Numa jornada em que os favoritos e o camisola amarela Ben Healy (EF Education-EasyPost) deram um bonito exemplo de fair-play, ao esperarem por Tadej Pogacar (UAE Emirates) quando o campeão em título da Volta a França caiu a seis quilómetros do final, Abrahamsen impôs-se ao suíço Mauro Schmid (Jayco AlUla), seu companheiro de fuga desde os primeiros metros dos 156,8 quilómetros com partida e chegada a Toulouse.
Os dois, que cortaram a meta com o tempo de 03:15.56 horas, resistiram à feroz perseguição do estelar Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck), que integrou um grupo intermédio de luxo mas nunca os alcançou, chegando à meta sete segundos depois.
“Há quatro semanas, quando fraturei a clavícula na Volta à Bélgica, estava a chorar no hospital por pensar que não estaria na Volta a França. No dia seguinte, regressei a casa e fiz tudo para recuperar. (...) Isto é fantástico”, revelou o norueguês de 29 anos, após somar a sua segunda vitória como profissional.
Jonas Abrahamsen estreou-se a ganhar em grandes Voltas, mas também ofereceu a primeira vitória nestas corridas à Uno-X, eterna animadora de etapas da Grande Boucle, que viu, finalmente, a sua audácia recompensada após três anos a tentar – por ser da segunda divisão do ciclismo mundial, tem recebido convites desde 2023 para participar na prova.
O conto de fadas do norueguês e da sua equipa culminou uma 11.ª etapa frenética, em que, embora até Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) tenha testado a concorrência, nada mudou na geral: o irlandês Ben Healy continua a liderar com 29 segundos de vantagem sobre Pogacar e 01.29 sobre o belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), que é terceiro.
No regresso do pelotão à estrada após o primeiro dia de descanso, Abrahamsen atacou imediatamente, sendo seguido por Mauro Schmid e Davide Ballerini (Soudal Quick-Step).
Vários ciclistas tentaram chegar ao trio da frente, entre eles Nelson Oliveira (Movistar), o único português em prova na 112.ª Volta a França, e o francês Kévin Vauquelin (Arkéa-B&B Hotels), o sexto classificado da geral, mas nenhum teve sucesso.
Os constantes ataques elevaram a média e, na primeira montanha do dia, a quarta categoria de Côte de Castelnau-d'Estrétefonds, o camisola amarela descolou, regressando logo de seguida, inclusive muito antes de Wout van Aert quase ter acabado com a fuga.
Quando o belga da Visma-Lease a Bike abrandou o ritmo, Fred Wright (Bahrain Victorious) e Mathieu Burgaudeau (TotalEnergies) fizeram a ponte para a frente, antes de o vento cortar o pelotão e Pogi ficar momentaneamente atrasado. O caos instalou-se, com grande parte dos favoritos a isolarem-se, deixando Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe) em má situação.
Numa sucessão frenética de acontecimentos, o pelotão reagrupou-se, Van Aert, Van der Poel, Arnaud de Lie (Lotto), Quinn Simmons (Lidl-Trek) e Axel Laurance (INEOS) tentaram juntar-se à frente da corrida, a mais de 60 quilómetros da meta, e Oliveira voltou a atacar, sem conseguir chegar aos homens que seguiam à sua frente.
Apesar da extraordinária qualidade dos seus componentes, o quinteto esteve sempre em posição intermédia, nunca conseguindo estar a menos de 15 segundos de diferença dos cinco ciclistas que seguiam na frente.
Na aproximação à Côte de Pech David, a única terceira categoria da jornada, Schmid atacou e levou consigo Abrahamsen, enquanto lá atrás Simmons tentava deixar os seus companheiros de jornada, missão que só MVDP concretizou, acabando por ser terceiro na meta, sem nunca ter alcançado os dois primeiros.
“A determinada altura, pensava que o meu ataque era para ganhar a etapa, mas rapidamente vi que ainda havia corredores à minha frente”, desabafou o neerlandês da Alpecin-Deceuninck, que é, sem dúvida, um dos grandes protagonistas deste Tour, onde já venceu uma etapa e andou quatro dias de amarelo.
Talvez contagiado pela expectativa criada em seu redor, Vauquelin atacou no grupo de favoritos, num desperdício de forças antes da primeira jornada pirenaica, que na quinta-feira vai ligar Auch e o emblemático Hautacam, onde a etapa termina numa contagem de categoria especial após 180,6 quilómetros.
Vingegaard também acelerou, assim como o seu colega Matteo Jorgenson, com as movimentações a não terem qualquer resultado no duelo com Pogacar, que caiu a seis quilómetros da meta.
Num gesto de fair-play, o grupo de favoritos e do camisola amarela – que rapidamente pediu aos seus colegas para abrandarem - esperou pelo campeão mundial de fundo, que agradeceu a atitude através do rádio, manifestando “respeito pelo pelotão”, que cortaria a meta 03.28 minutos depois do vencedor.
Nelson Oliveira foi 109.º, a 09.11 minutos do vencedor, e é 58.º da geral, a quase 50 minutos do camisola amarela.