Paul Scriven, membro da Câmara dos Lordes do Reino Unido, defendeu numa conferência de imprensa organizada pelo Bahrain Institute for Rights and Democracy (BIRD), sediado em Londres, que o desporto se encontrava numa bifurcação.
"Há dois rumos que a Fórmula 1 pode seguir. Um é o vazio moral pelo qual os líderes e administradores parecem ir. O outro é um caminho que alguns pilotos parecem querer tomar... aqueles que percebem que podem usar a sua plataforma e a sua modalidade não só para o bem do desporto, mas também para a mudança, e que não podem ignorar os abusos dos direitos humanos no país em que estão a pilotar", sustentou.
Lewis Hamilton, piloto da Mercedes, foi um dos que já por várias vezes defendeu os abusos de direitos humanos e alertou para questões de injustiça racial.
A FIA, por seu lado, atualizou o código de conduta vigente, em dezembro passado, obrigando os pilotos a pedirem autorização escrita prévia quando pretendam fazer "comentários ou comunicados políticos religiosos e pessoais".
Hamilton, que em 2021 afirmou que a Fórmula 1 não pode ignorar as questões associadas aos países em que realiza eventos, prometeu continuar a falar sobre os temas que considera pertinentes, à semelhança de outros pilotos, que tomaram a mesma posição.
O Bahrain acolhe o Grande Prémio que abre a temporada, no domingo, seguindo-se a prova na Arábia Saudita, a 19 de março.
A BIRD sublinhou que os direitos humanos nos dois países têm sido "cada vez mais espezinhados" desde os Grandes Prémios do ano passado e acusou a Fórmula 1 de ajudar a "facilitar os abusos através da lavagem desportiva".
A organização pediu ainda uma auditoria independente para que se avalie o papel das corridas nas violações de direitos humanos.
A acusação de "lavagem desportiva" está associada a países que se considera que utilizam o desporto como forma de melhorar a imagem manchada que têm perante o estrangeiro.
A BIRD revelou ter enviado uma missiva a Stefano Domenicali, diretor executivo da Fórmula 1, pedindo-lhe que se encontre com as vítimas e que use "toda a influência disponível" para procurar a libertação dos ativistas que estão detidos. Para além disso, a organização leu um comunicado em nome de famílias de 12 prisioneiros que enfrentam pena de prisão no Bahrain, enquanto o governo do país garantiu "apoiar ativamente o papel que a Fórmula 1 pode ter em dar foco aos direitos humanos nos países em que opera".
Scriven sustentou ainda que os pilotos teriam justificação para se recusarem a correr em países que não implementassem uma estrutura ética adequada.
Já a Fórmula 1 assegurou que procura ser uma força positiva em todos os lugares onde se realizam as suas provas e que deixa clara a sua posição sobre os direitos humanos e outras questões a todos os parceiros e anfitriões.
Um porta-voz da FIA, organização que não é responsável pela elaboração do calendário, disse que esta não pode interferir nos assuntos internos de um Estado soberano, mas que não era insensível "a quaisquer dificuldades potenciais suportadas pelas pessoas em causa".
