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Análise: FC Porto e Inter Miami obrigados a depender da lenda, do miúdo e dos guarda-redes

Um jovem dragão adormece durante a primeira jornada do Mundial de Clubes diante do Palmeiras
Um jovem dragão adormece durante a primeira jornada do Mundial de Clubes diante do PalmeirasČTK / AP / Jonathan Moscrop/Flashscore

Três pontos são fundamentais para o FC Porto e Inter Miami na segunda jornada do Grupo A do Mundial de Clubes. Em caso de vitória, as equipas ficam a um passo do apuramento para a fase a eliminar, mas para isso é preciso marcar golos e nenhuma foi particularmente perigosa na estreia. Num duelo marcado pelo encontro entre o passado, presente (Messi) e o futuro (Mora), o destaque vai mesmo para as falhas defensivas, carências coletivas e... os guarda-redes.

Acompanhe aqui as incidências do encontro

Quem viu o jogo inaugural do torneio sabe que o Inter Miami não é propriamente um adversário muito complicado para os dragões. Nem sequer perto da ameaça que apresentou o Palmeiras, de Abel Ferreira, uma equipa que junta o talento individual à organização coletiva imaginada e concretizada por Abel Ferreira. 

Defesas permeáveis e exibições que não convencem

Desta feita, a missão da turma de Anselmi é fácil na teoria e praticamente impossível na prática, um mistério por resolver há cerca de 20 anos: como parar Messi? Os norte-americanos (que curiosamente não tiveram nenhum jogador dos EUA no onze), só ameaçaram nos últimos minutos 15 minutos pelos pés do craque argentino, enquanto Sergio Busquets e Luís Suárez estiveram irreconhecíveis. Por outro lado, o ex-Casa Pia Telasco Segovia e Federico Redondo parecem ser os companheiros mais perigosos do camisola 10.

Destaque ainda para a falta de intensidade que colocam na partida - ao contrário do Palmeiras que explorou o fator físico para reações rápidas e ganhar segundas bolas -, e ainda uma defesa bastante permeável, que só não foi punida graças aos feitos heróicos de Óscar Ustari. O Inter Miami venceu apenas três vezes nos últimos 11 jogos (empatou 3 e perdeu 5), sendo que esses três triunfos foram em casa e o palco escolhido é o Mercedes-Benz Stadium, em Atlanta, de onde saiu derrotado em cinco das últimas sete ocasiões.

Sergio Busquets teve apenas 80% de eficácia nos 69 passes tentados
Sergio Busquets teve apenas 80% de eficácia nos 69 passes tentadosPATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP/Opta by Stats Perform

A verdade é que, antes de virar a atenção para os pré-reformados da Florida, o técnico portista tem muito com que se preocupar olhando para dentro. Os azuis e brancos até mostraram qualidade a espaços e podiam ter marcado, mas assim que o desgaste se começou a sentir (final da primeira parte e a meio da segunda, como pode ver no gráfico abaixo), foram empurrados para o seu próprio meio-campo. Valeu Cláudio Ramos.

Onda de ímpeto do Palmeiras a azul e a do FC Porto a vermelho
Onda de ímpeto do Palmeiras a azul e a do FC Porto a vermelhoOpta by StatsPerform

Apesar das dificuldades defensivas, o FC Porto conseguiu, finalmente, estar dois jogos oficiais consecutivos sem sofrer golos (depois do 3-0 com o Nacional no fecho da Liga Portugal), algo que não acontecia desde dezembro de 2024. Graças a São Cláudio, que segundo a estatística evitou 2,11 xGA (golos esperados), a retaguarda recebeu uma importante injeção de moral antes de enfrentar um ataque que será menos veloz, mas mais cerebral. 

É no plano ofensivo que surgem as grandes dúvidas, principalmente porque, teoricamente, os dragões são favoritos. E os indícios deixados contra o Palmeiras não foram propriamente tranquilizadores. A melhor ocasião de golo chegou numa recuperação alta, que Rodrigo Mora concluiu na grande área, e os restantes lances de perigo surgiram de bola parada.

FC Porto é favorito frente ao Inter Miami
FC Porto é favorito frente ao Inter MiamiAHMED AWAAD / NurPhoto / NurPhoto via AFP/Opta by Stats Peform

Com bola, destaque ainda para dois erros de Alan Varela dentro da própria área que podiam perfeitamente ter resultado em golo. Além desses lances que saltaram à vista, há ainda outras preocupações ilustradas pelo gráfico abaixo: a falta total de ligação entre o meio-campo e a linha da frente (principalmente com Samu), as intermitências na conexão entre a defesa e a preferência pelo corredor esquerdo (46,5% dos ataques foram feitos por esse lado). Curiosamente, o jogador que mais procurou Samu e vice-versa foi João Mário (nove passes tentados entre ambos).

Rede de ligações mostra pouca procura por Samu
Rede de ligações mostra pouca procura por SamuOpta

Duelos em destaque

Oscar Ustari e Cláudio Ramos

Os dois grandes responsáveis pelos pontos que as equipas somam. Ustari evitou uma tremenda humilhação do Inter Miami durante a primeira parte, com duas intervenções de grande nível antes de defender a grande penalidade de Trézéguet em cima do intervalo. Na segunda parte, carregou consigo essa confiança e acabou a somar um total de oito defesas, conseguindo uma nota 9.0 segundo a classificação do Flashscore. 

Desde cedo visto como uma promessa das balizas, o argentino foi campeão mundial em sub-20 e venceu a medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos Pequim-2008, mas nunca conseguiu dar o salto para um patamar superior. A sua curta carreira na Europa teve como destinos o Getafe, Almería e Sunderland, antes de voltar para o país natal e, depois, México, Uruguai e Estados Unidos, onde na temporada passada somou apenas um jogo no Inter Miami. Agora, aos 38 anos, tocou o ponto mais alto na carreira de clubes, após duas internacionalizações pela Argentina.

Numa carreira algo semelhante, Cláudio Ramos foi um dos grande guarda-redes da Liga portuguesa ao serviço do Tondela até se transferir para o FC Porto, onde assumiu um lugar secundário. Apesar disso, as boas exibições sempre que foi chamado valeram-lhe uma internacionalização pela seleção portuguesa quando ainda estava ao serviço dos beirões, um prémio merecido para uma carreira que o merecia. 

O viseense de 33 anos até estava preparado para ser suplente, mas uma lesão de Diogo Costa precipitou a sua titularidade. Talvez inspirado pelo que fez o guardião contrário na véspera, Cláudio Ramos até estava a ter uma tarde calma até ser chamado a intervir em cima do intervalo. As duas intervenções consecutivas deixaram público e comentadores ao rubro e Abel Ferreira rendido.

"Se o segundo guarda-redes do FC Porto tem esta qualidade, imaginem o primeiro, não é? Acho que, sem dúvida nenhuma, o melhor jogador em campo foi o Cláudio Ramos", acabou por admitir o treinador do Palmeiras no final da partida.

Ustari, no crepúsculo da carreira, e Cláudio Ramos, a entrar na reta final, vão ser certamente os dois homens-chave do encontro, embora as luzes mediáticas incidam sobre os dois jogadores mais abaixo.

Lionel Messi e Rodrigo Mora

Messi volta a reencontrar o FC Porto, um clube com o qual tem boas recordações: estreou-se pela equipa principal do Barcelona frente aos dragões num amigável de inauguração do Estádio do Dragão, em 2002, e venceu a Supertaça Europeia de 2011 marcando um golo e uma assistência, num jogo em que o seu agora treinador, Javier Mascherano, cumpriu os 90 minutos pelos blaugrana

O jogo inaugural contra o Al Ahly não estava a ser bom para o craque argentino, até que começou a descobrir espaços no último terço da partida. Primeiro ameaçou de livre direto, depois tirou um bom cruzamento para Fafa Picault e, ao cair do pano, ficou perto de um momento de magia com um cruzamento-remate evitado pelo guardião Mohamed El Shenawy.

Os toques na bola de Messi no primeiro jogo
Os toques na bola de Messi no primeiro jogoOpta

Os 37 anos de Lionel Messi contrastam com os 18 recém-cumpridos pelo diamante do Olival que já admitiu ser um "sonho de criança" enfrentar o astro e trocar de camisolas no final do encontro. O menino ainda tem muita sopa para comer para chegar ao patamar daquele que é por muitos considerado o melhor jogador de sempre, mas não há como ver parecenças no estilo de jogo de ambos, até pelos lugares que pisam no campo.

Rodrigo Mora tem brilhado ao mais alto nível doméstico, mas ainda não convenceu no palco internacional. Verdade seja dita, também não teve grandes oportunidades. Foi parcamente utilizado na Liga Europa, não jogou pela seleção portuguesa quando foi convocado por Roberto Martínez e somou uma assistência em dois jogos pelos sub-21 esta época. Depois de ameaçar na primeira jornada, porque não abrir a porta do Mundial com um estrondo e estragar as contas ao seu ídolo?

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Outras estatísticas relevantes:

- Esta será a primeira partida competitiva entre uma equipa da MLS e uma equipa de uma liga europeia continental.

- O empate sem golos do Inter Miami com o Al Ahly na estreia do Campeonato do Mundo de Clubes foi apenas a terceira vez que a equipa de Lionel Messi empatou a zero nos seus últimos 108 jogos a titular, desde fevereiro de 2022. Messi nunca foi titular em empates consecutivos sem golos na sua carreira.

- O FC Porto não sofreu golos, apesar de ter sofrido um total esperado de 2,1 golos contra o Palmeiras no domingo, o maior xG sofrido num jogo do Campeonato do Mundo de Clubes (incluindo o formato anterior) sem sofrer golos desde pelo menos 2017.

- O FC Porto não sofreu golos nos  dois últimos jogos em todas as competições (3-0 frente ao CD Nacional a 17 de maio), a primeira série consecutiva de jogos sem sofrer golos em todas as competições desde os últimos quatro jogos em dezembro de 2024.

- O FC Porto permitiu ao Palmeiras 39 toques na grande área na primeira jornada do Campeonato do Mundo de Clubes, o maior número num jogo em todas as competições desde outubro de 2024 (42 contra o Manchester United).

- Óscar Ustari fez oito defesas no jogo de estreia do Inter Miami no Mundial de Clubes da FIFA, o seu maior número numa partida desde que chegou ao clube, no ano passado. Ustari registou um valor de 2,99 golos evitados na partida.

- Samu Aghehowa sofreu cinco faltas contra o Palmeiras na primeira jornada, mais do que qualquer outro jogador do grupo A. Entretanto, nenhum outro jogador do FC Porto ganhou mais duelos do que o espanhol (7).

Análise de André Guerra
Análise de André GuerraFlashscore