês distanciar-se a uns 14 quilómetros do alto de La Plagne e nunca mais o apanharam, cortando a meta dois segundos depois do vencedor e derrotados pelos seus receios.

“São o Tadej e o Jonas, todos sabem que são os (ciclistas) mais fortes do mundo, são quase ‘aliens’. E eu, como humano, ainda quero tentar derrotá-los e nem posso acreditar que o consegui esta sexta-feira”, confessou o corredor da INEOS, após concluir a 19.ª etapa em 02:46.06 horas.

Se a estreia no Tour do neerlandês de 25 anos não podia ter corrido melhor – depois de fracassar na luta pela geral, foi um dos grandes combativos, tendo vencido também a 14.ª tirada -, a prestação de Vingegaard, segundo à frente de Pogacar, ficou aquém do esperado, com o dinamarquês a dar indicações de que podia ganhar a etapa, mas a não arriscar por medo a ser ultrapassado por Pogacar, que saiu da última jornada de alta montanha com uma vantagem de 04.24 minutos.

Com a Visma a nem tentar, foi a luta pelo terceiro lugar que animou a tirada: Florian Lipowitz (Red Bull-BORA-hansgrohe) está lançado para ocupar o último lugar no pódio no domingo, em Paris, depois de hoje ganhar tempo a Oscar Onley (Picnic PostNL) – o alemão está a 11.09 do camisola amarela e tem mais de um minuto de vantagem sobre o britânico.

Após a supressão da subida ao Col des Saisies, devido a um surto de dermatite nodular contagiosa em gado bovino naquele local, e do encurtamento da etapa para ‘meros’ 93,1 quilómetros, ao contrário dos originais 129,9, esperava-se que os ataques começassem nas primeiras pedaladas, mas nada aconteceu até ao sprint intermédio, no qual Jonathan Milan (Lidl-Trek) quase garantiu a camisola verde.

O inesgotável Jonas Abrahamsen (Uno-X), um dos ciclistas que mais fugiu neste Tour, foi o primeiro a isolar-se, antes de ser ultrapassado por Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe) ou os franceses Lenny Martinez (Bahrain Victorious) e Valentin Paret-Peintre (Soudal Quick-Step).

O Col du Pré foi fazendo  vítimas entre os homens da geral, como Kévin Vauquelin (Arkéa-B&B Hotels), mas também entre os fugitivos, com Rogla, o vice da edição de 2020 e quatro vezes campeão da Vuelta, a passar à ofensiva para tentar melhorar o seu quinto lugar na geral.

O esloveno uniu-se a Paret-Peintre e Martinez, ainda a sonhar com a camisola da montanha – já não tem como chegar lá -, mas o trio nunca conseguiu uma vantagem significativa, porque a UAE Emirates, apostada em levar Pogacar à vitória na etapa, não quis.

Após três desistências consecutivas devido a queda e do trauma sofrido em 2020, quando perdeu a amarela para Pogacar no penúltimo dia, Roglic procurou acertar contas com o Tour, isolando-se na descida posterior ao Cormet de Roselend.

Ainda faltavam mais de 20 quilómetros para a meta quando o esloveno foi apanhado e se despediu definitivamente do sonho no pódio – caiu para oitavo -, mesmo antes do início da subida a La Plagne, onde a Decathlon AG2R La Mondiale acelerou o ritmo para promover com sucesso Felix Gall ao quinto lugar.

Esta sexta-feira, e após praticamente três semanas de táticas falhadas, a Visma-Lease a Bike desapareceu e Vingegaard limitou-se a seguir na roda de Pogi, mesmo quando o esloveno atacou a mais de 14 quilómetros da meta.

Os dois arquirrivais não quiseram colaborar, o que foi aproveitado por Thymen Arensman para se isolar e pelos homens da geral para recolarem ao duo.

No último dia nos Alpes foi evidente que o campeão mundial de fundo não está tão dominador como na passada edição, que conquistou com seis triunfos em etapas, os mesmos que somou para ganhar o Giro: atacou a sete quilómetros do final e até Lipowitz e Onley conseguiram responder.

O líder da UAE Emirates assumiu a perseguição ao neerlandês e o seu ritmo fez descolar o britânico da Picnic PostNL já dentro dos derradeiros 2.000 metros.

Perante a possibilidade de consolidar o terceiro lugar na geral, o alemão da Red Bull-BORA-hansgrohe acelerou e o trio quase apanhava o ciclista da INEOS, que beneficiou, novamente, do excesso de calculismo dos dois primeiros da geral.

Nelson Oliveira (Movistar) foi 52.º classificado, a 22.25 de Arensman, e vai partir no sábado para a penúltima etapa, uma ligação acidentada de 184,2 quilómetros entre Nantua e Pontarlier, na 65.ª posição da geral, a mais de três horas de Pogacar.