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Tour: Montemartre é o último desafio após uma semana proibitiva nos Alpes

Ciclistas estudam percurso
Ciclistas estudam percursoSameer Al-DOUMY / AFP
A inédita subida a Montemartre fecha com chave de ouro o percurso 100% francês da 112.ª Volta a França em bicicleta, que promoveu o regresso do Mont Ventoux como palco de uma das suas cinco chegadas em alto.

Após três Grands Départs no estrangeiro, e com outros dois previstos no menu das próximas edições – Barcelona (2026) e Edimburgo (2027) -, o Tour voltou-se para si , percorrendo 3.338,8 quilómetros dentro das suas fronteiras, numa edição em que também vai homenagear lendas nacionais e testar a resistência dos favoritos com um encadeamento proibitivo de montanhas na última semana, na antessala do final nos Campos Elísios.

No ano em que se comemoram 50 anos da primeira chegada ao já conhecido salão de festas da Volta a França – e também da camisola às bolinhas vermelhas da montanha e da classificação da juventude -, a organização decidiu decalcar parte do espetacular traçado da prova de fundo dos Jogos Olímpicos Paris-2024, que coroou o belga Remco Evenepoel, com o pelotão a subir três vezes a colina de Montmartre, passando diante do Sacré-Coeur.

Num ano em que o percurso do Tour não inclui sterrato nem pavé, as passagens por Montmartre - uma estreita e empedrada subida de quarta categoria -, integradas num circuito de 16,8 quilómetros, podem relevar-se traiçoeiras, até porque a meta está situada a meros seis quilómetros da ascensão final.

Esta é apenas uma das armadilhas ocultas num percurso que homenageia Jacques Anqueti, com a meta da quarta etapa instalada em Rouen, cidade onde vivia e morreu em 1987, Bernard Hinault, com a travessia de Yffiniac, onde nasceu o último francês vencedor do Tour (1985), e Louison Bobet, o primeiro corredor a vencer três edições – a oitava etapa sai de Saint-Méen-le-Grand, a sua terra natal.

Pela primeira vez desde 2020, o primeiro camisola amarela deverá ser um sprinter, com a etapa inaugural, disputada em Lille, a ser reservada aos homens mais rápidos do pelotão, que terão outras oportunidades na terceira, oitava e nona tiradas.

As 10 etapas iniciais, que antecedem um dia de descanso tardio – excecionalmente a uma terça-feira, para não coincidir com a jornada de feriado nacional –, não têm alta montanha, mas nem por isso serão inofensivas nas contas da geral, com o contrarrelógio de 33 quilómetros da quinta etapa previsivelmente a fazer a primeira seleção entre os favoritos.

Seguem-se as chegadas a Vire Normandie e o Mûr-de-Bretagne, idealizadas para puncheurs, mas onde homens como Tadej Pogacar (UAE Emirates), Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) ou Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe) tradicionalmente se dão bem.

Cumprido o primeiro dia de descanso, já depois do festival de contagens de segunda categoria da 10.ª etapa (são sete, a última a coincidir com a meta em Le Mont-Dore), o pelotão enfrenta o colossal Hautacam (categoria especial), onde Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) sentenciou a geral do Tour-2022.

A primeira chegada em alto acontece na 12.ª tirada e, a partir desse momento, o pelotão mergulha nos Pirenéus, com a cronoescalada de 10,9 quilómetros do dia seguinte a terminar em Peyragudes, onde a meta coincide com uma contagem de primeira categoria.

A dificuldade só aumenta no dia seguinte, com a primeira chegada a Luchon Superbagnères (categoria especial) desde 1989 a ser antecedida das subidas ao temível Tourmalet, Aspin e Peyresourde.

O Tour segue depois para os Alpes, começando a terceira e última semana com a chegada ao Mont Ventoux, uma das suas montanhas mais emblemáticas – desde 2013 que aquela paisagem lunar não acolhe o final de uma etapa da Grande Boucle, já que em 2016 o pelotão não chegou ao topo, devido aos ventos fortes que levaram ao encurtar da tirada.

Após um pequeno suspiro, numa 17.ª etapa dedicada aos sprinters, os candidatos a suceder a Tadej Pogacar na galeria de vencedores terão talvez o seu maior teste nos 171,5 quilómetros a partir de Vif, que incluem três contagens de categoria especial e 5.500 metros de desnível acumulado.

É no Col de la Loze, o teto deste Tour (2.304 metros) e a besta negra de Pogacar, que a etapa rainha da 112.ª edição vai terminar, já depois de escalados o Glandon e a Madeleine, com esta jornada a anteceder nova ‘odisseia’ entre Albertville e La Plagne, que não aparecia no percurso desde a vitória de Lance Armstrong em 2002 e onde a meta coincide com uma contagem de categoria especial – há outra, no Col du Pré, a meio da tirada.

A 20.ª etapa promove o regresso à ‘calma’, sendo ideal para que os habitués das fugas tentem a sua sorte antes da chegada a Paris, em 27 de julho.