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Exclusivo com Luís Querido: "Barcelos é o melhor sítio para se jogar hóquei em Portugal"

Luís Querido é o capitão do Óquei Barcelos
Luís Querido é o capitão do Óquei BarcelosOC Barcelos/Flashscore

Numa extensa entrevista ao Flashscore, Luís Querido, capitão do Óquei Clube de Barcelos falou da época histórica que culminou com a conquista da Liga dos Campeões e da Supertaça, além do vice-campeonato. Abordou também a forma como a cidade vive o clube e o crescimento da modalidade em Portugal.

- Esta foi uma temporada que culmina com o teu regresso à seleção, passados oito anos desde a convocatória para o torneio de Montereau de 2017. Pode dizer-se que esta foi a melhor época da tua carreira?

- É sem dúvida a melhor temporada da minha carreira, porque alcançar com o, com Óquei Clube de Barcelos dois títulos importantes... Há muito que se calhar se sonhava, há muito que se calhar se lutava por isto, mas acabou por acontecer numa, numa época que até não começou da melhor maneira, ao fim de muito sacrifício e muito trabalho, ainda culmina com a chamada à Seleção Nacional, que era um sonho muito antigo que eu tinha. Estou extremamente feliz.

- Ainda sobre o Campeonato da Europa, o Pavilhão Rota dos Móveis em Lordelo, no município de Paredes, não é um local de boas memórias para o hóquei português...

- Pois... Vamos ter que conseguir dar a volta a isso. Portugal já fez lá grandes jogos, mas infelizmente acabou por não vencer os títulos. Mas vai ser desta vez, temos que acreditar. Não será esse o problema, até porque acredito que, que jogaremos claramente em casa.

- Onde é que estavas naquele Portugal-Espanha em que Portugal até só precisava do empate e a dez segundos do fim estávamos quase todos a cantar de festa e, e depois acontece o que acontece?

- Estávamos em casa a ver o jogo com a família. Foi, é o hóquei em patins, não é? Aquilo é um hóquei em patins. É verdade.

- Falando ainda da seleção nacional, esta é uma, uma equiipa com várias caras novas ou que já estavam de fora há bastante tempo, tal como tu. E desta, desta convocatória há dois colegas que conheces muito bem, o Alvarinho, com quem já partilhaste várias vezes balneário no Óquei Clube de Barcelos, e o teu colega Miguel Rocha, isto para não falar, claro, do selecionador Paulo Freitas.

- Até tenho boa relação, mesmo com aqueles que nunca joguei junto naquela seleção, tenho muito boa relação com todos eles. Mas falando desses dois casos, estamos a falar de mais do que colegas, ou pessoas com quem partilhei o balneário, são dois amigos, que também estamos muitas vezes juntos fora do ringue, constantemente em contacto. O Álvaro agora em Itália, estamos constantemente em contacto, mesmo à distância. E com o Miguel, claro, a proximidade do dia a dia, mais aquilo que nós... Quantas vezes nós nos encontramos fora da pista, não são apenas dois colegas de equipa, são sim dois amigos que eu tenho no meu coração.

- Miguel Rocha que faz uma temporada brutal.

- Incrível, incrível. Nós chegávamos a falar no balneário que bastava rematar que ele fazia golo. Fez uma época de sonho e eu fico muito feliz por ele, porque ele merece. Estamos a falar de um jogador que trabalha bastante, um jogador que teve que se adaptar a uma nova realidade, porque cresceu a jogar noutra posição que não esta. Trabalhou muito para isto e por isso acho que tá, tá de parabéns. Pela época que fez, que foi autenticamente de sonho e nos ajudou a alcançar os títulos que nós obtivemos, e também pela chamada da seleção, que eu sei que era um sonho que tal como eu também tinha.

- Vamos agora então ao Óquei Clube do Barcelos, que passados mais de 20 anos conseguiu voltar a conquistar dois títulos na mesma temporada, primeiro a quinta supertaça e depois a segunda Liga dos Campeões. 

- Sim, é verdade. Eu ouvi algumas vezes nos comentários dos jogos que para a equipa Barcelos não é um problema estar em desvantagem porque já está habituado a ter que lutar para conquistar os três pontos. E isso foi o que nos levou talvez à conquista dessas duas competições, porque nós uma semana antes da Supertaça perdemos 6-1 com o FC Porto para a Elite Cup. Toda a gente já dizia que o Barcelos seria uma equipa a lutar para estar no play-off. Falava-se muita coisa negativa, mas a verdade é que passada uma semana vencemos a Supertaça e acho que aquilo foi, foi o que nos deu o oxigénio, digamos assim, para o que, para o resto da temporada. Depois a, a questão da Liga dos Campeões, era uma competição que nós, desde o apuramento, em que tivemos que jogar contra o Sporting, que era o atual detentor, super equipa. Mas este Barcelos não tem medo de nada, né? Este Barcelos não tem medo de nada, nem de ninguém. E isso ficou provado ao longo da temporada. E eu acho que o acreditar, a resiliência, foi o fruto desta temporada e destes dois títulos tão importantes. Para o clube, para nós, e depois eu acho que tenho um sentimento muito especial de conseguir vencer com o Óquei Clube de Barcelos, porque não tem as estruturas, não tem o profissionalismo, nem as ferramentas que têm as outras instituições que ganham muitas mais vezes. Por isso, ganhar com o Óquei Clube de Barcelos é muito especial.

- Os dias 10 e 11 de maio vão ficar para sempre na, na história do Óquei Clube do Barcelos, não só pela conquista da Liga dos Campeões, mas também por todo o ambiente criado em redor  da cidade e da equipa. O que guardas desse fim de semana?

- Ufa! Isso... Eu digo, estou a falar e estou arrepiado. Isso foi, foi algo vivido que não se consegue passar para palavras. Aquilo foi uma coisa alucinante. Nós no jogo com o Noia tínhamos a bancada do Barcelos de frente para o banco, então quem estava no banco ou quem esteve no banco conseguiu desfrutar muito, porque foi... Eu nunca tinha visto. Nunca tinha visto numa modalidade de pavilhão tal coisa. Nunca tinha visto. Já assistia a muitos jogos de hóquei e pavilhões completamente cheios também, mas o espetáculo que foi dado... E eu vou puxar obviamente para o lado da malta de Barcelos. O espetáculo que foi dado pelo pessoal de Barcelos foi uma coisa alucinante. Não tenho palavras. Porque é, e como disseste, não foi só no pavilhão, desde que soube que nós estávamos classificados para a Final Four, Barcelos não parou. Os adeptos normais compraram camisolas, compraram cachecóis. Estava toda a cidade envolvida nisto. Havia faixas pela cidade. Isto com antecedência, não foi, não foi só propriamente para arrancarmos para a Final Four. Foi a envolvência que Barcelos tem é esta. É o melhor sítio para jogar hóquei em Portugal.

- Chegaram a Barcelos depois da conquista da Liga dos Campeões, com paragem na Rotunda. Vão para um carro de bombeiros a desfilar pela cidade. Depois acabam no pavilhão, domingo à noite, com muitos alunos do Rui Neto, em vésperas do teste de matemática, mas com um pavilhão cheio e uma cidade na rua para vos ver.

- Nós sabíamos que se vencêssemos haveria a a mítica volta do camião dos bombeiros. Só que não sabíamos é que estaria praticamente Barcelos inteiro na rua. Foi uma coisa incrível aquilo. Vocês, pessoas ligadas à modalidade... e não só, porque isso foi notícia. Mas basta ver vídeos, basta ver fotos para perceber a loucura que foi. E durante muito tempo, aquilo não foi só apenas a chegada, senão que aquilo durou, durou bastante tempo, bastantes horas. E durante estas horas, todas as pessoas estiveram sempre lá. Era sempre uma multidão atrás do, do camião dos bombeiros. Estava uma multidão no pavilhão, que parecia, parecia que íamos jogar outra vez a final. Sem palavras para este povo, que merece, porque tem passado, tem passado muitos, muitos anos em branco, a chegar perto e a não vir para nós. É, por isso é um povo que merece muito isto e acho que desfrutou muito daquilo que nós fizemos nesta época.

Luís Querido ergue a Liga dos Campeões
Luís Querido ergue a Liga dos CampeõesOC Barcelos/Facebook

- Falando em particular de ti, Luís, um dos teus sonhos de infância foi finalmente cumprido, a conquista da Liga dos Campeões.

- Falar de vencer a Liga dos Campeões parece muitas vezes como uma miragem, não é? Porque sabemos a dificuldade que é, a quantidade de grandes equipas que há, que uma pessoa tem que nós jogadores temos que...bom, nós equipa temos que conseguir derrotar. Só que passo a passo... Nós fomos jogar ao Dragão Caixa na primeira jornada e acabámos por vencer, até de forma, diria, confortável. Ou seja, não estava no que era o registo normal. Depois acabámos por ir ao Barcelona, que eu até me lesionei, mas em que conseguimos empatar a acabar num grande jogo que fizemos. Não merecíamos ter só empatado na parte final do jogo. Fomos à França e encarámos o jogo com muita seriedade, muito crer e acabámos por vencer também de forma justíssima. Não sei, vários jogos quempodíamos falar. Em Reus, fizemos um jogo incrível. A vitória, os números tão, tão diferentes no marcador, revelam isso mesmo. Fizemos um grande jogo. Por isso eu acho que foi uma caminhada fantástica do Óquei Clube de Barcelos. Diria que foi a equipa que mereceu vencer a Liga dos Campeões por tudo que fez na, na fase de grupos, nos quartos de final e depois também na Final Four. E sim, foi viver um sonho, mas eu comecei por dizer que isto parecia uma miragem por isso mesmo, porque era muito difícil atingir esse patamar. Consegui. É um marco que eu sei que tenho e que levo à minha carreira. Vou ter, vou ter eternamente orgulho em dizer que sou campeão da Europa, por isso é um sonho atingido.

- O teu pai, o José Querido, nunca venceu a Champions enquanto treinador principal. Por isso, como é que foi esse primeiro reencontro?

- Foi lindo. O meu pai chorou muito, coitado. O meu pai sofre muito com as minhas vitórias, com os meus jogos. Ele tá sempre por dentro de tudo. Eu falo com o meu pai todos os dias, não só de hóquei em patins, mas sobretudo, não é? Porque é a vida dele também. Mas o meu pai sofreu muito. O meu pai, a primeira vez que eu vi, que o vi no pavilhão e chorou, abraçámos e chorámos os dois juntos, porque são coisas que marcam e que ficam para sempre e eu sei que vive muito. Além de ter lá o filho, ele é um barcelense também puro. Então ver o Barcelos ganhar e, e o filho a jogar, penso que é felicidade dupla, digamos assim.

- A conquista da Champions abre a porta para mais duas competições: a Taça Continental e o novo Mundial de Clubes, uma prova com um novo formato e na qual o Barcelos vai estar presente em outubro.

Sim, mais uma prova que o Barcelos se vai apresentar para ganhar. Temos muitas coisas ainda para trabalhar, a equipa levou com bastantes mexidas. E gente importante, muito importante saiu do clube. Por isso, há coisas a trabalhar, muitas coisas para delinear ainda, o Rui Neto está lá para isso. Mas é mais duas competições, falo primeiramente do Mundial, que, que o Óquei Barcelos vai entrar e que o Óquei Barcelos vai querer ganhar. O mais importante muitas vezes é chegar lá e depois, claro, de lá estarmos, o objetivo é sempre ganhar e nós conseguimos atingir o patamar.

- Ainda há a Final Four da Taça Continental. Já se fala que eventualmente o Barcelos poderá ter interesse em organizar a prova. A competição em que nas meias-finais vão defrontar o Sporting Clube de Tomar, finalista vencido da WS Cup.

- Sim, eu também, também já ouvi falar que o Óquei Barcelos tinha interesse nessa organização e para nós seria bom, apesar de nunca vencermos em casa as competições que organizamos. Poder fazer em Barcelos junto da nossa gente. Vai ser mais outra competição super importante que o Barcelos vai querer ganhar. Enfrentarmos uma equipa portuguesa, é sempre jogo diferente. Mas pronto, daqui até lá ainda há muita coisa para preparar e esperemos primeiramente ver onde será e depois, sim, passaremos a pensar nisso como, como mais título para se vencer. Mas repito, o Barcelos vai entrar nestas duas competições sabendo da enorme dificuldade que encontrará, mas para vencer.

- Apesar da grande temporada, tal como mencionaste há pouco, nem tudo foram rosas. No início, teoricamente, o plantel até parecia ter menos opções e a época começa com a tal goleada sofrida frente ao FC Porto na Elite Cup. No entanto, uma semana depois novamente em Odivelas e diante do FC Porto, o Óquei venceu a Supertaça António Livramento. Pode dizer-se que durante essa semana o Barcelos se reencontrou?

- Primeiro tenho de fazer um resumo do que foi a pré-época. Nós começamos a pré-época sem o Conti e o Vieirinha, porque foram convocados para o Mundial, sem o Rui Neto e o preparador físico Pedro Cruz, porque também estavam no Mundial com a seleção de Angola. Então o grupo estava muito partido, digamos assim. Foi uma pré-época muito dura. Fizemo-la com o meu ex-colega de equipa, que agora é treinador adjunto do Joca, e era a primeira experiência dele num, num plantel sénior como treinador. Por isso foi, foi uma experiência bastante difícil da pré-época. Se calhar, deu-nos ferramentas, porque nós é que estávamos a passar por aquelas dificuldades todas do treino com miúdos, da falta de jogadores para treinos, de viagens para a Corunha numa quarta-feira à noite e perder por 9-1. Passámos por momentos muito duros na pré-temporada. Depois vem a Elite Cup e nós, com tudo o que eu acho que tínhamos passado na pré-temporada, levamos 6-1 do FC Porto. Foi pesado, muito pesado. Mas acima de tudo, eu acho que nós também nesse jogo não fizemos um mau jogo até aos 40 minutos, não fizemos um mau jogo. Estávamos dentro dele, mas depois baixámos o braço muito rápido e, e em Barcelos isso não é permitido. E acho que a equipa percebeu isso, a equipa percebeu que não interessa se está a perder por dois ou por três, mas até ao fim vamos lutar e vamos morrer pelo clube. E a partir desse momento acho que a equipa conseguiu perceber isso. Depois chega o Pol Marrubia, nem sequer vou falar do jogador. Porque sabemos que é um fantástico jogador, mas trouxe uma alma, trouxe um espírito ao grupo que era muito preciso. Trouxe uma alma de nunca desistir, de estar sempre pronto para ajudar o colega do lado, estar sempre enérgico, que ele é um rapaz como energia inesgotável e isso fazia falta ao grupo. Acredito que tenha sido o impulso para o que veio a seguir. Obviamente depois chegámos a sábado na Supertaça e conseguimos vencer. E desde aí que, que vencemos o FC Porto olhámos sempre como nós podemos, podemos atingir patamares que se calhar há duas semanas não contávamos com isto. E fomos acreditando, os jogos foram correndo bem, era jogo a jogo, agora é mais um. Não vamos pensar no que vem daqui a dois, é o próximo e sempre o próximo e atingimos os, os títulos que desejávamos muito claro, também queremos ser campeões nacionais, mas sabemos que apesar de não termos sido, foi uma temporada fantástica, talvez a melhor de sempre do clube.

- A conquista da Supertaça deu início a uma série de sete triunfos seguidos naquela que foi a melhor fase da temporada. Foi uma época que acabaram por perder só na final do campeonato com o FC Porto...

- Custou perder uma final, porque custa sempre perder uma final, mas temos que ser realistas e eu acho que os dois jogos que nós vencemos o FC Porto em competições que havia títulos envolvidos, ou seja, a Supertaça e a Liga dos Campeões, tínhamos sido os justos vencedores, é a minha, a minha opinião. Como também acredito, é a minha opinião também, que o FC Porto foi justo campeão nacional, porque no resultado final de 3-1 em jogos, as equipas que venceram os jogos foram as equipas que mereceram. No primeiro jogo, o FC Porto foi melhor que o Óquei do Barcelos. No segundo jogo, o Óquei Clube de Barcelos foi melhor que o FC Porto, mas os dois jogos seguintes o FC Porto voltou a ser melhor. Então, acredito que o FC Porto tenha sido... Acredito não, acho que o FC Porto foi um justo vencedor. Mereceu. E nada a dizer, para nós que lutámos até ao fim. Muitas vezes nesta final o nosso hóquei foi bastante diferente do que foi durante o resto do ano. Talvez, o cansaço já era muito. Acredito que se tenha notado isso e acho que a nível hóquístico só fizemos um grande jogo, que foi o segundo que o vencemos aqui no Barcelos. Os outros três o FC Porto foi melhor que nós, por isso o FC Porto acredito que tenha sido um justo vencedor. Doeu perder, mas há o outro lado que temos que ser realistas e foi uma temporada extraordinária.

- Terminada a temporada, consegues perceber o impacto que teve em Barcelos?

- Eu já disse isto e é o que acho. Acho que o impacto da grandeza que nós fizemos só vamos ter daqui por uns tempos, talvez anos, quando olharmos para trás Agora o impacto que tivemos na cidade, já tivemos, já fomos sentindo, porque ainda hoje pessoas que se calhar eu não vejo algum tempo, a primeira coisa que me dizem quando me veem é: 'Parabéns pela conquista da Champions', pela época que fizemos.  Barcelos está envolvido no Óquei Clube de Barcelos e tudo isso ajuda, porque vencer títulos o que faz? Faz com que as pessoas andem empolgadas. Repare que depois do título europeu, Barcelos sempre foi uma casa de pavilhão cheio, mas depois do título europeu existiram jogos que muita gente ficou fora do pavilhão porque não teve bilhete. Tenho 34 anos, sou barcelonense e vejo o Óquei Barcelos, diria que desde sempre, e eu não me recorde de ver nada assim. Eu vivi coisas com o meu pai em Barcelos, o pavilhão completamente cheio, extraordinário, mas não me recordo nada desta dimensão de ter que ficar gente fora do pavilhão, a quantidade de gente que ficou fora do pavilhão, e isto constantemente. Oliverense, Benfica e FC Porto. Todos os jogos de play-off havia, havia sempre uma corrida louca aos bilhetes. Eu acho que isto nunca foi vivido em Barcelos e vivemos-lo com naturalidade, eu vivo isso com naturalidade, porque sei que foi o patamar altíssimo que o Barcelos atingiu. As pessoas estão super felizes e super empolgadas. Mas o impacto histórico, digamos assim, acho que não, ainda não me caiu, ainda não consegui entender.

- Voltando atrás, como é que é ter a responsabilidade de marcar um penálti na decisão, na final da Liga dos Campeões? 

- O FC Porto foi marcar o penálti e eu sabia que a seguir seria o meu. Não é isso que nos passa pela cabeça, pelo menos a mim não foi isso que me passou pela cabeça. Nnão senti o peso de ter que fazer ou que se fizesse, praticamente estaria resolvido. Não! Só me fui concentrando, qual seria o lado... Fui analisando o Mário nos penáltis, qual seria o lado que eu me sentiria mais confortável naquele momento para bater, qual seria o lado mais exposto nos penáltis anteriores. E foi nisso que eu me fui focando. E pronto, correu muito bem. Depois, recordo que ainda houve aquele momento ali de impasse, os jogadores foram começando a protestar. O árbitro ainda olharam um para o outro e eu ainda fui dar uma volta ao ringue, à espera de não ter que se repetir aquilo, porque o golo já estava feito. Depois foi felicidade pura mais uma vez. Mas lida-se bem. Eu sou um jogador que trabalho muito as bolas paradas. Sou jogador que, graças a Deus, tenho, digamos, esse dom. Por isso, quando chega o momento, eu sei que estou preparado para aquilo.

- E com tudo que aconteceu esta época e as várias alterações que vão ocorrer no plantel, e algumas delas já são públicas, a gestão de expectativas é um fator importante, pelo menos para os primeiros meses da nova temporada?

- Nós sabemos que a exigência vai estar altíssima. Primeiro o povo do Barcelos, já por si só é um povo exigente. Por vezes até não se preocupa de não ver um bom hóquei, mas quer ganhar. O povo de Barcelos leva-nos a sentir essa exigência. Claro que depois, ainda por cima, vêm muitas mexidas. Os miúdos novos que chegam, os jogadores novos que chegam, vão ter que entender a realidade onde estão, vão ter que entender o que é que o clube pretende. Vão ser muito bem acolhidos, isso eu não tenho dúvidas, porque o fazemos sempre com todos os jogadores. Não me recordo de nenhum que se tenha queixado nada do Barcelos, porque nós aqui temos o cuidado e, e achamos que é assim que tem que ser feito. Nós temos que acolher as pessoas em nossa casa, para se sintam cómodas e como se estivessem na casa delas, para poderem dar o melhor onde o que realmente importa que é dentro de ringue. O Barcelos fez uma grande equipa, acho que contratou os jogadores de nível muito alto. Agora temos que, que meter em funcionamento a questão equipa, porque não é o individualismo, não é um só jogador que nos vai dar algum título. É assim, a questão equipa, nós temos que ser fortes os 10. Euma família para atingir novamente o que nós atingimos este ano. Sabemos que será muito difícil, mas mostrámos que não há impossíveis. E por que não voltar a acreditar em vencer títulos europeus, ou melhor, títulos internacionais e até um título nacional? Temos que, temos que ter isso sempre em mente.

- Como avalias o estado atual do clube?

- No melhor momento de sempre, diria eu. Porque o Óquei Barcelos desde a entrada desta direção, com algumas pessoas que já cá estavam, se propôs a crescer. Passo a passo, coisas demoradas, porque tinha que ser assim. Nós não conseguimos mudar uma estrutura totalmente amadora, atenção, de um dia para o outro. É preciso dar os passos certos. É preciso acreditar no projeto e nisso o nosso presidente tem que se dar os parabéns porque acreditou sempre no clube, em nós jogadores. Nunca teve uma reação negativa para com o grupo, até quando nós deveríamos, obviamente, ter feito mais em algum jogo ou outro. Nunca foi capaz de nos criticar, foi sempre incentivar só quis ver o melhor de nós e nunca nos falhou, nunca nos falhou nesse aspecto. Esteve sempre do nosso lado. Acreditou sempre que aquilo que estava a fazer  E a verdade é que esta época atingimos dois títulos. A época passada estivemos na final da Taça de Portugal, na Final Four da Liga dos Campeões, já há três anos igual. Por isso eu, eu acredito que saibam o que estão a fazer. Acredito que o esforço e a dedicação que estão a meter no clube tá a colher os seus frutos e acho que é o melhor momento do Óquei Clube Barcelos como clube. Não falando só a nível de competição, mas também a nível de orçamentos, a nível de patrocínios, ao nível de organização. Acredito que o Óquei Clube Barcelos está passar o melhor momento de sempre.

- Tal como disseste há instantes, Barcelos quer é hóquei. Por isso, pode dizer-se que Barcelos é a versão portuguesa de San Juan? Porque na Argentina um hóquista em San Juan é quase uma estrela de Hollywood.

- Aqui não somos estrelas de Hollywood, mas também, mas sentimos, sentimos que somos, somos reconhecidos. Ou seja, vamos pela cidade, as pessoas param para falar conosco. E eu não posso, eu não posso dar o meu exemplo, porque eu sou daqui, não é? Obviamente, é totalmente diferente, porque eu conheço quase toda esta malta que, que aqui anda. Mas eu vejo os meus colegas que não são de cá e sei que são parados na rua, as pessoas falam com eles. As pessoas em Barcelos estão muito ligadas ao, ao Óquei Clube de Barcelos. E diria, comparativamente falando, e se calhar até para pessoas de fora de Barcelos isso parece estúpido, mas nós estamos num patamar de, de futebolista em Barcelos. Os jogadores do Gil Vicente são menos reconhecidos em Barcelos do que os jogadores do Óquei Clube de Barcelos.

- És um filho da terra. Tinhas menos de um ano quando o Óquei Clube de Barcelos venceu a Taça dos Campeões Europeus em 1991. Como é que o hóquei, com e sem H, surgiu na tua vida?

- Olhe, mas isso é fácil. O hóquei surgiu na minha vida por, por questões familiares.  O meu pai estava nessa competição como treinador adjunto. Por isso, só, só para fazer uma ligação, é, é uma questão familiar. E, e depois tem isto que eu sinto que todos os miúdos têm em Barcelos. Aqui é o Barcelos que comanda, os miúdos com três, quatro, cinco anos, já sabem muito bem que são do Óquei Clube Barcelos e não há nenhum outro clube na, na modalidade para eles. E eu fui igual, eu cresci, cresci a amar o Óquei Clube, aprender a amar o Óquei Clube Barcelos, sentir as dificuldades do clube... E, olha, agora sou orgulhosamente OCB, digamos assim. Eu tenho muito orgulho em fazer parte desta família, em estar na história deste clube. Tenho orgulho em viver em Barcelos, de fazer parte de um povo muito lutador e que vibra nos momentos de glória.

As palavras de Luís Querido
As palavras de Luís QueridoOpta by Stats Perform

- Depois de jogador, pensas em seguir a carreira de treinador ou continuar ligado de uma forma mais direta ao hóquei em patins?

- Sim, claramente. Eu quero muito ser treinador de hóquei em patins. Já fui treinador das camadas jovens. Depois, desde que o clube... Ou seja, à medida que o clube foi crescendo, a exigência para nós jogadores é altíssima e nós dificilmente conseguimos conciliar ser treinador duma equipa de formação e jogador sénior, porque com tantas viagens, com tantos jogos a meio da semana e ao fim-de-semana, a pressão é muita e então é, é difícil depois também arranjar tempo paras camadas jovens. Mas já fui e até ganhei coisas até como, como treinador, por isso acho que tenho, acho que tenho alguma aptidão pra isso e eu quero muito ser esse treinador de hóquei em patins também.

- Na tua opinião, como vês o estado atual da modalidade?

- Podíamos estar aqui horas a falar sobre ela. Eu acho que há coisas maravilhosas que todos os dias se vêm a saber do hóquei em patins, como também há coisas que não fazem, a meu ver, absolutamente sentido nenhum. E eu posso só especificar e falar do último caso que foi há pouco tempo oficializado que agora o hóquei em patins também só pode jogar de patins em linha. Ou seja, isto, para nós jogadores não faz absolutamente sentido algum, acho que não vejo sentido sequer em se tornar uma coisa destas oficial, em poder isto ser possível. Mas pronto, não sou eu que mando. As pessoas que mandam, não sei se acham que isto é o melhor para o hóquei em patins. Acho que quanto menos invenções, melhor. Ao mesmo tempo há notícias maravilhosas, como competições a surgir, como clubes no, no Sul da América a querer organizar competições importantes como o Mundial de Clubes. Não sei, há muita coisa envolvida muito boa, mas depois também há esse lado que eu diria que é o lado negativo e que às vezes consegue ser superior ao, ao tudo de bom que o hóquei em patins tem.

- E em Portugal, como avalias o estado atual do hóquei em patins?

- Bem, eu avalio muito bem. Obviamente, eu não sei qual é a realidade de clubes que tenham o objetivo de não descer de divisão, ou subir de divisão primeira. Não sei muito bem qual é a realidade desses clubes. Vou ouvindo em certos comentários e parece-me que cada vez mais há mais esforço para que as coisas cresçam, para que os clubes cresçam. A verdade é que hoje em dia, e eu falo, se calhar as pessoas de outro tempo vão dizer que eu estou errado, mas eu acho que hoje em dia o campeonato português tem um nível altíssimo e isso não se deve só à qualidade dos jogadores, mas deve-se a tudo que as estruturas que foram crescendo. Qualquer clube, já tem condições em casa, no seu pavilhão, para se fazer um trabalho de ginásio, para se fazer um trabalho específico de qualquer jogador que se lesionou. Ou seja, acho que o patamar da modalidade está alto, mas tem muito que crescer ainda. Nós fizemos comparações com o andebol por exemplo, o hóquei em patins está ainda bastante atrás, temos muito que andar. Mas acredito que é possível, porque quando se trabalha por gosto, com gosto, quando há tanta gente a gostar da modalidade, se nos unirmos, se formos capazes de ouvir uns aos outros, se não tomarmos decisões, por interesse o hóquei em patins vai, vai crescer muito, muito mais ainda.