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Análise: Como a revolução de Tomasson na Suécia se transformou numa derrocada mundial

Tomasson foi despedido na terça-feira pela Federação Sueca de Futebol
Tomasson foi despedido na terça-feira pela Federação Sueca de FutebolBildbyran / ddp USA / Profimedia

Após uma campanha de qualificação para o Mundial verdadeiramente dececionante, a Federação Sueca de Futebol decidiu, esta terça-feira, despedir um selecionador pela primeira vez na sua história, afastando Jon Dal Tomasson na sequência da embaraçosa derrota caseira por 0-1 frente ao Kosovo. Mas afinal, o que correu mal para Tomasson, que tinha sido saudado como um salvador no início do seu mandato?

No início do ano passado, a Suécia precisava urgentemente de uma mudança na seleção nacional. Em apenas dois anos, falharam o apuramento para o Mundial e para o Euro-2024, e uma série de resultados muito desapontantes relegou-os para o terceiro escalão da Liga das Nações.

Após mais de sete anos no cargo, Janne Andersson demitiu-se do comando técnico da seleção sueca em novembro de 2023... Era altura de mudar.

O antigo defesa do Arsenal, Kim Kallstrom, chegou na primavera de 2024 como novo diretor de futebol da Federação Sueca, com a ambição de levar o futebol sueco por um caminho diferente. E a sua primeira decisão foi contratar, pela primeira vez na história, um treinador estrangeiro: Jon Dal Tomasson, que já se tinha destacado como treinador no Malmo e no Blackburn, foi chamado para estabilizar o barco sueco. 

Tomasson também surpreendeu na sua primeira conferência de imprensa ao optar por falar em inglês em vez de dinamarquês, língua que a maioria dos suecos compreende. "Não vou falar sueco porque quero ser compreendido, mas, acima de tudo, quero perceber todas as perguntas. Para ser sincero, se falasse dinamarquês, nem todos perceberiam, e se tentasse falar sueco – desculpem, mas seria um desastre," afirmou Tomasson.

As seleções do passado utilizavam normalmente o sistema tático 4-4-2, mas, numa tentativa de iniciar uma nova era e melhorar os resultados, o antigo avançado internacional dinamarquês apostou num 3-4-1-2 para abanar o sistema sueco.

Os primeiros sinais foram extremamente positivos. A Suécia foi elogiada como a equipa mais ofensiva da Europa, liderando todas as estatísticas da Liga das Nações em golos, remates, oportunidades criadas e passes para o último terço, com a equipa de Tomasson a somar seis vitórias em sete jogos.

Ao mesmo tempo, Tomasson parecia ter encontrado a fórmula certa para ligar o resto da equipa à, provavelmente, dupla de ataque mais talentosa da Europa, Alexander Isak e Viktor Gyokeres

"Ainda há quem duvide se conseguimos jogar de forma tão ofensiva contra seleções mais fortes. Jogamos ao ataque, mas nunca de forma ingénua. Alguns observadores chamaram-lhe uma revolução. Eu vejo a minha missão, antes de mais, como uma inversão dos maus resultados, construindo um novo estilo e uma nova equipa," disse Tomasson ao Bold.dk após a primeira campanha promissora. 

Os seus maiores críticos apontaram que os resultados iniciais na Liga das Nações tinham sido alcançados frente a seleções de menor expressão, como Estónia, Azerbaijão e Eslováquia, e as fragilidades começaram a notar-se quando a Suécia perdeu 1-0 frente ao Luxemburgo na preparação para a campanha do Mundial.

Isak apresentou-se completamente fora de forma no início de setembro para integrar a convocatória, e uma promissora vitória por 1-2 na Eslovénia acabou por se transformar num dececionante empate 2-2, quando o guarda-redes Robin Olsen cometeu um erro grave nos descontos, concedendo o golo do empate já perto do fim. O ambiente no grupo sueco deteriorou-se ainda mais quando a equipa foi surpreendida com uma derrota por 2-0 fora frente ao Kosovo.

Pouco antes do jogo frente à Suíça, Olsen surpreendeu ao anunciar o fim da sua carreira internacional, afirmando que não regressaria enquanto Tomasson fosse o selecionador. A razão terá sido uma promessa de Tomasson de que Olsen seria titular na campanha de qualificação, mas acabou por deixá-lo no banco frente à Suíça. 

Tomasson respondeu dizendo que sentiu que Olsen falhou com os colegas, mas não era a primeira vez que o antigo avançado do Feyenoord e do Newcastle se envolvia em conflitos com jogadores seus. 

Quando orientava o Malmo FF, Behrang Safari e Rasmus Bengtsson sentiram-se maltratados pelo polémico dinamarquês. Mais tarde, já na seleção, Hugo Larsson não escondeu o cansaço pela falta de minutos sob o comando de Jon Dahl Tomasson, e o dinamarquês também teve um pequeno desentendimento com Anthony Elanga.

No relvado, Tomasson foi vaiado durante a apresentação antes do decisivo duelo frente à Suíça, e surgiram faixas a pedir a saída do "Diabo Dinamarquês" após mais uma derrota embaraçosa frente ao Kosovo, o que levou a imprensa sueca a criticar Tomasson por não utilizar as substituições, por insistir no 3-5-2 e por esconder o onze inicial frente ao Kosovo, deixando os próprios jogadores sem saber quem ia jogar até menos de duas horas antes do apito inicial.

No final, a Federação Sueca sentiu-se obrigada a despedir o selecionador nacional, algo inédito na história do futebol sueco.