- Começo por perguntar como te sentes sendo a chefe de missão
- É uma honra ter este papel. É algo que é importante para mim nesta fase da minha carreira. Foi uma atleta que sempre representou a seleção nacional e existe a responsabilidade de representar o país. Ainda estou a treinar e com objetivos de conclusão da minha carreira, mas estou nesta vertente do que vem a seguir e começar a dar os meus passos para preparar isso, que pode passar por aqui. Usar a minha experiência como atleta para conseguir inspirar, motivar e ajudar as próximas gerações. Este convite é uma grande responsabilidade. A nível pessoal senti que era a forma que eu tinha de estar mais próxima do desporto e do atletismo, visto que eu estou num período crítico, a recuperar de uma cirurgia e acho que fazia todo o sentido. Participei nas universíadas, agora Jogos Mundiais Universitários, tive a felicidade de ser medalhada e achei que foi importante no processo da minha carreira até aos Jogos Olímpicos. Foi a primeira vez que tive uma competição de dimensão Jogos Olímpicos. Estar na aldeia universitária, vários desportos, contacto com outros atletas, foi muito enriquecedor. Em vez de ser o grande salto e chegar aos Jogos Olímpicos e não saber como gerir, é muito importante isto. Estou muito orgulhoso de ter esta função
- Tu melhor do que ninguém sabes o que é conciliar estas duas vertentes exigentes…
- São muitos exigentes, estou a fazer o mestrado em alto rendimento. Se para um estudante uma licenciatura ou um mestrado já é exigente, imaginem tirar tempo para recuperar e treinar, porque há muito a sensação de que o atleta só o é quando está a treinar e tem o tempo livre no resto, mas é preciso recuperar e ter tempo para ir às aulas e estudar. É muito exigente, dou muito valor a estes atletas, são super-heróis a nível desportivo e académico.
- Há algo de especial nestes atletas, que características encontras nestes atletas para atingirem a excelência nestes dois mundos?
- Acho que a organização e gestão do tempo é das coisas mais importantes. Acho que há muita força de vontade, muito para além do comum porque é muito exigente. Dou os parabéns a todos os atletas que não só têm de gerir, mas dar continuidade. Depois têm de ter muita capacidade de comunicação, hoje em dia há a possibilidade de mudar as frequências, mas é complicado porque ainda não é geral e por isso há que saber comunicar com os professores, avisar os treinadores.
- Mas cada vez mais há essa compreensão…
E ainda bem, porque a minha experiência universitária foi catapultada para cima porque tive essa oportunidade. Eu fiz a licenciatura nos Estados Unidos que está desenvolvido nisso, porque a organização está incorporada no próprio sistema. Arranjam tutores particulares quando os atletas têm de ajudar muito. Aqui em Portugal já há atletas com esta mais-valia, mas ainda não é geral. Há uns que usufruem mais, outros ainda estão a caminhar. O objetivo como chefe de missão é falar com responsáveis pelo desporto e educação e sensibilizá-los.
- Sucedes ao Pedro Cary, futsalista, és a terceira mulher a chefiar uma missão portuguesa. Sentes como um significado especial?
- Vai ser a missão mais equilibrada, 50/50 entre masculino e feminino e é a demonstração de que o desporto é para todos. As mulheres estão a ter posições de liderança para dizer o contrário de que só os homens é que têm capacidades para o alto rendimento. Falo no triplo salto, que os portugueses conhecem pelo Nélson Évora, o Pichardo, mas também pela Patrícia Mamona. Estamos a conquistar este espaço, não é para dizer quem é melhor, mas que quem quer, quem trabalha tem oportunidades e o desporto é para todos.

- São 82 atletas, mas há nomes sonantes como a Mariana Machado, Camila Rebelo, Agate Sousa, Taís Pina. Há confiança maior nelas por teoricamente estarem mais perto de uma medalha?
Todos merecem o nosso carinho, mas com estes já há uma expectativa de medalhas. Nesta missão com atletas de elite geram-se expectativas e queremos bater recordes. Também tenho noção de que existe pressão, mas são atleta com experiência e querem demonstrar o valor e continuar a dar alegrias ao país. Eu não vou criar pressão adicional, porque sei que pode pesar, mas temos capacidades para ultrapassar o recorde de sete medalhas.
- Há um objetivo delineado?
Fazer melhor que o passado, é oito medalhas. Como atleta tive sempre o mote de dar sempre o melhor e isso é fazer um bocadinho mais e quando falamos de medalhas é mais uma. É importante dizer que as medalhas não dependem só deles, existem outras equipas fortíssimas, fui a eventos da organização e ver equipas com mais de 300 atletas, o nível vai ser elevado e não se pode ir a pensar que as medalhas são garantidas. Quem compete melhor é que ganha.
- E quando podemos ver a Patrícia Mamona em ação?
Não consigo dizer uma data certa. Esta fase tem sido complicada, eu tenho de ouvir o meu corpo, tentámos acelerar o processo e o corpo reagiu. Gostava muito de acabar a minha carreira num grande palco e tenho os Jogos Olímpicos de Los Angeles como objetivo.
- Mensagem aos jovens atletas
Desejar boa sorte e que eles têm de fazer o que tem de fazer e dar o seu melhor. Não peço muito mais, porque meter demasiada pressão é criar ansiedade difícil de gerir.