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Análise: Os irmãos Bellingham têm de se concentrar no relvado

Jude Bellingham, do Real Madrid, celebra com a mãe Denise, o pai Mark e o irmão Jobe após a final da Liga dos Campeões
Jude Bellingham, do Real Madrid, celebra com a mãe Denise, o pai Mark e o irmão Jobe após a final da Liga dos CampeõesJUSTIN TALLIS / AFP / AFP / Profimedia

Quando Jude Bellingham saiu do relvado na Albânia, no domingo, para dar lugar a Morgan Rogers, é possível que os alarmes tenham voltado a soar para Thomas Tuchel.

Bellingham, estrela da seleção inglesa, é indiscutivelmente um talento excecional no futebol, mas certos aspetos do seu comportamento ameaçam ofuscar o que faz dentro das quatro linhas.

Com apenas 22 anos, o médio exibe frequentemente uma postura de quem acredita não ter rival à altura.

Controvérsia Tuchel

Quem poderá esquecer, por exemplo, a forma como festejou o golo do empate nos instantes finais frente à Eslováquia, no Europeu-2024.

"Quem mais?" disse ao correr para a lateral do campo, acrescentando após o jogo: "Ouvimos muita conversa fiada, por isso é bom, quando se corresponde, poder devolver um pouco."

Estaria a dirigir-se ao selecionador Gareth Southgate? Ou aos muitos adeptos, jornalistas e comentadores que criticaram as suas exibições no torneio? Seja como for, a mensagem foi clara.

Thomas Tuchel sucedeu entretanto a Southgate no comando da seleção inglesa e já tinha causado polémica com um comentário anterior sobre a atitude de Bellingham.

"Por vezes vê-se a explosão contra os árbitros e a raiva," terá dito o alemão: "Esse lado é difícil de encontrar. Se ele sorri, conquista todos, mas por vezes nota-se a fúria, a fome e o fogo, e isso manifesta-se de uma forma que pode ser um pouco repulsiva."

Descontente na Albânia

Após o jogo na Albânia, Tuchel voltou a ser questionado sobre a linguagem corporal de Bellingham depois de o ter substituído.

“Não gostou, mas ninguém gosta. É assim... É a decisão e ele tem de a aceitar," afirmou: "Vi que não estava satisfeito. Até certo ponto, quando se tem jogadores como o Jude, tão competitivos, nunca vão gostar, mas a minha palavra mantém-se. Trata-se de padrões, de nível, de compromisso e respeito mútuo... Não vamos alterar a decisão só porque alguém agita os braços.”

Mais uma vez, a narrativa desviou o foco do que foi uma exibição mais do que aceitável do jogador do Real Madrid.

Exibição completa de alto nível

Os quatro toques na área adversária só foram superados por Harry Kane, capitão de Inglaterra, que só tocou na bola na área ao marcar o primeiro golo aos 74 minutos.

Com 79 toques no total, foi o médio ou avançado inglês mais interventivo, e os seus 12 duelos individuais, dos quais venceu sete, foram também o registo mais elevado da partida.

Na defesa, foi quem mais vezes recuperou a bola, partilhando o registo máximo de desarmes, e foi o único a ter sucesso em todos eles; além disso, conquistou três faltas, mais do que qualquer outro jogador em campo.

Tal como acontece nas suas exibições pelo Real Madrid, a qualidade de Bellingham é impossível de ignorar, o que torna ainda mais vincada a exigência de Tuchel por um comportamento exemplar.

Jobe com dificuldades no Dortmund

Arriscaria o selecionador inglês realmente deixar o médio fora da convocatória para o Mundial, só porque Bellingham se está a tornar imprevisível? Tal decisão seria, provavelmente, a maior da carreira de Tuchel, especialmente se os Três Leões fracassassem nos Estados Unidos.

O 'fogo' de que o alemão fala parece vir do pai de Bellingham, Mark, que se diz ser excessivamente agressivo e exigente nos bastidores, quando o assunto são os seus filhos e as respetivas carreiras futebolísticas.

O outro filho, Jobe, não teve um início feliz no Borussia Dortmund, enquanto a família procura garantir que o mais novo siga um percurso semelhante ao do irmão. Na estreia, foi substituído ao intervalo frente ao St. Pauli, o que levou o pai a dirigir-se furiosamente à zona dos balneários para confrontar o diretor desportivo do Dortmund, Sebastian Kehl.

A discussão que se seguiu não foi bem recebida e, desde então, os pais ficaram proibidos de aceder a essas áreas.

Apenas um jogo completo na Bundesliga

Talvez a irritação de Mark Bellingham continue a afetar Jobe, pois em 16 jogos em todas as competições pelo clube alemão, só conseguiu uma assistência na Liga dos Campeões frente ao Copenhaga.

Se incluirmos o Mundial de Clubes no verão, pode acrescentar mais uma assistência e um golo ao seu currículo, mas é evidente que este rendimento está longe de ser suficiente.

Foi apenas no encontro frente ao Hamburgo, no início de novembro, que jogou finalmente os 90 minutos completos na principal liga alemã, e só por mais duas vezes – frente ao Copenhaga na Champions e ao Eintracht Frankfurt na Taça da Alemanha – não foi substituído antes do final ou começou no banco.

Com as suas avaliações Flashscore raramente a ultrapassar sete em dez, percebe-se o quanto Jobe está a sentir dificuldades na nova realidade.

Hora de deixar o futebol falar...

Para dois jovens que ainda têm os melhores anos da carreira pela frente, vale a pena questionar se o atual estado das coisas é apenas passageiro ou se estamos a assistir ao início do declínio do império Bellingham.

Está na altura de voltarem a deixar o futebol – e nada mais – falar por si...

Jason Pettigrove
Jason PettigroveFlashscore