"A verdade é que a prova foi muito esquisita, mas nunca deixei de acreditar. Pensava que se estivesse bem colocada nos últimos 600 metros, era possível. Já senti um bocadinho a fadiga, tive desgaste extra pelas movimentações, mas ao ver a placa dos 400 metros, achei que tinha força. Nos últimos 40 metros, olhei para a espanhola e pensei: 'desculpa, mas vou tentar apanhar-te'. E aconteceu, caiu para mim", explicou.
Salomé Afonso, de 27 anos, tornou-se este domingo na primeira portuguesa de sempre a conquistar duas medalhas numa única edição de Europeus indoor, juntando o terceiro lugar de hoje ao segundo nos 1.500 metros, na sexta-feira, na 38.ª edição dos Campeonatos, que hoje termina nos Países Baixos.
"Nem sequer pensei nisso (em chegar às duas medalhas). Pensei que estava muito bem para as duas provas, houve um momento em que hesitei e depois decidi fazer as duas. Treinámos muito, foi uma preparação quase de atleta de 5.000 metros. Um volume muito grande, que me deu a resistência de aguentar várias provas em vários dias", afirmou, na zona mista do recinto neerlandês.
Este domingo, a portuguesa arrancou para o pódio na última curva, terminando com o tempo de 08.53,42, atrás da irlandesa Sarah Healy, campeã da Europa, em 08.52,86, que bateu a britânica Melissa Courtney-Bryant, segunda classificada, por seis centésimos de segundo.
A atleta do Benfica assumiu o risco de alinhar nas duas distâncias, prometendo habituar-se à luta pelas medalhas, porque, depois da primeira vez, custa menos.
"O cérebro muda o chip e pensa que é possível. Foi uma prova de muita crença, hoje, super caótica, em que a meio da prova, sinceramente, pensei em muitas coisas. Fui tentando eliminar muitos pensamentos, porque foram muitas quedas, contactos, dificuldade em posicionar-me. Foi tudo o que não queria fazer, que era desgastar-me o mínimo possível, e foi impossível fazer isso (...). Foi chegar aos últimos 400 metros em quarto e pensar: 'é possível, bora lá, Salomé'. Se não der, não deu, mas deixei tudo nesta pista", assegurou.
Conquistados estes metais, Salomé Afonso encara os próximos Mundiais com outra ambição.
"É um bocadinho essa a mentalidade. Antes, queríamos passar à final. Agora, medalhas europeias. O próximo passo é manter o nível e tentar uma a nível global. Sabemos que a exigência é muito grande, o nível está cada vez mais alto, mas este campeonato só prova que nunca sabemos quando pode ser o nosso dia, o nosso fim de semana, o nosso campeonato. Temos de aproveitar quando cai para nós", rematou.