Quando cruzou a meta, instalada no ponto mais alto de Portugal continental, com evidentes dificuldades respiratórias, o trepador colombiano da AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense era a imagem do desalento: os longos minutos que passou sentado no asfalto, sem olhar ou falar para ninguém, representaram a silenciosa assunção da derrota, após ter perdido mais de um minuto para Nych, numa sétima etapa que era perfeita para si.
Depois de dois anos a sofrer na Torre, o campeão em título foi segundo, a 33 segundos de Jonathan Caicedo, que veio da fuga para ser um ator secundário no show da Anicolor-Tien21, que já tem Alexis Guérin na vice-liderança da geral, a 46 segundos do seu companheiro.
“No ano passado, tinha muito boas pernas e, no início desta etapa, caí e fraturei a clavícula. E, por isso, este ano foi gratificante ganhar a etapa. Estou contente por mim e pela equipa. Temos de continuar a trabalhar que, no final, a recompensa chega sempre”, resumiu o equatoriano da Petrolike, que cumpriu a tirada em 4:49.03 horas.
Vencedor de uma etapa no Giro 2020, Caicedo acrescentou uma nova alínea ao seu currículo, depois de aparecer do nada – pelo menos na emissão televisiva – para ultrapassar o seu ex-companheiro de fuga Gonçalo Leaça (Credibom-LA Alumínios-MarcosCar), terceiro na etapa rainha da 86.ª edição, a 46 segundos.
Grande favorito à vitória na Torre, Peña foi apenas oitavo, a 1.39 minutos do vencedor, descendo a terceiro da geral, a distantes 1.20 de Nych.
Com apenas mais uma chegada de montanha, no sábado, no alto do Montejunto, só com um milagre o colombiano ganhará a Volta, sendo até mais provável que saia do pódio no crono do último dia, caso não conquiste mais margem para Byron Munton (Feirense-Beeceler), o antigo campeão sul-africano de contrarrelógio (2022), para quem tem apenas um segundo de vantagem.
A jornada vitoriosa de Caicedo começou ainda antes de estarem cumpridas duas dezenas de quilómetros dos 179,3 entre o Sabugal e o alto da Torre, com o equatoriano a fugir num grupo onde estava o camisola da montanha Hugo Nunes (Credibom-LA Alumínios-MarcosCar), acompanhado dos colegas Diogo Narciso e Gonçalo Leaça, quarto classificado do ano passado.
Com eles estavam também os lusos Bruno Silva (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), André Carvalho (Efapel), Pedro Andrade (Feirense-Beeceler), Gonçalo Amado (Rádio Popular-Paredes-Boavista) e Gaspar Gonçalves (Gi Group-Simoldes-UDO), além de Alex Díaz (Caja Rural), Cade Bickmore (Project Echelon), Adam Lewis e Conn McDunphy, da Skyline.
Os fugitivos chegaram a ter uma vantagem de quase 10 minutos, com Leaça, que era 28.º à partida a 6.38 minutos de Nych, a ser o virtual camisola amarela durante longos quilómetros.
Na contagem de montanha de Sarzedo, Nunes reforçou a sua liderança, seguindo até à Covilhã na companhia dos seus dois companheiros de equipa e de McDunphy, mas quando os 20,1 quilómetros da subida começaram, Leaça ficou sozinho na frente com pouco menos de seis minutos sobre o pelotão.
Foi a AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense a impor o ritmo na parte inicial da subida, selecionando o grupo de candidatos, mas foi Pedro Silva o primeiro a fazer a diferença quando atacou a 12 quilómetros do alto, sendo seguido por Guérin.
O francês não conseguiu engatar no seu companheiro português, mas Nych sim: o russo acelerou e deixou para trás Peña, com o duo da Anicolor-Tien21 a fazer um verdadeiro contrarrelógio por equipas, ao qual se juntou ainda Guérin.
Esperava-se que fosse Peña o grande dominador na Torre, mas o trepador colombiano ‘sucumbiu’ à mais mítica das montanhas nacionais e à superioridade da equipa fluorescente, absolutamente arrasadora na sétima tirada.
Terceiro na geral à partida para a etapa ‘rainha’ da 86.ª edição, Munton tentou salvar o pódio, colocando Andrade a trabalhar para ‘limitar’ os estragos, num grupo onde seguia o líder do Tavira, Tiago Antunes (Efapel), Adrián Bustamante (Gi Group-Simoldes-UDO) e Jesús del Pino (Aviludo-Louletano-Loulé), mas não Lucas Lopes (Rádio Popular-Paredes-Boavista), que quebrou mas segurou a liderança da juventude.
Leaça entrou nos derradeiros 3.000 metros com menos de dois minutos de vantagem para Nych e Guérin – Silva já tinha descolado – e Caicedo nas costas. O trepador equatoriano acelerou a 2.000 metros do alto e não mais parou até à vitória, com o campeão em título a deixar também para trás o seu colega francês para cimentar o estatuto de incontestável líder da Anicolor-Tien21.
Na sexta-feira, a luta dos homens da geral entrará em pausa para dar lugar à última oportunidade para os ciclistas mais rápidos, no final dos 178,2 quilómetros entre Ferreira do Zêzere e Santarém.