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Exclusivo com Klakstein, selecionador das Ilhas Faroé: "Somos capazes de muito mais do pensam"

Eydun Klakstein, selecionador das Ilhas Faroé
Eydun Klakstein, selecionador das Ilhas FaroéČTK / Vostárek Josef

Com apenas uma partida por disputar no grupo, as Ilhas Faroé ainda têm hipótese de se qualificar para o Mundial do próximo ano, o que seria um dos feitos mais notáveis da história do futebol. O Flashscore conversou em exclusivo com o selecionador Eydun Klakstein sobre os bastidores do milagre futebolístico faroês.

Embora as Ilhas Faroé tenham cerca de 53.000 habitantes, 5.000 deles são futebolistas registados, o que representa aproximadamente 10 por cento da população total, já que o futebol tornou-se um símbolo e uma expressão da identidade faroesa.

Em 2017, um algoritmo classificou as Ilhas Faroé como a seleção nacional que mais superava as expectativas a nível mundial, liderando a lista de pontos do ranking FIFA por habitante. Atualmente, ocupam a 136.ª posição mundial, mas tendo em conta que apenas metade do plantel atual é composta por profissionais a tempo inteiro, os resultados da última década continuam a ser um feito extraordinário.

Estão agora perto do maior feito de sempre, já que os pequenos nórdicos ocupam o terceiro lugar do Grupo L, apenas um ponto atrás da República Checa, que está em segundo, com uma partida por disputar na luta pelo acesso ao playoff do Mundial-2026.

Se conseguirem a qualificação, serão de longe a nação mais pequena de sempre a chegar ao Mundial da FIFA.

Nesta entrevista exclusiva ao Flashscore, o selecionador Eydun Klakstein fala sobre o contexto dos feitos alcançados e sobre a vontade nórdica de lutar contra todas as probabilidades. Além disso, Klakstein explica como os futebolistas faroeses são quase sempre subestimados e revela como planeiam surpreender a Croácia.

Ilhas Faroé surpreenderam a República Checa com uma vitória por 2-1 em Tórshavn
Ilhas Faroé surpreenderam a República Checa com uma vitória por 2-1 em TórshavnČTK / Šimánek Vít

- Quais considera serem os principais fatores para o desenvolvimento que o futebol faroês registou nos últimos 15 anos? Deve-se à presença de mais estrangeiros na Liga nacional, mais jogadores faroeses no estrangeiro, melhores infraestruturas com mais pavilhões cobertos, ou outros motivos?

- Não se pode apontar apenas uma razão para o sucesso – não aconteceu de um dia para o outro. Não se trata de uma equipa, de um treinador ou de um sistema. Existem 17 clubes espalhados pelas Ilhas Faroé e a infraestrutura futebolística é boa, com muitos campos de relva sintética utilizados durante todo o ano. Todos os campos estão abertos e, fora dos horários de treino, qualquer pessoa pode entrar num estádio – incluindo o estádio nacional – com uma bola debaixo do braço e jogar futebol. A Liga nacional evoluiu bastante nos últimos anos. Muitos clubes tornaram-se mais profissionais, com treinadores e especialistas a tempo inteiro. A condição física dos jogadores melhorou e há um desenvolvimento técnico e tático constante.

- Vem de uma pequena ilha, com comunidades pequenas e talvez poucos recursos, e quando compete internacionalmente, normalmente enfrenta grandes desafios. Isso influencia a mentalidade desportiva faroesa, a ideia de querer mostrar ao mundo “que também conseguimos”?

- Durante séculos, o povo faroês lutou contra o vento, contra as forças da natureza – vento, chuva, mar, tempestade – contra as probabilidades, contra toda a lógica. Isolados no Atlântico Norte, pequenos, duros, implacáveis. E, mesmo assim, conseguimos criar uma das melhores sociedades do mundo – segura, rica e unida. Muito do que foi alcançado neste país ao longo da história aconteceu apesar das circunstâncias. A vontade de sobreviver – e de viver – apesar das dificuldades e da adversidade está nos nossos genes, na nossa cultura, na nossa herança. Está no nosso sangue, no nosso cérebro, no nosso coração. E somos capazes de muito mais do que os outros pensam e, por vezes, até do que nós próprios acreditamos.

Classificação atual do Grupo L
Classificação atual do Grupo LFlashscore

- As equipas das Ilhas Faroé, incluindo a seleção nacional, têm conseguido resultados promissores na última década, mas acha que os adversários continuam a subestimar-vos?

- Esperamos sempre que os adversários nos subestimem, mas já não é tão marcante como antes. Quando defrontámos a República Checa em outubro, senti um respeito genuíno, algo raro. Estavam bem preparados, arriscaram menos do que o habitual, fizeram faltas táticas para travar os nossos contra-ataques e jogaram de forma física. Por isso, a vitória por 2-1 foi uma das melhores que conseguimos. E agora, ao defrontar a Croácia, não podem dizer que não foram avisados.

- Qual foi o maior fator por trás dos resultados alcançados nas qualificações para o Mundial?

- Desde o primeiro dia, trabalhámos arduamente para criar uma equipa forte, com defesa organizada, ataque direto e muito empenho. Nos últimos dez jogos, concedemos oito golos – um registo historicamente forte para nós. Também desenvolvemos o jogo de contra-ataque e o ataque organizado, e estamos razoavelmente satisfeitos por termos marcado dez golos na qualificação. Os jogadores têm sido fantásticos e mantiveram um nível elevado jogo após jogo. Isto tem de continuar se quisermos alcançar bons resultados nas próximas partidas.

- De uma equipa que talvez dependesse muito do instinto de luta e da força física, parecem agora jogar um futebol mais baseado na posse de bola. Como descreve essa evolução?

- A nossa base é a organização tática, a força física, a luta e a união. Depois podemos falar de jogar futebol, atacar, criar oportunidades e marcar golos. Estamos muito mais fortes fisicamente do que há dez anos, e os jogadores também evoluíram tecnicamente e taticamente. No último ano, trabalhámos bastante a defesa e o contra-ataque, e a equipa técnica anterior também apostou muito no trabalho coletivo e no ataque. Este verão e outono, tudo se juntou numa maior unidade, e conseguimos exibições sólidas e excelentes resultados.

- Vão ter pela frente um jogo fora muito difícil contra a Croácia. O que aprendeu com o primeiro duelo em casa e como encara essa partida?

- A Croácia está entre as dez melhores seleções do mundo, por isso é preciso uma exibição muito especial só para estar na disputa. O nosso desempenho em casa foi bom e ficámos desapontados por não somar pontos. Depois desse jogo, ficou claro mais uma vez que, se estivermos bem organizados, defendermos com solidez, lutarmos com tudo o que temos e tivermos coragem e vontade de jogar e atacar, podemos competir contra a elite mundial. O jogo fora contra a Croácia será o mais difícil desta qualificação, mas estamos determinados a lutar pela nossa oportunidade. A possibilidade de sucesso é maior se mantivermos o nível tático, mental e futebolístico que temos mostrado até agora.

- O que significaria para as Ilhas Faroé conseguir a qualificação para o playoff?

- Temos a oportunidade, mas há muito por fazer. Temos de vencer a Croácia e a República Checa não pode ganhar a Gibraltar. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para conseguir o grande resultado – não podemos fazer mais. E, se acontecer, será um feito histórico – ainda maior do que aquilo que já alcançámos nesta qualificação.

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