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Exclusivo com Balakov (2): O triângulo mágico no Estugarda e a situação atual da Bundesliga

Krasimir Balakov na final da Taça da Alemanha
Krasimir Balakov na final da Taça da AlemanhaČTK / imago sportfotodienst / Pressefoto Rudel/ Robin Rudel
Krasimir Balakov fez parte da geração de ouro do futebol búlgaro, cujo auge foi a chegada às meias-finais do Campeonato do Mundo da FIFA de 1994, nos EUA. O cérebro do Triângulo Mágico de Estugarda e uma lenda do Sporting falou de vários temas em entrevista exclusiva ao Flashscore.

Nesta parte da entrevista, recordou os seus anos no Estugarda, deu a sua opinião sobre a situação atual do seu antigo clube e falou sobre o domínio do Bayern de Munique no futebol alemão.

- Como é que viu a final da Supertaça alemã? Até que ponto o Estugarda pode se arrepender de não ter começado a temporada com um troféu?

- Como eu disse antes do jogo, sempre pode haver surpresas, mas olhando para o potencial do plantel, o do Bayern de Munique é assustador. Eles têm o poder financeiro para ter sempre uma equipa muito forte, por isso não se pode falar de uma surpresa. Infelizmente, o Estugarda perdeu este troféu pela segunda vez consecutiva, mas espero que o dispute pela terceira vez consecutiva na próxima época.

- Olhando para o jogo em si, o primeiro golo surgiu após um erro defensivo. No ataque, porém, o Estugarda jogou bem, com Manuel Neuer fazendo duas defesas fantásticas. O que há de positivo para os suábios e o que se pode esperar deles nesta temporada?

- O Estugarda sempre mostrou que pode competir de igual para igual com as grandes equipas, mesmo com um orçamento menor. O sucesso e o estilo de jogo do Estugarda são resultado da boa química entre os jogadores e a comissão técnica.

- Voltando ao final da temporada passada, com a conquista da Taça da Alemanha - a primeira desde 1997, quando o Balakov fazia parte -, ao ver o Estugarda levantar o troféu novamente, que sentimentos esse momento trouxe e que lembranças reavivou?

 Uma situação idêntica. Na altura, jogámos contra o Cottbus; desta vez, o adversário foi o Bielefeld. A diferença é que agora a vitória veio com mais golos, o que não é o mais importante. A maioria dos jogadores daquela equipa estava nas bancadas, aproveitamos a vitória e depois comemoramos como deve ser.

- O que significa este troféu para o Estugarda depois de tanto tempo de espera? Como é que se sentiu por dentro?

 Todo troféu é importante e tem um papel positivo. É algo que fica na história, especialmente depois de uma seca tão longa. No futebol alemão, não há muitos clubes que possam se orgulhar de ter uma grande coleção de troféus. Para o Estugarda , a taça significou a validação à temporada, especialmente considerando o desempenho bastante inconsistente na Bundesliga.

- A luta em várias frentes foi a principal razão para o desempenho menos satisfatório no campeonato?

- A Liga dos Campeões acabou por ser um grande desafio para a equipa. Mais uma vez, chegamos ao tema das possibilidades financeiras e, por conseguinte, da profundidade do plantel com um número suficiente de jogadores igualmente fortes. O Estugarda tem bons futebolistas, mas não pode ter a profundidade de gigantes como o PSG, o Real Madrid, o Barcelona ou o Bayern. Isto tornou-se claro a certa altura - mais jogos, cansaço acumulado, que se reflectiu no desempenho na Bundesliga.

- Esta época, o desafio será semelhante, embora não na Liga dos Campeões, mas na Liga Europa. Como é que a equipa vai lidar com isso desta vez e existe uma receita para o sucesso?

- Não há receita. A única coisa que se pode fazer num clube como o Estugarda é tirar o máximo partido do que se tem.

- A venda de jogadores importantes em duas épocas consecutivas, como Serhou Guirassy, Enzo Millot e Waldemar Anton, também não ajuda a manter a competitividade...

- É assim que o clube funciona há anos, mesmo no meu tempo, quando do trio mágico só restava eu - o (Giovane) Elber foi comprado pelo Bayern e o (Fredi) Bobic pelo Dortmund. Só me mantiveram a mim. Esse é o desafio do Estugarda - manter o nível apesar das inevitáveis saídas de algumas estrelas.

- Por falar no Triângulo Mágico, ele foi formado sob a liderança de Joachim Löw. O que se lembra desse início de carreira do técnico e se já via nele um futuro campeão mundial?

- Ele estava próximo dos jogadores, sabia o que queria de nós sem impor demasiado a sua própria visão do jogo. Queria simplesmente que cada um de nós desse o melhor de si e fosse ele próprio em campo. Isso criou uma boa harmonia entre ele e nós, e levou ao sucesso que alcançamos na conquista da Taça da Alemanha."

Balakov, Elber e Löw reunidos na final da Taça da Alemanha
Balakov, Elber e Löw reunidos na final da Taça da AlemanhaČTK / imago sportfotodienst / Pressefoto Rudel / Robin Rudel

- Mas também houve a desliusão de perder a final da Taça das Taças contra o Chelsea. O que se lembra dessa partida?

- Tivemos problemas com lesões e suspensões de jogadores que não pudemos utilizar nesse jogo. Para nós, a ausência de um ou dois jogadores foi enorme. Ainda assim, fizemos um bom jogo. Lembro-me que a primeira oportunidade foi nossa e eu podia ter marcado. Foi um jogo equilibrado em que, no final, fomos ultrapassados por Zola.

- Voltemos ao presente e ao início da nova temporada da Bundesliga. Será que as coisas voltaram ao "normal" depois dos fogos de artifício do Bayer Leverkusene estamos prestes a assistir a mais uma série de títulos do Bayern?

- A história mostra que raramente o título desta liga é defendido por uma equipa que não seja o Bayern de Munique. O Dortmund foi, até certo ponto, um rival à altura, agora o Leverkusen está a tentar sê-lo. Mas penso que, a não ser que o Bayern tropece de alguma forma, não pode deixar de voltar a ser campeão devido ao potencial do plantel que tem. Além disso, não podemos esquecer o fator jogos europeus.

Como você avalia as mudanças no plantel? As saídas do ídolo Thomas Müller, de Kingsley Coman e de Leroy Sané. Mas, ao mesmo tempo, o Bayern comprou um extremo ao campeão inglês, Luis Diaz.

 As transferências no Bayern estão a um nível completamente diferente do ponto de vista financeiro e, a partir daí, em termos de nomes e qualidade dos jogadores. O foco é a Liga dos Campeões, e é exatamente esse o nível que as novas contratações devem atingir.

- Surpreende que, nos últimos anos, o Bayern tenha se voltado para a Premier League, que costumava ser um mercado incomum para eles?

- O próprio negócio do futebol mudou, com novos jogadores como o PSG e o Manchester City a juntarem-se aos já existentes Barcelona, Real Madrid e Liverpool, tornando a concorrência feroz. Tendo em conta os orçamentos que estes clubes têm, a certa altura já não se pode recrutar apenas na Bundesliga. A Premier League movimenta o dobro do dinheiro em comparação com a liga alemã, o que, naturalmente, a torna mais atractiva para os melhores talentos. Para competir com os clubes que acabei de enumerar, é preciso comprar também nessa liga.

- Como é que responde à crítica de que a Bundesliga é uma corrida de um cavalo só?

- Essa é a realidade. Não podemos negar que o Bayern de Munique conquistou o seu estatuto na Alemanha. Essa história e força são o produto de decisões sábias tomadas por pessoas inteligentes ao longo dos anos, criando a máquina que o clube é hoje. O trabalho dos outros é aprender e tentar nivelá-los de alguma forma.

Leia a outra parte da entrevista a Balakov