Thierry Henry é sem dúvida um dos melhores futebolistas que o mundo alguma vez viu, mas há uma pequena - ou grande, dependendo do local onde está sentado - mancha na sua carreira.
Em 2009, França defrontou a República da Irlanda num embate a duas mãos que ia decidir um lugar no próximo Campeonato do Mundo.
O triunfo gaulês na primeira mão, em Dublin, por 1-0 com Nicolas Anelka fazer o golo da vitória não se mostrou grande surpresa. Contudo, a segunda mão já trouxe mais emoção, com os irlandeses a vencerem os campeões do mundo de 1998, no Stade de France, por 1-0, com um golo de Robbie Keane.
Com a eliminatória empatada foi preciso recorrer ao prolongamento e aí as coisas já não correram também para o conjunto da República da Irlanda. William Gallas marcou a 17 minutos do fim e levaria os gauleses para o Campeonato do Mundo de 2010.
Contudo, algo saltou à vista. O defesa francês foi assistido por Henry, que manuseou a bola com a mão, para a manter em jogo, antes de a endossar ao colega de seleção.
Na altura, foi fortemente contestado pela selecção irlandesa, e depois de o jogo ter terminado a Federação e o Governo da República da Irlanda queixaram-se à FIFA.
O facto de Henry ter manobrado a bola com a mão teve como consequência direta a ausência dos irlandeses do Campeonato do Mundo na África do Sul. A vitória nos penáltis (seria o critério de desempate caso o resultado não sofresse alterações no prolongamento) não era garantida, mas o que é certo é que os irlandeses nunca tiveram oportunidade de descobrir.
O lance foi apelidado na imprensa internacional como Le Hand of God, uma alusão ao golo marcado por Maradona a Peter Shilton, nos quartos de final do Mundial-1986, e teve tal eco que Henry chegou mesmo a considerar retirar-se do futebol internacional.
Karma, ou não, o que é certo é que o Mundial-2010 não viria a correr bem à seleção francesa que caiu com estrondo na fase de grupos (derrotas com África do Sul e México e um empate com Uruguai), sendo que Henry jogou apenas 45 minutos de futebol e, aos 33 anos de idade, anunciou que tinha jogado o seu último jogo pelo Les Bleus. Faria ainda mais quatro anos antes de pendurar definitivamente as botas.
O antigo herói do Arsenal nunca chegou a ser punido pela FIFA, mas este incidente é muitas vezes considerado a grande alavanca para a implementação do VAR.