Época difícil: "Estar no Bayern de Munique não quer dizer que todas as épocas sejam perfeitas, esta foi muito difícil para mim, não só desportivamente, mas também em questões pessoais que tiveram interferência. Até a lesão, que até a ter as coisas estavam a correr bem e depois tive bem mais tempo parado do que o previsto, foram três meses e depois tive que andar atrás do comboio. Quando estás num plantel recheado de opções para todas as posições, tive que andar atrás do prejuízo. Dar mérito aos meus colegas, o Pavlovic, o Goretzka, fizeram uma excelente época e foi difícil para mim recuperar as oportunidades. Espero tê-las novamente para demonstrar o porquê de o clube ter investido bastante em mim (50 milhões de euros, ndr), é nisso que estou focado. Quer no Mundial de Clubes, quer na próxima época. Vou dar tudo para me afirmar".
Contexto com maior concorrência: "Sem dúvida, estou com três internacionais alemães. O Kimmich dispensa apresentações, o Goretzka fez uma grande época, o Pavlovic é um miúdo da formação que tem crescido de forma incrível e é uma aposta série do clube. Também tenho o meu trajeto e se assinei pelo Bayern é porque tenho muito a acrescentar. Diz-se muita coisa sobre o meu futuro, fui uma escolha do próprio treinador (Vincent Kompany), disse-me o que pretendia para a equipa, conhecia-me bem da Premier League - marquei um golo contra ele até. Já estava pronto para essa concorrência, ser titular no Bayern é um dos desafios maiores, mas vou lutar por isso. Estou muito feliz, acima de tudo, pelo patamar a que consegui chegar na minha carreira. O que me deixa mais orgulho foi o meu trajeto, que não é propriamente comum ou fácil".

Há cinco anos imaginavas-te a jogar num candidato à Liga dos Campeões: "Sinceramente não, nunca me ocorreu. Principalmente porque aos 25 anos estava no SC Braga, aos 26 estava no Sporting e aos 27 assinei pelo Fulham. Quando lá cheguei achava que o sonho ia ser difícil, só queria desfrutar da Liga inglesa que para mim é a melhor do mundo, sempre tive o desejo de jogar em Inglaterra, sem pensar muito no que ia acontecer. Ainda para mais depois da história em que viajei para a Alemanha (para assinar pelo Bayern) e acabou por não acontecer, aí achei mesmo que nunca mais teria a oportunidade. Tinha 28 anos, pensava que o Bayern só aparecia uma vez, foi um episódio difícil.
O que aconteceu na transferência falhada: "O dono do Fulham na altura disse que não ia dar, consigo perceber o lado dele agora, estava a tentar proteger o clube. O timing da proposta foi a três dias do mercado fechar, estava à espera de ficar no Fulham o resto da época, tive uma conversa com o Marco (Silva, treinador) num dia em que tínhamos jogo com o Tottenham e assim que acabou essa reunião, íamos para o jogo e contei-lhe o que estava a acontecer, disse-lhe a minha vontade. Depois viajei para a Alemanha com a minha família, fiz exames médicos, sessão de marketing... e depois voltei com as malas para casa. Quando acabaram os exames médicos nessa altura, ligou-me o meu irmão que me estava a ajudar a dizer que o caso tinha complicado e depois tive uma conversa séria com o dono do Fulham, ele foi intransigente nesse momento. Voltei ao Fulham, antes disso tive um estágio na seleção antes de voltar, foi bom para gerir as emoções. Eu amo o Fulham, é dos clubes que os adeptos tiveram mais apreço por mim, fiz duas temporadas muito boas e tenho recordações extraordinárias. Mas quando aparece uma oportunidade como o Bayern não se pode deixar passar e disse isso ao dono do Fulham.
Renovação no Fulham após a quase saída: "Estava prometida, porque no mercado anterior de verão tive uma proposta do West Ham com valores altos, é uma grande rivalidade, mas tive uma conversa com o dono do Fulham e chegamos a um entendimento para a renovação. Quando voltei ao Fulham, o Marco Silva deu-me uns tempos para limpar a cabeça, deixou-me respirar um pouco, estar com a família e acalmar. A verdade é que, se não fosse o Marco, dificilmente ia parar ao Fulham também. Tivemos conversas muito importantes para mim, é uma pessoa especial e se estou no Bayern de Munique é muito por causa do trabalho que fiz com ele e pela projeção que ele me deu. Só queria desfrutar da Premier League, o Fulham tinha acabado de subir e desde aí é um clube que está em ascenção e desejo tudo de bom".
Reação à transferência falhada: "Foquei-me apenas no Fulham. Nunca pensei que voltasse a ter uma oportunidade no Bayern porque foi isso que me passaram, não me disseram diretamente, mas ficou subentendido. Agarrei-me ao que controlava, o que podia fazer no Fulham, e felizmente o suporte familiar ajudou-me muito. A família tem sempre um papel fundamental no que és dentro e fora de campo. Se consegui dar a volta foi por causa disso".
Impacto financeiro: "A diferença que estamos aqui a falar é bem maior do Sporting para o Fulham do que do Fulham para o Bayern. Já estava numa boa situação financeira, obviamente que também tem peso, mas não foi por causa disso que quis sair. Foram poucos os jogadores portugueses que passaram pelo Bayern de Munique com sucesso, espero ser um deles".
Diferenças entre Premier League e Bundesliga: "A Premier League não tem comparação e quem lá joga vai responder a mesma coisa. A Bundesliga também é muito física, mas eu acho que a Premier é ainda mais intensa. Sem desprezar, o Manchester United e o Tottenham ficaram muito lá em baixo na tabela, na Bundesliga é difícil isso acontecer, é demonstrativo da qualidade e competitividade que há. O meu primeiro jogo oficial foi contra o Liverpool, comecei com o pé direito, eles acabaram por empatar na reta final. Longe de sonhar o que viria a acontecer".
Premier League ajudou a melhorar: "Ajudou-me muito, acima de tudo, a demonstrar o que sou capaz. Foquei-me em crescer como jogador e divertir, esses jogos e golos deram-me gasolina, senti-me a crescer como jogador, a afirmar-me e isso é diferente de te afirmares na Liga portuguesa".
Balneário do Bayern: "Fiquei muito surpreendido pela humildade do Thomas Muller, o Manuel Neuer e o Joshua Kimmich, foram os que mais me surpreendido. São pessoas simples, fizeram uma carreira extraordinária, são exemplos tremendos no clube, mas são humildes. Quando cheguei recebi mensagem deles a dar as boas vindas antes de os conhecer pessoalmente, mesmo o à-vontade de falar contigo. Não são extravagantes, acima de tudo identifiquei-me com esse perfil. Quando queria ir a algum lado, o Neuer ajudava-me a aconselhar e a marcar sítios. Não tenho razões de queixa".
Brincavam com o Kane por ele não ter ganho nenhum troféu: "Não, não, de todo. Mas também foi o que mais celebrou de todos nós. Foi muito importante. Mesmo naquela cultura, quem tem 10 troféus, não chega, querem 20. Essa cultura de trabalho, de foco, persistência e ganhar, às vezes sinto que podemos ter um jogo não tão bom e em que ganhámos e a malta não se está a rir, estão sérios. São coisas diferentes do que tinha experienciado e mostram a cultura do clube, é muito organizado".
Jogador que mais impressionou: "Jamal Musiala. Quando se chega ao pé dele, mesmo por causa da idade (21 anos), nunca joguei com alguém que definisse tão bem em espaços curtos, impressionou-me muito e ainda bem para nós que não vamos jogar contra ele na Liga das Nações".
Melhor jogador que enfrentou na Premier League: "Talvez o De Bruyne. O próprio Gundogan, quando o apanhei contra o City, era muito inteligente e difícil de acompanhar, tem muita noção do que se passa à sua volta. Fiquei muito impressionado com o Gravenberch também, que não teve uma boa passagem pelo Bayern e agora engatou no Liverpool. O Cole Palmer também é muito bom jogador".
Análise à seleção da Alemanha: "Não posso dizer que não têm o poder de outros tempos. Se olharmos às opções, têm jogadores de grande nível, independentemente do que diz o ranking da FIFA (10.º). Vai ser um jogo muito complicado, nós (Portugal) e eles queremos muito ganhar a competição, jogamos pela última vez no Euro-2020 também em Munique, espero que desta vez possamos ter recordações melhores. Vai ser um bonito espetáculo".
Época do Sporting: "Desde que saí mantive os laços com jogadores e staff, ficam para a vida. Hjulmand é um grande jogador, fez duas épocas muito boas, é uma mais-valia para o clube. Aprecio mais a forma como interpreta o jogo, como se posiciona".
Concorrência na seleção: "A concorrência na seleção sempre foi alta, quando vim as primeiras vezes havia o William Carvalho no auge, que é um jogador pouco valorizado pelos adeptos, para mim é um craque. Agora há outros jogadores com muita qualidade, estar neste lote de jogadores é sinal do que posso fazer e sinto que fiz um bom Euro-2024, em termos individuais correu bem, em termos coletivos fiquei desiludido pela derrota com a França, porque tínhamos tudo para chegar mais longe e continuamos a ter. Não termos atingido o objetivo, dá-nos mais fome para o que aí vem. Tenho o objetivo de estar presente no Mundial do próximo ano, seria um enorme orgulho estar em dois Europeus e dois Mundiais, mas sei que para isso acontecer tenho que estar bem no clube porque a concorrência na seleção é muita. Não só pelos que são chamados, mas pelos que ficam de fora que são muito capazes também".
Como se define como futebolista: "Não sou o Musiala (risos)... Tenho as minhas características, que me fizeram chegar onde estou hoje. Acima de tudo, amo recuperar bolas, o que vivi em Inglaterra ajudou-me, é um estilo de jogo com que me identifico e, em termos técnicos, tenho crescido de ano para ano. Sempre tive qualidade, mas numa fase precoce da carreira não tinha confiança e quando se dá os primeiros passos a confiança é tudo. São as épocas boas que ajudam a mostrar coisas que não mostravas no passado".
Que portugueses gostava de ter no Bayern?: "Diria o Vitinha, não posso deixar de mencionar o Trincão, é um craque. O Diogo Costa é alguém que não tenho dúvidas que vai dar um passo gigante num futuro próximo".
Regresso a Portugal: "No máximo quero estar mais três anos fora. Quero cumprir o contrato com o Bayern. Obviamente, não sei o dia de amanhã, mas, muito devido à minha vida familiar, quero voltar. Só eu sei o que me custa. Darei preferência ao Sporting, é o clube que mais amo em Portugal. Essa resposta é clara. No entanto, este não é o momento para falar nisso. Não vou descansar enquanto não me afirmar no Bayern Munique. Aos 32, oxalá que tenha a oportunidade".