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Vuelta: Causa palestiniana foi tão protagonista como Vingegaard nas ruas espanholas

Jonas Vingegaard venceu uma edição da Vuelta marcada pelas manifestações pró-Palestina
Jonas Vingegaard venceu uma edição da Vuelta marcada pelas manifestações pró-PalestinaOscar DEL POZO / AFP
As constantes manifestações pela causa palestiniana, e contra a participação da Israel Premier Tech na Volta a Espanha, dominaram a corrida, que este domingo acabou sem 21.ª etapa devido a uma causa que teve tanto protagonismo como o vencedor, Jonas Vingegaard.

O dinamarquês da Visma-Lease a Bike venceu a corrida, juntando-a a duas Voltas a França no palmarés, e bateu o português João Almeida (UAE Emirates) numa corrida constantemente marcada pela Palestina.

O próprio falou disso, um dos exemplos mais vocais, para categorizar o que se passa na faixa de Gaza, alvo de intervenção militar massiva por parte de Israel, como “horrível”, explicando que compreendia os manifestantes, “desesperados” para que seja prestada mais atenção à situação humanitária naquele país.

A chegada em formato de ‘procissão’ de hoje, a um circuito em Madrid invadido por manifestantes que derrubaram as baias de proteção e acenaram bandeiras e faixas da Palestina, denunciando o “genocídio” levado a cabo por Israel, foi a terceira a ser afetada.

Desta feita, não se correu mesmo, mas antes, na 16.ª etapa, foi estabelecida uma meta improvisada, impossibilitada a chegada a Castro de Herville, dias depois de outra chegada ter ficado sem vencedor atribuído pelos mesmos motivos.

Ao contrário de outras modalidades, do futebol ao pavilhão que acolhe o voleibol ou o andebol, o ciclismo partilha com as manifestações cívicas o mesmo espaço de ação, a rua, tendo encontrado na Vuelta uma competição a decorrer num país com uma opinião pública mais favorável do que noutras nações à causa palestiniana.

Isso mesmo ficou patente quando, aos primeiros problemas e denúncias de desconforto por parte da Israel Premier Tech, um diretor técnico da organização explicou que não poderia expulsar a equipa, mas que esta se podia retirar, solução também aventada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha.

A causa já tinha surgido ao longo de todo o último ano nas estradas durante corridas, como na Volta a Portugal ou na Volta a França, mas nunca com esta proeminência, além do enfoque sem reservas dado pelas cadeias de televisão que transmitiram a prova.

O ‘braço de ferro’ levou a equipa a manter-se em prova, ainda que com equipamentos descaracterizados, procurando escapar, e ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a dar-lhes força, contra “o ódio e a discriminação”, perante críticas de outros quadrantes.

Em uma das maiores manifestações políticas num evento desportivo nos últimos anos, e o maior relativo à Palestina, a Vuelta voltou a ser o que tantas outras competições foram, dos Jogos Olímpicos Munique1972, o ‘black power’ no México1968 ou as ‘guerras frias’ de boicotes e exclusões.

O Governo espanhol e a organização da prova sugeriram à equipa israelita que se retirasse da Vuelta, o que esta recusou fazer para não abrir um “precedente perigoso”, e a União Ciclista Internacional (UCI), que em 2021 baniu equipas russas e ‘retirou’ a bandeira dos ciclistas daquela nacionalidade, condenou os incidentes, sem tomar qualquer decisão.

As forças israelitas têm em curso uma ofensiva na Faixa de Gaza que causou mais de 64.600 mortos no território governado pelo Hamas desde 2007, após um ataque do Hamas no sul de Israel, em 07 de outubro de 2023.

Israel, que anunciou uma operação para tomar a cidade de Gaza, no norte do enclave, tem sido acusado de genocídio e de usar a fome como arma de guerra, que nega.

A ONU declarou em agosto uma situação de fome no norte de Gaza, o que acontece pela primeira vez no Médio Oriente.