Em declarações à agência Lusa, na Arábia Saudita, onde decorre a 47.ª edição do Rali Dakar de todo-o-terreno, o diretor da equipa oficial da Honda na competição vê com algum desânimo o decréscimo de pilotos portugueses nas duas rodas.
“Portugal é um país pequeno. O TT em Portugal perdeu alguma preponderância pelo nível económico. Antigamente, saíam todos os dias pilotos do enduro e do motocrosse com potencial e podiam vir para aqui. Isso acontece cada vez menos. Os que continuam a andar na frente em Portugal são pilotos já com muitos anos e não há pilotos novos. Isso é um dos problemas que faz com que não haja mais pilotos portugueses no Dakar. Isso e a falta de dinheiro”, avaliou o antigo piloto algarvio.
Ruben Faria fez a sua estreia na prova nas motas, tendo terminado na segunda posição em 2013, apenas atrás do francês Cyril Després, de quem era aguadeiro.
Em 2018 participou em automóvel, como navegador de André Villas Boas, atual presidente do FC Porto. A aventura não chegou ao fim, devido a uma aterragem mais dura numa duna, que provocou uma lesão nas costas ao antigo treinador dos portistas.
A partir do ano seguinte, Ruben Faria tornou-se responsável pela equipa da Honda, com a qual já conquistou a prova por três vezes, em 2020, 2021 e 2024.
Mas se a categoria das motas era aquela que reunia mais participantes lusos, na edição deste ano eram apenas três à partida, e nenhum deles na Honda.
“O cenário não vai mudar tão cedo. Há países a crescer, como os Estados Unidos e a Austrália, e não estou a ver Portugal a acompanhar”, explicou à Lusa.
Segundo diz, “em Portugal, o TT está a perder carisma e jovens talentos”.
“Ao contrário, há países que estão a investir mais e a surgir com mais jovens. O Dakar tem cada vez melhor imagem e isso faz com que o TT seja cada vez mais atrativo. E cada vez se paga melhor”, frisou.
Uma situação diferente à registada no crescente número de elementos de assistência nas equipas, que faz com que se ouça falar cada vez mais português no bivouac (acampamento).
Na Honda, por exemplo, 12 dos 42 elementos são portugueses. Ruben Faria explica que isso acontece, “em primeiro lugar, pela confiança”.
“Quando cheguei, a equipa era maioritariamente constituída por espanhóis. Agora, a maioria não são portugueses mas o português não tem medo de trabalhar, de se sujar, e trabalha bem. Não há aqui um que esteja por ser meu amigo. Ainda sou mais exigente com os portugueses, porque sei das suas capacidades e eles são bons”, garante o algarvio, que conta com quatro vitórias em etapas nesta prova enquanto piloto (a segunda em 2006, a primeira em 2007 e as 14.ªs em 2010 e 2013).
Com o contrato com a marca nipónica a acabar no final do Dakar, Ruben Faria garante estar “motivado para continuar”, rematando a conversa sem certezas: “Vamos ver”, conclui.