Este 27 de março é o Dia Mundial do Teatro, uma data que nos convida a refletir sobre as artes do espetáculo e as suas múltiplas facetas. No entanto, no mundo do desporto, especialmente no futebol, também temos assistido a autênticas representações teatrais dignas dos maiores palcos. Em vez de nos limitarmos às comédias ou tragédias clássicas, nesta ocasião, vamos recordar os melhores desempenhos que deixaram a sua marca num campo de futebol: simulações, piscinas, festejos desproporcionados e momentos que poderiam ter sido reconhecidos com um Prémio Molière.
O VAR, que foi introduzido com a intenção de tornar as decisões dos árbitros mais justas e precisas, teve um impacto direto na capacidade dos jogadores de tirarem partido das simulações. Antes da sua chegada, a capacidade de enganar o árbitro era quase uma arte em si mesma, com alguns jogadores a aperfeiçoarem a teatralidade em campo para ganharem vantagem em momentos-chave. No entanto, com a monitorização das imagens e a capacidade de rever cada incidente em tempo real, as simulações perderam grande parte da sua eficácia. O VAR fez com que os jogadores pensassem duas vezes antes de "cair" tão facilmente, uma vez que as decisões são agora mais precisas e os castigos, como os cartões amarelos por tentativa de batota, são mais frequentes. Embora o futebol continue a ser uma área onde a criatividade e a estratégia desempenham um papel importante, o VAR tem sido um aliado na luta contra o excesso de teatralidade.
Veja a seguir as jogadas mais dramáticas e teatrais que já vimos no jogo bonito:
As maiores "piscinas" da história recente do futebol
Comecemos por uma que ficará na história do futebol. Na terça-feira, 24 de junho de 2014, no Estádio das Dunas, em Recife, o Uruguai enfrentou a Itália. A poucos minutos do final do jogo, Luis Suárez chocou com Giorgio Chiellini e cravou os dentes nas costas do italiano. Mas não foi só isso: o uruguaio simulou uma cotovelada ou algo do género e levou as mãos à boca, fingindo ter sido atingido em cheio pelo defesa. Bom teatro.
Continuemos com os jogadores que atuaram na LaLiga. Vamos ao Santiago Bernabéu na época 2014/2015. O Real Madrid recebeu o Celta de Vigo e, num lance isolado, o árbitro decidiu assinalar uma grande penalidade por esta ação de Cristiano Ronaldo sem que absolutamente ninguém lhe tocasse. Veja as imagens:
Até o próprio clube de Vigo usou de ironia anos mais tarde... no Dia Mundial do Teatro!
Todos nos lembramos do pé esquerdo de Arjen Robben. Fazia sempre a mesma coisa, e resultava sempre. Cortar para dentro e depois procurar o poste mais distante com um potente remate de pé esquerdo, em curva. Que jogador.
Mas o que muitos recordarão, especialmente os mexicanos, será o mergulho histórico do neerlandês nos oitavos de final do Campeonato do Mundo de 2014 contra o México. Preste atenção à jogada que decidiu o jogo:
Anos mais tarde, o próprio extremo admitiu que tinha simulado claramente o penálti e pediu desculpa. No mínimo, teve a honestidade de pedir perdão. Mesmo assim, voltou a tentar confundir o árbitro, desta vez na Bundesliga e sem o mesmo resultado...
Passemos às três últimas simulações. Na primeira, as palavras são desnecessárias. Em 2011, Bryan Carrasco protagonizou uma das simulações mais insólitas da história do futebol. Durante uma partida entre Chile e Equador, num jogo de sub-20, o jogador chileno agarrou a mão do adversário e, num ato de pura ingenuidade (ou descaramento), usou-a para bater em si próprio, fingindo agressão. O árbitro acreditou na encenação e marcou a falta. Sem dúvida uma jogada digna de um prémio, embora talvez mais no cinema do que no campo.
Os dois últimos são parecidos... vamos ver qual é que escolhe.
Com David Luiz, a imprevisibilidade está sempre garantida. Capaz de um golpe de génio ou de uma asneira, o seu talento para simular faltas também não é de desprezar. Em 2014, contra o Manchester United, fez uma das suas melhores exibições: após uma falta de Rafael, atirou-se como se tivesse sido brutalmente derrubado. Resultado: um cartão vermelho para o compatriota. Mas as câmaras não perdoam e revelaram o exagero do defesa-central do Chelsea. Para cúmulo, enquanto o caos se instalava no relvado, ele deitou-se no chão... rindo da situação.
Se há um lance que define a arte do "trolling" no futebol, é o de Sergio Busquets na meia-final da Liga dos Campeões entre o Barça de Guardiola e o Inter de Mourinho. Após o contacto, o médio do Barcelona caiu no chão de forma dramática, cobrindo a cara como se tivesse levado um golpe brutal. Mas as câmaras captaram o momento-chave: entre os dedos entreabertos, espreitou sorrateiramente para ver se a sua atuação tinha surtido efeito e se o seu adversário tinha recebido o cartão vermelho. A cena foi tão emblemática que, ano após ano, o hashtag #ParabénsBusquets tem sido tendência no Twitter em todos os Dias Mundiais do Teatro.
O futebol tem-nos dado golos inesquecíveis, jogadas de mestre e... mergulhos dignos de um Óscar. De Suárez a tornar-se Drácula e depois vítima, a Cristiano a cair sem contacto no Bernabéu com a convicção de um ator metódico. No futebol, há magia, emoção e, claro, muito teatro.
As celebrações de golo mais emblemáticas do futebol moderno
O futebol e o teatro têm mais em comum do que parece, e não é só por causa dos mergulhos na piscina. As celebrações dos golos são também puro espetáculo, uma encenação em que os jogadores se tornam os atores e o campo o seu palco. Desde a arrogância de Balotelli com o seu " Why always me?" até Cristiano e o seu emblemático "Siuuuu!", cada comemoração é um espetáculo único. Alguns procuram o drama, como Messi a exibir a sua camisola no Bernabéu, outros a comédia, como Griezmann e a sua dança. E depois há aqueles que procuram o clímax emocional, como Totti a tirar uma selfie ou Haaland a entrar em transe com a sua meditação. No futebol, marcar um golo é importante, mas marcar um golo com uma celebração digna da Broadway... isso é outra história.
Eis uma retrospetiva das celebrações mais emblemáticas da história recente do futebol.
Em 25 de setembro de 2005, durante um jogo entre o Real Madrid e o Deportivo Alavés em Mendizorroza, Ronaldo Nazário marcou um golo que ele, juntamente com os compatriotas Robinho e Roberto Carlos, festejaram de uma forma invulgar. Os três brasileiros deitaram-se de costas no relvado, agitando as pernas e os braços no ar, imitando uma barata de cabeça para baixo. Esta celebração peculiar, conhecida como "la cucaracha", gerou controvérsia e foi criticada como desrespeitosa para com a equipa adversária e os seus adeptos.
Por falar em celebrações emblemáticas, esta é a cereja no topo do bolo. No dia 13 de outubro de 1999, num El Clásico vibrante no Camp Nou, Raúl González Blanco deixou uma imagem para a história. Com o Barcelona a vencer por 2-1 e com o tempo a esgotar-se, o eterno "7" do Real Madrid recebeu um passe de Sávio e, com a frieza que lhe é caraterística, bateu o guarda-redes Ruud Hesp, marcando o golo do empate aos 86 minutos. O que se seguiu ficou gravado na memória dos adeptos: Raúl, desafiando os milhares de Culés presentes, levou o dedo indicador aos lábios, calando o estádio. Este gesto ousado tornou-se uma das celebrações mais emblemáticas do El Clásico, simbolizando a paixão e a rivalidade que definem estes jogos.
Em outubro de 2010, um jovem Antoine Griezmann, com a camisola da Real Sociedad, decidiu que marcar o seu primeiro golo na LaLiga merecia uma grande celebração. Depois de marcar contra o Deportivo La Corunha, não se contentou com os habituais saltos e abraços. Não, teve um plano mais original: correu para um carro publicitário estacionado na pista de atletismo de Anoeta, subiu para o banco do condutor e começou a "conduzir" com entusiasmo, enquanto os seus companheiros de equipa se juntavam à viagem improvisada. Esta cena peculiar, uma mistura de alegria juvenil e impudência, entrou para a história como uma das celebrações mais coloridas do futebol espanhol.
Pierre-Emerick Aubameyang, o avançado gabonês com alma de criança travessa, transformou os seus golos em espectáculos carnavalescos. Depois de marcar, não se contenta com o clássico punho no ar, preferindo transformar-se num super-herói. Do Homem-Aranha ao Pantera Negra, do Homem de Ferro ao próprio Batman, o seu repertório de máscaras é mais variado do que uma loja de fantasias no Halloween. Uma vez, atreveu-se mesmo a usar uma esfera de dragão e um teletransporte estilo "Dragon Ball".
No entanto, nem todos partilham do seu entusiasmo pelas celebrações dos golos. Toni Kroos chamou a essas celebrações "disparates", ao que Aubameyang, com o seu brilho habitual, desejou que um dia tivesse filhos para que estes pudessem desfrutar. Em suma, se o futebol fosse um palco, Pierre-Emerick seria a estrela de uma comédia de slapstick, sempre pronto a surpreender-nos com a sua próxima performance.