Pogi mudou o calendário, para disputar as suas adoradas clássicas, mas o resultado foi o mesmo: um domínio absoluto, expresso na vitória autoritária no Critério do Dauphiné, à frente do seu arquirrival, que deixou em evidência a décalage existente hoje em dia entre o esloveno da UAE Emirates e Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike).
Só uma catástrofe – ou um dos habituais clamorosos erros táticos da UAE Emirates - impedirá o campeão mundial de fundo de revalidar o título em 27 de julho, em Paris, e assim igualar os quatro triunfos do britânico Chris Froome e ficar a apenas um dos recordistas Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Indurain.
Aos 26 anos, aquele que já é um dos melhores ciclistas de sempre, a par de Merckx, não tem rival à altura no pelotão, nem mesmo o homem com quem tem alternado nos dois primeiros lugares do pódio nos últimos cinco anos: se Pogacar competiu, com sucesso, de fevereiro a junho, o dinamarquês escondeu-se, após uma queda no Paris-Nice, em março, e só regressou no Dauphiné.
O campeão de 2022 e 2023 chega ao Tour apenas com a vitória na Volta ao Algarve no currículo da época e com a derrota frente a Pogacar no Dauphiné como memória mais recente, depois de ter preferido recuperar das mazelas da sua queda em estágios em altitude, refugiado no entorno da sua equipa, em vez de ganhar ritmo em competição.
É certo que o oito da formação neerlandesa, com o decisivo Wout van Aert, o campeão do Giro-2025 Simon Yates e os norte-americanos Sepp Kuss, vencedor da Vuelta-2023, e Matteo Jorgenson, assusta, mas a qualidade da Visma-Lease a Bike encontra paralelo no elenco da UAE Emirates, que tem um super João Almeida como principal escudeiro do esloveno.
Um dos melhores voltistas do pelotão atual, como atestam os triunfos consecutivos nas Voltas à Suíça, Romandia e País Basco, um feito inédito no ciclismo mundial, o quarto classificado do ano passado seria um claro favorito ao pódio final se não estivesse na equipa de Pogi.
Ainda assim, e se Pogacar for tão dominador como na passada edição, em que ganhou seis etapas, Almeida poderá muito bem estar entre os três melhores no final, até porque tem demonstrado estar num nível muito superior a Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), o terceiro do Tour-2024 e duplo campeão olímpico, ou Primoz Roglic.
Se o esloveno da Red Bull-BORA-hansgrohe não voltou a competir desde que abandonou o Giro, devido à enésima queda em anos recentes – desistiu das últimas três edições da Grande Boucle em que participou -, o belga não tem uma equipa à altura para as montanhas, dada a ausência do lesionado Mikel Landa, e esteve aquém do esperado no Dauphiné, acabando em quarto, atrás da ‘sensação’ Florian Lipowitz.
O alemão vai estrear-se no Tour e parece ser um sólido plano B caso Roglic volte a falhar, ao contrário do que acontece na INEOS, que tem Carlos Rodríguez como único candidato a um lugar na geral – na edição da despedida, Geraint Thomas, o campeão de 2018, deverá estar afastado da luta pelos 10 primeiros.
Numa Volta a França com várias baixas de peso entre eternos candidatos, como as de Richard Carapaz (EF Education-EasyPost), Tao Geoghegan Hart (Lidl-Trek) ou David Gaudu (Groupama-FDJ), ciclistas como Ben O’Connor (Jayco AlUla), Enric Mas (Movistar), Felix Gall( Decathlon AG2R La Mondiale) ou o promissor Lenny Martinez (Bahrain Victorious) podem intrometer-se na luta pelo top 10.
Antes de ser conhecido o sucessor de Pogacar no palmarés dos vencedores e de uma última semana mortífera nos Alpes, os homens mais rápidos terão a sua oportunidade, com o ansiado duelo entre Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck) e Jonathan Milan (Lidl-Trek), em estreia na Grande Boucle, pelo título de melhor sprinter do mundo finalmente a acontecer na ‘maior montra’ do ciclismo mundial.
A 112.ª Volta a França, na qual Nelson Oliveira (Movistar) vai alinhar, também tem várias oportunidades para puncheurs, com o público local, que há 40 anos não vê um ciclista francês como vencedor, a torcer pelo regresso à ribalta de Julian Alaphilippe, o antigo bicampeão mundial de fundo que valeu um convite à estreante Tudor.