Incontidos na alegria, os adeptos chegaram de todo o lado - aproveitando que foi decretado feriado nacional para a população poder participar nas celebrações - para receber Lionel Messi e os seus companheiros, que chegaram já madrugada à sua terra natal, antes de subirem a um autocarro aberto para o tradicional desfile dos campeões.
"Sinto que somos campeõs, que somos os melhores do Mundo. Também vivi os Mundiais de 1978 e 1986. Para mim, o sentimento é o mesmo. Messi ou Maradona? Ambos!"

As grandes avenidas da capital estão completamente lotadas de gente e entusiasmo, ouvindo-se, constantemente, várias das canções que se tornaram verdadeiros ícones da campanha da albi-celeste no Catar.
"Rapazes... agora ganhámos a terceira", é a melodia que eclode por todo o lado, a par do hino nacional as músicas mais acarinhadas pelos argentinos.
"É a segunda conquista de um Mundial que vivo e o sentimento é espetacular. Quando comecei a acreditar que a Argentina podia ser campeã do Mundo? Depois da vitória contra a Polónia"

"Espetacular. Esperei 36 anos por isto. Quando ganhámos com Diego Maradona eu tinha 8 anos e agora o meu filho tem 19. Messi nunca tinha vencido nada com a Argentina e agora finalmente conseguiu"
Não se vislumbra um adepto que não esteja trajado a rigor nem uma fachada de edifício sem palavras de agradecimento ou as cores azul-celeste e branco, conferindo à noite um calor adicional aos 25.º que se verificavam às 21:00, várias horas ainda antes de a comitiva aterrar.
"Tenho 37 anos e era uma criança no Mundial de 1986. Por isso vivenciar isto tudo hoje é um sentimento único. Estou aqui com o meu sogro, sogra e namorada..."
"Para mim, tendo vivido os três títulos de campeão do Mundo, o de 86 foi o melhor. E este ainda mais porque estou a celebrar com a minha família, aliviando o stress que tivemos durante a competição."

A oportunidade de ver os seus ídolos, tocar no autocarro ou participar na festa foi o que mobilizou uma multidão que tinha superado o milhão logo após o êxito frente à França, segundo informação da autarquia, agora amplamente superada nos seus números.
O avião das Aerolíneas Argentinas, pintado a rigor a celebrar o feito, com imagens de Messi e Di Maria, entre outros, e a frase "uma equipa, um país, um sonho", aterrou por volta das 02:30 da madrugada locais (05:30 em Lisboa).
O banho de multidão começou logo no aeroporto e prossegue em cada metro que o veículo de dois andares tem de percorrer, muito lentamente, no seu passeio triunfal com os novos heróis da nação.

A multidão posicionou-se muito cedo, com grupos de amigos e famílias a tentar garantir o melhor lugar, usando cadeiras de campismo e fazendo churrascos, enquanto celebram com bandeiras, tambores e balões, entre outros adereços.
"Estou aqui pela minha paixão pela argentina. Amo o Messi, amo toda a equipa. É uma emoção enorme que é difícil de explicar. O meu coração está em sobressalto. Acho que somos o único país que vive o futebol assim, com esta loucura, alegria e felicidade", exultou Alejandra Diaz, de 55 anos.

As celebrações estão a ser controladas, na medida de possível, pela polícia que acompanha todo o percurso, tentando que o mesmo seja rápido nos cerca de 30 quilómetros rumo ao mítico Obelisco, o coração dos festejos em Buenos Aires.

Em 2021, depois do triunfo na Copa América, no Brasil, o autocarro demorou cerca de quatro horas para percorrer 10 quilómetros.

Entretanto, Lionel Messi, sete vezes consagrado com a Bola de Ouro e considerado o melhor futebolista do Mundial-2022, dormiu com o troféu e foi essa imagem que partilhou nas redes sociais, com a frase "bom dia".
O futebolista de 35 anos tem nova festa prometida em Rosário, a sua terra natal, 300 quilómetros a noroeste de Buenos Aires.
"Vamos recebê-lo e celebrá-lo por meses, anos...", prometeu Luciano Peralta, 41 anos, comerciante que viajou de madrugada desde Rosário para acompanhar o seu ídolo.
Cristina Vasquez, de 42 anos, engolida pela multidão, assume estar "comovida por ver este amor" pelo seu país.

"Estou muito feliz pela vitória, muito feliz pelas pessoas que estão a festejar esta alegria inesperada. E também feliz pelo Messi, ele mereceu tudo isto."

O autocarro panorâmico que transportava a comitiva da seleção argentina demorou mais de três horas para percorrer uma distância de 12 quilómetros.
O mar de gente era tanto que as forças de segurança impediram os jogadores e restantes membros da comitiva da albiceleste de entrar em contacto com os fãs no Obelisco, tal como revelou Claudio Tapia, presidente da Federação Argentina de Futebol, através das redes sociais: "Não nos deixam cumprimentar todas as pessoas que estavam em Obelisco, as mesmas forças de segurança que nos escoltavam não nos deixam avançar. Mil desculpas em nome de todos os nossos campeões. Uma pena", escreveu.
O clima era de tal forma caótico que existiam pessoas penduradas nos viadutos para conseguirem saltar para o interior do autocarro, onde todos os jogadores seguiam a fazer a festa. São vários os vídeos nas redes sociais que mostram essas imagens.

Por força de todas estas circunstâncias, a comitiva da Argentina abandonou a viagem de autocarro e foi transportada para o edifício da Federação Argentina de Futebol em helicópteros, colocando um ponto final antecipado num dia histórico para os argentinos, mas marcado por excessos de vária ordem, num banho de multidão como nunca se tinha visto.