Das tragédias pessoais à mudança de bandeira: o percurso de Yannick Alexandrescou no ténis

Yannick Alexandrescou
Yannick AlexandrescouČTK / imago sportfotodienst / Paul Zimmer

Com apenas 17 anos, Yannick Alexandrescou ocupa o 4.º lugar mundial em juniores e tomou uma decisão que causou grande impacto no ténis europeu: deixou de representar a Roménia. Desde dezembro, o jovem compete sob as cores de França, país com o qual mantém uma ligação profunda, tanto desportiva como familiar. A sua história, marcada por perdas sucessivas e momentos-limite, foi retratada num extenso perfil publicado pelo L’Équipe, sob o título “A dolorosa história de Yannick Alexandrescou, a nova esperança do ténis francês”.

A mudança radical na vida do jovem desportista ocorreu no início de 2020, com o início da pandemia. Considerado o líder da geração romena de 2008, Yannick participou em fevereiro no torneio internacional U12 de Auray, na Bretanha. Foi aí, em pleno jogo, que o destino interveio de forma brutal.

“Tinha acabado de ganhar a bola de jogo na segunda ronda quando o meu pai sofreu um ataque cardíaco nas bancadas. Foi reanimado no local e depois levado para o hospital, onde foi operado".

Apesar de o seu pai, o conhecido comentador de Fórmula 1 Miki Alexandrescu, se encontrar em estado grave, Yannick continuou a competir, apoiado pelo seu padrinho, chamado de urgência. A sua mãe ficou no hospital. Num contexto emocional extremo, o adolescente chegou até às meias-finais.

Uma perda irreversível

Após o regresso à Roménia, as notícias pareciam animadoras: o seu pai tinha sido transferido para um hospital na região de Paris e o seu estado melhorava. O desfecho, porém, foi trágico.

“Sentia-se melhor e estava prestes a ter alta a qualquer momento, mas sofreu um novo ataque durante a noite e morreu a dormir". Tinha 68 anos.

Anos negros: golpe após golpe

O isolamento imposto pelas restrições sanitárias agravou o sofrimento. Sem treinos, sem competições, Yannick atravessou um dos períodos mais difíceis da sua vida. Ainda assim, afirma sem hesitar: “Nunca pensei em desistir do ténis”.

Em 2021, as tragédias sucederam-se. A sua meia-irmã, o marido desta e o filho de ambos, de um ano, morreram num acidente de avião. Pouco depois, a avó materna, a pessoa a quem estava mais ligado, também faleceu.

Sobre tudo isto, o jovem fala com uma maturidade surpreendente:

“Foi uma fase extremamente difícil, sobretudo com esta idade, situações que não desejo a ninguém, mas que acontecem na vida. É preciso aceitar estes factos que não dependem de nós, ser suficientemente forte para os ultrapassar e transformar estes acontecimentos infelizes em motivações extra".

O legado de “Miki” Alexandrescu

A ligação ao ténis foi-lhe transmitida pelo próprio pai, um grande apaixonado por este desporto. O nome Yannick não é por acaso: vem de Yannick Noah. Radicado em França desde os anos 80, Miki Alexandrescu tinha uma relação especial com o país, onde obteve a cidadania, e os seus pais lecionaram na Sorbonne.

As primeiras bolas foram batidas num apartamento em Bucareste.

“Ele adorava este desporto, que praticava com frequência. Desde que me trouxe uma raquete pequena do GP da Bélgica, em 2011, tive-a sempre nas mãos e batia constantemente na nossa casa em Bucareste: nas paredes, nas janelas, nas portas, em todo o lado onde conseguia, com uma pequena bola vermelha. No apartamento ao lado vivia o embaixador da Coreia, que já não suportava o barulho; felizmente, não era da Coreia do Norte...”.

O ténis como duelo pessoal

A relação pai-filho construiu-se também na competição.

“Desafiou-me a conseguir 100 pancadas consecutivas em casa antes de ir para um campo de ténis verdadeiro. No fim, consegui 800. E assim começou tudo, aos quatro anos. Rapidamente entregou-me a um treinador, porque entre nós, no campo, era complicado. Gritávamos muito. Só queria uma coisa: vencê-lo".

Quando lhe perguntam o que o define em campo, responde sem rodeios: “Faço tudo para ganhar. Tudo, tudo...”.

Descreve o seu jogo como agressivo, com o seu reverso como principal arma, inspirado em David Goffin e Diego Schwartzman.

“Sou um adversário bastante desagradável em campo, tóxico. Sei que não é a melhor imagem. Mas faço tudo o que posso. Grito, peço o fisioterapeuta... Não tenho muito fair-play, digamos. Os outros sabem que corro bem e muito e que vão ter de me vencer, porque não vou ceder...”.

Objetivos para 2026

Terminar a época no top 10 mundial de juniores garante-lhe acesso a oito wild cards em torneios Challenger. O objetivo é ambicioso: “Gostava de chegar ao top 500 ATP no próximo ano".

Prepara-se no Centro Nacional de Ténis de França, sob a orientação de Stéphane Huet, treinador escolhido para si por Ivan Ljubicic.

“Quero dar tudo o que tenho para fazer os franceses felizes e orgulhosos. Mal posso esperar para ver se vou conseguir estar à altura".