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Rali de Portugal: Ex-campeão Kankkunen testou cadeira de rodas da APN

Ex-campeão de ralis Juha Kankkunen
Ex-campeão de ralis Juha KankkunenLuca Barsali/ZUMA Press Wire/Shu / Shutterstock Editorial / Profimedia
O ex-piloto de ralis Juha Kankkunen visitou esta sexta-feira o stand da Associação Portuguesa de Neuromusculares e experimentou uma cadeira de rodas elétrica, destacando a importância de sensibilizar para a realidade da mobilidade reduzida.

“Foi uma experiência nova. Nunca tinha conduzido uma cadeira destas. Já tive muitos acidentes e duas cirurgias à coluna. Na última disseram-me para parar. Um dos ossos esteve quase a partir. Ainda consigo mover-me bem. Tive alguma sorte, acho eu”, afirmou.

Sobre os acidentes que enfrentou, o finlandês recordou o que foi a sua vida dentro de um carro de competição. Durante mais de duas décadas de carreira, acumulou quilómetros e situações limite.

“Já tive muitos. Mas pensemos assim: ao longo de 25 anos, fiz dois milhões e meio de quilómetros, sempre a conduzir e a saltar. No fundo, estar dentro de um carro de rali é estar permanentemente num acidente. É esse o nível de exigência”, apontou.

Kankkunen esteve em destaque no Rali de Portugal em diferentes décadas, vencendo em quatro ocasiões. A ligação à prova portuguesa mantém-se forte, tanto pelos resultados como pelas memórias.

“Ganhei aqui quatro vezes. Duas no Campeonato do Mundo, outra com o Toyota Corola, quando não contava para o Mundial. Mas a melhor memória talvez seja de 2010, quando venci o Rali Histórico no Algarve com o Ford Escort PDA”, contou.

Sempre bem-humorado, o antigo campeão do mundo acrescentou: “Sempre fui bem-sucedido aqui. É sempre bom regressar. Portugal é um sítio especial para mim”.

Durante a visita ao stand da associação, na Exponor, refletiu sobre a mobilidade e a importância do contraste entre mundos aparentemente distantes: a velocidade de um carro de rali e a falta de mobilidade de quem depende de ajudas técnicas para o dia-a-dia.

“Sentar-se numa cadeira elétrica pode ser, para quem vive com estas limitações, tão libertador como sentar-se num carro de corrida. É uma liberdade diferente, mas igualmente significativa”, comentou, depois de experimentar um dos modelos elétricos da exposição.

Ana Gonçalves, vice-presidente da Associação Portuguesa de Neuromusculares, contextualizou a presença da instituição no evento como uma oportunidade para dar visibilidade à causa e informar o público.

“Sabemos o que o rali representa. É velocidade, superação, energia. Mas quisemos mostrar o oposto: pessoas que estão sentadas ou deitadas mais de oito horas por dia e dependem de terceiros para quase tudo”, explicou.

A associação representa doenças genéticas raras e progressivas. Esta sexta-feira reúne cerca de 1.200 associados. Apesar dos avanços técnicos, muitas das dificuldades continuam.

“Trabalhamos com equipas multidisciplinares porque cada patologia é diferente. A evolução varia de pessoa para pessoa. Sensibilizar o público é parte essencial do nosso trabalho”, concluiu.

Fundada há 33 anos, a associação surgiu da necessidade de reunir doentes e famílias num contexto de pouca informação e quase ausência de apoios técnicos.

“Tudo em nós é músculo. Não se trata só de deixar de andar. Estas doenças afetam todo o corpo. Trabalhamos com equipas multidisciplinares porque a evolução é diferente em cada pessoa. Há mais de 300 patologias identificadas no grupo das neuromusculares”, explicou.