Gonçalo Ramos esteve em destaque no triunfo diante da Suíça (6-1), que valeu a Portugal o passaporte para os quartos de final do Mundial-2022, ao apontar três golos e assistir Raphael Guerreiro para outro. Depois de várias ausências confirmadas, como as de Diogo Jota, Pedro Neto ou Rafa, o avançado do Benfica mereceu a confiança do selecionador português e parece querer aproveitar as oportunidades que tiver para dar sequência ao excelente início de época pelo clube, coroado com golos e boas exibições.
Cristiano Ronaldo, iniciou a prova no Catar sem clube, mas com a reforçada ambição de dar uma resposta aos críticos. Depois de uma primeira metade de temporada atípica em Manchester, o jogo inaugural, diante do Gana, trouxe vitória de Portugal (3-2) e um golo para o avançado, e tudo parecia encaminhado para uma competição produtiva do camisola sete.
Contudo, esse foi, até ao momento, o único golo do ex-jogador do Manchester United nos quatro jogos (três deles como titular), o que se pode justificar pela oposição que enfrenta, mas também pela necessidade que encontra de tocar a bola em zonas mais afastadas da grande área contrária.

Tomando como exemplo o duelo diante da Coreia do Sul, no qual Ronaldo esteve em campo durante 65 minutos, podemos perceber que o avançado se mostrou ao jogo dezenas de vezes, mas raras em zona central e menos ainda em locais próximos da área adversária. Em comparação, Gonçalo Ramos, que jogou 74 minutos frente à Suíça, envolveu-se menos vezes com os colegas de equipa, mas em zonas mais próximas do golo, acabando por oferecê-lo a Guerreiro numa das suas ações de passe.

Não será difícil perceber, porém que a influência de Cristiano Ronaldo vai muito para além do golo que marca ou não marca. Apesar de atuar como referência do ataque, com maior presença na grande área adversária, as suas movimentações táticas e associativas, muitas vezes longe do último terço e com pequenos toques que ao adepto podem parecer descabidos, ajudam a desmontar as defesas contrárias e, salvo raras exceções, atraem consigo dois oponentes diretos, que, preocupando-se com o avançado, libertam espaços que outros podem ocupar.

Já Gonçalo Ramos, pese embora a inegável preponderância ofensiva, não se assume como um homem de área, mas constitui uma solução mais móvel no ataque. É, no fundo, o primeiro defesa da equipa, pela pressão que exerce, e um dos elementos de uma frente dinâmica e envolvente, capaz de trocar as voltas a quem estiver pela frente.

A reação a quente de Ronaldo, aquando da sua substituição frente à Coreia do Sul, parece ter precipitado a escolha de Fernando Santos, que, ainda assim, a justificou com a necessidade de trazer à equipa "movimentos diferentes".
Verdade ou não, o certo é que Gonçalo Ramos respondeu afirmativamente à chamada e fez o gosto ao pé por três vezes na goleada aplicada à Suíça, registando o triplo de golos do capitão luso em exatamente um terço do tempo jogado (Ronaldo disputou 252 minutos, enquanto Ramos jogou 84).
Para isto contribui, naturalmente, o maior número de remates do jovem avançado, que tem encontrado mais espaço para se movimentar do que Ronaldo, que, por sua vez, conta mais passes-chave feitos para colegas de equipa durante a presente edição da prova.
De um lado, um bicho de área, capaz de atrair e fixar os defesas que o enfrentam; do outro, um pistoleiro móvel e com a motivação em alta pelo momento que vive. Em condições normais, ambos garantem golos com fartura, mas caberá agora a Fernando Santos a decisão sobre quem terá melhores argumentos para desfeitear a compacta defesa de Marrocos, que até agora apenas sofreu um golo no Mundial-2022.