A prova, que cruza pela primeira vez fronteiras, ganhou destaque nas últimas edições com a presença do ciclista dinamarquês Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), duas vezes vencedor da Volta a França (2022 e 2023) e bicampeão em título da prova, e em 2025 prolonga-se entre 26 de fevereiro e 02 de março para poder acolher a etapa suplementar, que se junta às quatro já habituais nas províncias da Galiza.
Em declarações à Lusa, à margem da conferência de imprensa de apresentação da etapa portuguesa, o diretor da prova, Ezequiel Mosquera, sublinhou a "irmandade" entre os dois países ibéricos e mais particularmente da região nortenha portuguesa com a comunidade autónoma espanhola.
"Temos um fio condutor que une Portugal e a Galiza, que é o caminho de Santiago. Daí partiu o nome, a ideia e a visão. É uma prova jovem, com muita juventude, entrámos num calendário que não é fácil, mas de forma muito rápida, e sair da fronteira era o passo seguinte. Portugal deu-nos esta oportunidade, Maia, Matosinhos e o Norte, de sair para fora e vai ser parte da nossa identidade no futuro", explicou o ex-ciclista.
O próximo passo e grande objetivo para a evolução da prova será subir de categoria, para o circuito UCI ProSeries, algo que Ezequiel Mosquera acredita já ser devido.
"Com toda a humildade do mundo, achamos que a categoria nos fica pequena, por tudo o que o evento representa, pela dimensão transnacional, pelos vencedores que já teve. Para nós, é inevitável, conseguimos de alguma forma o mais difícil, dar dimensão global a uma prova muito jovem e é preciso que esteja paralela a uma dimensão desportiva. É um prejuízo a todos os níveis", reiterou.
Ruben Guerreiro (Movistar) teve o único pódio português na classificação geral d'O Gran Camiño, em 2023, tendo ficado na oitava posição na passada edição.
"O ciclismo português, sem ter muita quantidade, tem uma qualidade muito boa, grandes ciclistas. No caso do Ruben Guerreiro, em 2023, 'disparou' nesta prova, não sei se estará este ano na partida, mas quem estiver, estará no 'top'", admitiu Mosquera, numa altura em que diz "estar a momentos de fechar" o alinhamento para a edição de 2025.
O ex-ciclista Óscar Pereiro, vencedor da Volta a França de 2006, também marcou presença e mostrou-se orgulhoso por estar na organização que permitiu esta inédita primeira etapa, sublinhando que Portugal foi o seu "país de acolhimento" para a sua carreira e de muitos dos seus colegas galegos.
"Portugal, para nós, é muito mais do que um país. É o país de acolhimento, que nos deu a oportunidade de começar a nossa carreira como ciclistas profissionais. Sempre que falam de Portugal, sinto como se fosse parte de mim. Quando ganhou o Europeu de futebol, celebrei como se fosse mais um português. Portugal foi um dos 'culpados' pela minha vitória na Volta a França", recordou à Lusa.
Nesse sentido, fez também um balanço do panorama do ciclismo luso, quer a nível nacional como internacional, que faz questão de acompanhar.
"Do ponto de vista internacional, os portugueses estão melhor representados nas equipas portuguesas do que nunca - Rui Costa, João Almeida, Ruben Guerreiro e Ivo Oliveira. Na história, já teve grandes corredores, mas nunca em tanta qualidade. A nível interno, as equipas estão para voltar a estar onde estavam no meu tempo. Em 2000, 2001, quando estive em Portugal, o nível era incrível. A paixão dos aficionados continua igual, mas há trabalho a fazer para voltar a esse patamar", analisou.
A conferência de imprensa contou também com a participação, entre outras personalidades, do recém-eleito presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Cândido Barbosa, da presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro, e do vereador municipal da Maia com a tutela do Desporto, Hernâni Ribeiro.