“Falamos com as equipas e até com os próprios corredores e eles correm por pontos. E os managers, muitas vezes, decidem os calendários dos corredores e não podes dizer-lhes para virem correr aqui e disputarem uma etapa em que o primeiro ganha 14 pontos (…) quando, numa clássica da mesma categoria, o vencedor soma 120”, alertou Ezequiel Mosquera.
Para o vice-campeão da Vuelta-2010, há um problema estrutural que está “a mudar o cimento do ciclismo”.
“Dizem-me: faz clássicas. Não quero. Tenho uma volta com mais peso, mais dimensão e mais capacidade de crescimento do que qualquer clássica. Mas se fizer cinco clássicas, distribuiríamos 3.000 pontos, ou seja, 600 por dia. Neste momento, temos cinco dias de boa competição e a realidade é que temos 710 pontos. Porquê? Ninguém me sabe explicar”, lamentou.
O diretor d’O Gran Camiño, prova galega que começa esta quarta-feira na Maia e termina no domingo em Santiago de Compostela, salientou que a crítica não é dirigida à União Ciclista Internacional (UCI), mas sim “a um sistema absurdo”.
“Não é defensável, nem proporcional, é escandalosamente desproporcional. Não pode ser que o Jonas Vingegaard tenha ganhado aqui três etapas duras e a geral e tenha feito os mesmos pontos do que o segundo classificado da Clássica de Almería”, notou.
Ausente desta edição, o dinamarquês da Visma-Lease a Bike, que conquistou a Volta ao Algarve no domingo, venceu as duas últimas edições da corrida galega, com um pleno nas etapas a contar.
Em ano de descida (e subida) de divisão, todos os pontos importam para as equipas WorldTour, com as contas a fazerem-se no final de 2025, após um processo de três épocas (2023-2025).
Apenas as 18 melhores formações do pelotão terão uma licença para o escalão principal, podendo algumas das atuais equipas do WorldTour descer e as ProTeam, da divisão abaixo, ser promovidas.
“Uma equipa que me diz que está para descer, não tenho como convencê-los. Digo-lhes para não virem”, confessou Mosquera, admitindo ter enfrentado dificuldades particularmente nesta edição por ser “ano de descida”.
Para Mosquera, neste momento “as equipas configuram o seu calendário não com base nas corridas que lhes interessa correr mas nas que dão pontos”.
O organizador d’O Gran Camiño recusa-se, contudo, a mudar a génese da corrida, que vai para a quarta edição e, pela primeira vez, tem uma etapa fora da Galiza, na sua peregrinação dos caminhos de Santiago.
“Temos um projeto que escapa dos standards. (…) Nós, não temos fronteiras. Temos um argumento sólido e com ele temos o apoio das instituições, das grandes empresas, mas como volta, não como clássica. Somos um país de voltas e isto foi concebido como uma volta”, justificou.
Ao seu lado, Oscar Pereiro foi mais crítico com a UCI, considerando que o sistema de pontos, que, por exemplo, atribui mais pontuação a um vencedor de uma clássica do que ao de uma etapa da Volta a Espanha, “está a debilitar o ciclismo, a debilitar os organizadores”.
“Estamos convencidos que se houvesse igualdade no sistema de pontos, teríamos aqui um panorama fantástico. De alguma forma, isto está a seguir um caminho cómodo para a UCI. Mantemos as três grandes, quatro grandes corridas e o resto clássicas”, evidenciou.
A quarta edição d’O Gran Camiño arranca esta quarta-feira na Maia, com a etapa portuguesa do caminho de Santiago a levar o pelotão até Matosinhos, ao longo de 189,7 quilómetros.