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Jogos Olímpicos de Inverno: Raphaël Ribeiro tenta participação no bobsleigh com empurrão de Abdel Larrinaga

Raphäel Ribeiro numa prova na Noruega
Raphäel Ribeiro numa prova na NoruegaIBSF
Raphaël Ribeiro, filho de mãe portuguesa e pai sérvio radicado em França, deixou o lançamento do dardo para pilotar em bobsleigh, juntando-se a Abdel Larrinaga, barreirista de topo nacional, numa equipa rumo aos Jogos Olímpicos de Inverno Milão-Cortina de 2026.

Radicado em Annecy, o piloto de 33 anos começou a jornada no bobsleigh em 2010, primeiro pela França, mas agora compete para colocar Portugal de novo nos Jogos Olímpicos de Inverno, acompanhado pelo atleta do Sporting Abdel Larrinaga, nascido em Cuba e naturalizado português, com títulos nacionais no decatlo, pentatlo, 60 e 110 metros barreiras.

Fiz um treino em França, em pista, e fiquei apaixonado pelo bob. Desde esse momento, continuei a treinar, treinar, treinar. Queria fazer competição internacional, e iniciei-me com a França”, revela.

Sem possibilidades de cumprir objetivos dada a falta de investimento gaulês na parte mecânica, falou com Pedro Farromba, o anterior presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP), para competir com as cores nacionais.

Este engenheiro mecânico - uma vantagem na preparação do bobsleigh – acabou por apresentar um projeto: “levar uma equipa aos Jogos Olímpicos em 2026, e uma de bob a dois e outra a quatro em 2030”.

O piloto passou três anos à procura de um bom empurrador, uma vez que este “desporto particular” exige uma combinação de peso para aguentar a pressão, até se cruzar com Abdel Larrinaga, com quem começou a competir, após um período de adaptação, em 2024.

Com treino nas poucas pistas que existem pelo mundo durante a parte invernal da época, seguindo-se “musculação e velocidade” fora de temporada, os dois têm forjado uma amizade e cumplicidade dentro e fora de competição.

Um teste em Lillehammer permitiu a Ribeiro dar um choque de realidade que todos os empurradores têm, sentindo “o efeito no corpo, uma sensação especial, difícil de explicar”.

Contando uma pequena anedota: no primeiro dia, fomos visitar a pista, ver a pista. Tinha bobsleighs. O primeiro bob (em pista) que o Abdel viu foi um que virou. (...) Tive ainda mais apreensão, porque queria que gostasse, tem um potencial muito alto. Está a profissionalizar-se nesta modalidade e é cada vez melhor no empurrão”, afirma o piloto.

A qualificação para Milão-Cortina de 2026 encaixa entre 28 a 32 duplas, sendo necessário pontuar “em oito competições, em seis pistas diferentes”, para escalar num ranking em que as nações mais poderosas têm limitação de quota – a Alemanha, que “terá oito” entre os melhores, só levará no máximo três, por exemplo.

Isso quer dizer que no próximo ano temos de fazer o máximo de competições possível. Há uma parte estratégica para ver aonde ir. É muito importante ir aos Estados Unidos, onde há menos participantes. Logo, há possibilidade de marcar mais pontos. É assim que se qualificam países como o Brasil e a Jamaica”, analisa o piloto.

Apaixonado “pela parte da performance, da mecânica” da modalidade, vê a qualificação olímpica “como uma finalidade”, não só para ajudar o amigo Abdel “a ser o primeiro português a qualificar-se para Jogos de verão e de inverno”, como para atrair mais portugueses para a prática.

De resto, esta é uma modalidade “muito cara”, apelidada de “a Fórmula 1 do gelo”, pelo que tem procurado mais apoios e mais orçamento, para lá da FDIP, e Ribeiro lembra que investiu pessoalmente cerca de 40 mil euros num novo ‘bob’, patins e na caixa transportadora neste ciclo recente.

Para já, a dupla tem missão na Taça da Europa de Sigulda, na Letónia, que arranca em 30 de janeiro, num “desafio e um risco”, como avalia, à Lusa, Abdel Larrinaga.

Tenho vontade de ganhar, com a mesma mentalidade, de vencer. (...) A mentalidade é conseguir chegar aos Jogos Olímpicos de 2026”, resume.

Assinalando a “ligação ao atletismo” que a modalidade tem, com muitos antigos atletas a fazerem a conversão, espera confirmar esse “grande orgulho” da qualificação dupla, apontando a 2026 e a Los Angeles-2028, até porque “pouca gente vai conseguir” tamanho feito.

É uma coisa diferente de correr. O bob consegue atingir velocidades muito, muito altas. Estamos a falar de 100, 115 quilómetros. Ao início, custa sempre. Penso: ‘Vou cair, vou cair’. Uma pessoa até pode cair, mas levanta-se. Não serei o único”, reflete.

Tem assistido a “muita curiosidade pela malta do atletismo”, que mostra interesse em experimentar mas também lhe chama “maluco”, e ao nascimento de “uma boa equipa, o Raphaël é espetacular”.

Lembrando o “mix” ibero-americano, pelas raízes de Raphaël Ribeiro mas também a sua ligação a Cuba e a proximidade de técnicos de Itália, vai querer construir “uma equipa suficientemente preparada, que consiga dar um empurrão inicial” ante as principais potências, como Alemanha, Suíça e Itália.

Larrinaga, que competiu por Portugal nos Mundiais de atletismo em pista coberta de 2022, chegando às meias-finais, e no Europeu de seleções de 2021, quer “levar muita gente que tenha bom perfil e conseguir bons resultados”, mas entre as especificidades físicas, privilegiando atletas altos, explosivos e rápidos, acima dos 90 quilos, também é preciso lidar “com 20 graus negativos”, como na primeira vez que participou, que foi “muito difícil”.

Para já, Ribeiro e Larrinaga procuram fazer história por Portugal, sucedendo à primeira e única participação de Portugal no bobsleigh, de António Reis, João Pires, João Poupada, Rogério Bernardes e Jorge Magalhães, que competiram em Calgary-1988, quer em dupla quer em equipa de quatro.