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Volta: Anicolor-Tien21 só depende de si para ganhar 86.ª edição

Artem Nych celembra conquista do 5.º Grande Prémio Douro Internacional
Artem Nych celembra conquista do 5.º Grande Prémio Douro InternacionalCiclismo +TV

O campeão Artem Nych é, inevitavelmente, o favorito a ganhar a 86.ª Volta a Portugal, mas a irregularidade do ciclista russo na montanha pode jogar contra si num percurso delineado para escaladores, oferecendo uma oportunidade a Alexis Guérin.

Será pouco arriscado apostar que a Anicolor-Tien21 vai ganhar esta edição da prova rainha do calendário nacional, tal foi o domínio dos homens vestidos de amarelo fluorescente durante a temporada, mas a Volta é a Volta e os comandados de Rúben Pereira já sabem o que é perdê-la clamorosamente após terem vencido tudo antes.

Nych é o principal favorito, depois de no ano passado ter fugido para a vitória: após um início de Volta desastroso, em que perdeu tempo quer no Observatório de Vila Nova, quer na Torre, o russo integrou duas fugas decisivas, incluindo a numerosa escapada da penúltima etapa, que o Feirense, do então camisola amarela Afonso Eulálio, não teve meios para anular.

Rumo à Senhora da Graça, carimbou o triunfo na geral, num desfecho para o qual foi crucial Frederico Figueiredo, que também o tinha ajudado a vencer em Boticas e que, entretanto, foi suspenso provisoriamente por anomalias no passaporte biológico, tal como Luís Mendonça, que também integrava o sete da equipa flúor na passada edição.

A inconsistência na montanha – também em 2023, ano em que foi quarto, perdeu tempo nas principais etapas a subir – tem sido a grande lacuna de Nych na prova rainha do calendário nacional e pode ser explorada por trepadores puros como Jesús David Peña (AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense) ou Jonathan Caicedo (Petrolike), mas também pelo seu colega Alexis Guérin, com quem repartiu as vitórias nas principais corridas da época.

O francês parece ser mesmo o único capaz de rivalizar com o campeão em título, prevendo-se nova luta fratricida na Anicolor-Tien21, uma realidade comum nos últimos anos e que nem sempre teve um final tão feliz como em 2022, quando a equipa ocupou os três lugares do pódio final, o primeiro com Mauricio Moreira.

Presente nesta edição, o uruguaio dificilmente estará na discussão da geral, após uma época mais do que apagada – completou apenas 10 dias de competição e só terminou a Prova de Abertura e o Grande Prémio Abimota -, que foi o pior desfecho para a polémica transferência da estrutura de Águeda para a Efapel.

Se o também vice da edição de 2021 não comparecer, dificilmente a equipa liderada por José Azevedo poderá aspirar ao pódio, já que tanto Tiago Antunes como Joaquim Silva falharam sempre naquele que é o grande objetivo da época das equipas portuguesas.

Assim, o grande adversário dos homens da Anicolor-Tien21 será mesmo Jesús David Peña, o trepador colombiano que chegou ao AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense já no decurso da temporada e foi o único que rivalizou com os ciclistas da Anicolor-Tien21, nomeadamente no Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela e no Troféu Joaquim Agostinho, ambos conquistados por Guérin.

Contra si, o corredor de 25 anos, que representou a Jayco AlUla, do WorldTour, nas três temporadas anteriores e conta com um conjunto de talentosos jovens, como Afonso Silva e Miguel Salgueiro, para apoiá-lo, tem a inaptidão para contrarrelógios, um problema sentido também pelo explosivo Jonathan Caicedo.

Num percurso excessivamente duro, com cinco chegadas em alto, seis etapas de média/alta montanha e um permanente sobe e desce mesmo nas tiradas alegadamente direcionadas para os homens mais rápidos, o trepador equatoriano da Petrolike é um nome a ter em conta, tal como o seu colega mexicano Edgar David Cadena, que esta época já venceu a Oberösterreich Rundfahrt, na Áustria.

Embora o número de quilómetros de contrarrelógio esteja reduzido ao mínimo nesta edição, que abre, na quarta-feira, com 3,4 quilómetros de prólogo na Maia e encerra, em 17 de agosto, com 16,7 de exercício solitário em Lisboa, será um problema para estes três ciclistas, ao contrário do que é para António Carvalho, um crónico candidato ao pódio da Volta.

Terceiro classificado em 2022 e 2023, o corredor da Feirense-Beeceler esteve aquém do esperado na passada edição, na qual perdeu a liderança da equipa para Eulálio, o jovem companheiro para quem acabou por trabalhar.

Contudo, Carvalho nunca pode ser excluído da lista de candidatos ao pódio da prova que se tornou, desde há vários anos, o seu único objetivo na temporada.

Na ausência do suíço Colin Stüssi (Vorarlberg), o campeão de 2023 e vice de 2024, e perante um pelotão fraco de apenas 16 equipas, sendo que só uma delas, a Caja Rural do campeão olímpico Iúri Leitão, pertence ao segundo escalão do ciclismo mundial, dificilmente outros nomes poderão intrometer-se na luta pela vitória na geral.

Com o ciclismo nacional a atravessar uma profunda crise - de qualidade e de valores -, a juventude de Lucas Lopes (Rádio Popular-Paredes-Boavista) pode ser uma lufada de ar fresco, assim como a combatividade da Credibom-LA Alumínios-MarcosCar, que no ano passado conseguiu um inesperado quarto lugar com Gonçalo Leaça.

Aconteça o que acontecer, esta 86.ª edição irá para a estrada quase despojada de referências, após os sucessivos escândalos de dopagem que sacudiram o ciclismo nacional, e sedenta de descobrir novos talentos.