Passei o torneio inteiro entre Alemanha e Inglaterra, e posso dizer que, pelo menos nestes dois países, o Mundial trouxe apenas um ganho imaginário e gerou um outro problema bastante prático para o Brasil.
Antes de mais nada, o respeito pelo "futebol brasileiro” continua o mesmo. Para o resto do planeta, o "futebol brasileiro” é basicamente composto pelos seus craques – que continuam da mesma maneira a bilhar no Real Madrid, PSG, Chelsea, etc – e pela seleção brasileira – que não teve a sua reputação alterada neste Mundial, por razões óbvias.
Os clubes locais ainda têm um peso muito menor nesta equação.

Aspeto positivo e um negativo
Qual o ganho trazido pelo Mundial? Os clubes da Série A que jogaram o novo evento da FIFA agora são mais conhecidos da imprensa e também do público que gosta de futebol na Europa – da mesma maneira que os brasileiros estão mais familiarizados com o Esperànce Tunis e o Mamelodi Sundowns.
Já o problema gerado pela competição é que o futebol mais rico ganhou mais uma vitrine para observar talentos – vide o assédio europeu por Jhon Arias, do Fluminense, Richard Ríos, do Palmeiras, e Wesley, do Flamengo.

Quanto aos treinadores, apenas Filipe Luís, que já era conhecido no Velho Continente, chamou a atenção de alguns clubes internacionais.
Renato Portaluppi, por outro lado, ganhou mais destaque pelo seu passado boémio e polémico do que pelos bons jogos do Fluminense. As divertidas histórias de Renato enquanto jogador vieram à tona em sites e redes sociais importantes de alguns países europeus.
Abel Ferreira, do Palmeiras, só foi citado pela imprensa portuguesa.
E o interesse dos adeptos e da imprensa em geral pelo Mundial por aqui fora foi pequeno.
Um exemplo patente é a capa do jornal inglês The Guardian, no dia seguinte à conquista do Chelsea. O diário trouxe duas notas desportivas no alto da capa, mas nenhuma delas era sobre o Mundial de Clubes (uma era sobre Wimbledon, outra sobre o Euro Feminino).
Na página principal dos principais jornais ingleses e alemães no domingo à noite, o duelo entre Chelsea e PSG foi quase inteiramente ignorado.

A necessidade de afirmação perante ao Velho Mundo criou um monte de narrativa no Brasil do tipo “imprensa internacional elogia Botafogo”, mas, no fundo, nada mudou.
Esta "imprensa internacional" era um jornal aqui e ali de Espanha.
Nos países do norte da Europa, continuamos a ver crianças com a camisola da seleção brasileira – na sua maioria, de Neymar. Ainda não vemos pequenos ingleses ou alemães com o manto do Flu, semifinalista do Mundial dos Estados Unidos.
Mas o "futebol brasileiro" continua adorado, com ou sem Mundial.
