Não serão muitos os adeptos que terão ouvido falar do Brommapojkarna. Modesto clube dos arredores de Estocolmo, que vai participar pela 10.ª vez na Allsvenskan, o principal campeonato da Suécia, é, na verdade, uma das melhores – talvez a melhor – academia de futebol da Suécia. Albin Ekdal, John Guidetti, Ludwig Augustinsson, Dejan Kulusevski, Lucas Bergvall ou Viktor Gyökeres passaram por aqui antes de terem sucesso no futebol europeu.
Na convocatória da Suécia, em novembro, oito jogadores tinham vestido a camisola vermelha e negra. E o número aumenta se olharmos para as seleções de formação, num verdadeiro atestado de competência a um método revolucionário de formação no futebol sueco.
Por isso, o Flashscore foi descobrir o segredo de um clube que tem de conviver no ecossistema da capital sueca com AIK, Hammarby e Djurgarden, emblemas bem mais conhecidos e estabelecidos, dentro e fora da Suécia. E a forma como um tal de Gyökeres acabou por dar o clique decisivo.
O pequeno parque que vai dar ao modesto Grimsta IP, com capacidade para quatro mil pessoas, dá o mote para o ambiente familiar que se vive entre os rapazes de Bromma (a tradução literal para o Brommapojkarna). É aqui que mais de 4300 jogadores vestem a camisola vermelha e negra para jogarem por 267 equipas em escalões diferentes, desde os cinco anos aos dois planteis principais de seniores femininos e masculinos.

“Costumamos chamar-nos o maior clube de futebol da Europa”, começa por explicar Peter Appelquist, que recebeu a reportagem do Flashscore numa sala com ampla visibilidade para o relvado que acolhe os jogos da Allsvenskan: “O futebol sueco está organizado de forma diferente dos outros países e Estocolmo também é diferente. Os 20 maiores clubes em termos de formação estão todos aqui, nós no topo, o Hammarby tem menos 500 jogadores, o Sollentuna e o Täby também são grandes. Mas por exemplo, em Gotemburgo os clubes têm uma equipa por escalão, nós temos 25 masculinas e oito femininas nas crianças com oito anos, a jogarem ligas competitivas”.
O modelo de formação foi um projeto inovador lançado há 40 anos e que está bem estruturado: “Quando têm 5, 6 e 7 anos só jogam por diversão, os pais são treinadores, só têm que preocupar em brincar. Temos mais de mil jogadores este ano aí. É a maior parte do nosso clube, 90%, miúdos a brincarem. Depois temos academias para rapazes e raparigas. É uma educação para serem futebolistas, ganharem noções competitivas, com excelentes treinadores. Os melhores treinadores querem vir para aqui. Este ano, os nossos sub-17 venceram o campeonato e vão disputar a Youth League no próximo ano, vai ser a estreia. Vamos ter duas equipas a jogar na Allsvenskan do próximo ano em sub-17, porque a nossa equipa B subiu. Nos sub-16 vamos ter 3 equipas na Allsvenskan. Nos sub-19 temos uma equipa na primeira divisão e outra na segunda. Temos muitos jogadores a disputarem jogos competitivos”.
O facto de ter tantos jogadores acaba por ser obviamente uma vantagem. Contudo, também ajuda ter treinadores de qualidade, com Olof Mellberg ou Tommy Söderberg, antigo selecionador nacional, a passarem pela estrutura de formação do Bromma.
“O segredo? Temos muitos jogadores a disputarem jogos com as melhores equipas da Suécia. E depois temos excelentes treinadores que começaram na nossa academia e subiram. Os nossos treinadores da equipa principal, Ulf Kristiansson e Frederik Landén, fizeram um longo percurso na nossa academia. O Olof Melberg foi um excelente jogador, começou aqui a treinar a equipa do filho e depois passou pela equipa principal. Também passou por aqui o Stefan Billborn, do Gotemburgo. O Tommy Söderberg, que treinou a seleção no início do século XXI. Podia continuar. É um grande ambiente para os jogadores crescer e por isso os melhores querem vir para nós. Depois a reputação cria uma mentalidade vencedora, quem vem para aqui sabe que vai ser bom. Nas primeiras 3 divisões da Suécia temos 60 jogadores profissionais. Estamos a criar muitos”, atirou.
Em Barcelona produzem-se médios de grande qualidade, o Sporting é conhecido por uma lista infindável de extremos de categoria. O Brommapojkarna tem um estilo de jogador?
“É ter qualidade técnica. É nisso que nos focamos nos primeiros anos. Na nossa academia estamos muito focados nos dribles, passes, remates. Sempre com a bola. Mais individual, trabalhar com a bola. Esse é o principal foco. Depois vamos inserindo as partes técnicas. Podem não ser os mais altos, os mais fortes fisicamente, mas são bons tecnicamente. Tivemos o John Guidetti, um grande avançado, o Dejan Kulusevski, o Lucas Bergavall, um médio inteligente, o Ludwig Augustinsson, um lateral, o Karl Starfelt, um central não muito dotado tecnicamente mas bom defensivamente, o Daniel Svensson, que era lateral e agora é médio no Nordsjaelland. Temos um 10 criativo na nossa equipa. E depois também grandes guarda-redes, o Davor Blazevic, o Kristoffer Nordfeldt, suplente da Suécia. Tivemos um jogo com o Gotemburgo na primavera passada, em que ambos os guarda-redes (Filip Sidklev e Elis Bishesari) jogaram pela equipa sub-19. Agora são ambos titulares na Allsvenskan”, garantiu.

Pese embora os bons resultados na formação, para os adeptos a equipa sénior acaba por ser sempre importante. A vida do Brommapojkarna não tem sido fácil, com muitas participações nos escalões secundários do futebol sueco. Contudo, à entrada para a 10.ª presença na Allsvenskan, o clube vem de um 10.º lugar, o melhor de sempre. Um sinal de que as coisas estão a mudar e o objetivo é investir para crescer.
“Agora estamos na melhor posição de sempre. Há 10 anos não recebíamos muito pelos jogadores, tivemos muitas discussões para receber verbas e estávamos sozinhos a lutar contra clubes maiores, agora é a FIFA que trata disso, porque o mecanismo de solidariedade é automático. Atualmente recebemos muito dinheiro, quase como juros, de todas as transferências. O Augustinsson foi para o Sevilha, recebemos alguns euros do Kulusevski, do Starfelt, tudo de forma automática. Do Bergvall tínhamos uma percentagem da transferência para o Tottenham e significou o melhor resultado financeiro de sempre do clube. Passámos dos 10 milhões de euros pela primeira vez num balanço anual. Estamos num nível diferente. Há 10 anos estávamos no Allsvenskan, mas não tínhamos dinheiro, tivemos de usar jogadores que não estavam preparados e descemos. Agora podemos comprar jogadores que nos ajudem a ficar e ajustar o tempo de lançamento dos jovens. Estamos a crescer continuamente e a investir na equipa para a manutenção e começar a olhar para o futuro e pensar na qualificação para a Europa. Não estamos a apressar, mas percebemos que é possível num futuro próximo. Podemos também investir nos cursos dos nossos treinadores e melhorar ainda mais a formação”, atirou.
O clique da mudança? A saída de Viktor Gyökeres para o Brighton, em 2018, por um milhão de euros. Isto depois de o avançado do Sporting se ter sagrado o melhor marcador da segunda divisão (13 golos em 28 jogos) e ajudar o clube a subir ao primeiro escalão. Uma contribuição dentro e fora de campo.
“Sempre fomos muito conhecidos na formação. Muitos clubes querem estar ligados a nós, garantirem que escolhem os nossos melhores jogadores. Tivemos muitos jovens convidados para treinarem nos principais clubes. Um dos nossos olheiros jovens trabalhou no Manchester United por 20 anos e vai analisando para eles também. Agora conseguimos receber mais. Quando o Viktor Gyökeres foi para o Brighton percebemos a mudança de paradigma, que podíamos passar a receber pelos jogadores. E isso depois confirmou-se com o Jack Lähne (dois milhões de euros para o Amiens, no ano seguinte)”, concluiu.
E com o Sporting a preparar uma venda de 70 milhões de euros, o Brommapojkarna começa a fazer contas ao mecanismo de solidariedade da FIFA. Mais uma alavanca com o nome Gyökeres que permite a este clube aproximar-se do sonho que é a Europa do futebol.