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Morre Manuel Lapuente, o icónico treinador que orientou o México no França-1998

Manuel Lapuente no banco do México
Manuel Lapuente no banco do MéxicoGERARD MALIE / AFP

Detentor de uma grande personalidade e com a capacidade de convencer os seus jogadores, Manuel Lapuente não só forjou uma longa carreira, mas também uma escola que marcou uma época de ilusão quando o futebol mexicano se mediu de igual para igual com qualquer adversário. Este sábado morreu aos 81 anos.

Se há uma seleção mexicana que desperta nostalgia no país, é a do Mundial de França ou o Tri no início da década, cativando adeptos e estrangeiros pela sua determinação e capacidade de reverter situações adversas. O responsável por tudo, o criador dessa equipa querida por todos, foi Manuel Lapuente.

Nascido em Puebla, Lapuente nasceu em 1944, Manolo estreou-se como futebolista profissional aos 19 anos no Monterrey, mas seria na Franja da cidade que o viu nascer que viveria os seus melhores momentos como jogador. Embora não tenha conquistado nenhum campeonato a nível de clubes, fez parte dos que ganharam a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1967.

Apesar de a sua carreira nos relvados ter sido modesta, com a última passagem pelo Atlas, onde se retirou, a vida reservava-lhe a glória como treinador. Pensador como futebolista e, acima de tudo, com uma competitividade brutal e uma sede insaciável de vencer, Lapuente construiu um legado com a sua forma de pensar e sentir o futebol.

Viver para ganhar

Criticado pelos puristas que queriam beleza no jogo, Lapuente defendeu sempre o seu pragmatismo. "Se querem espetáculo, vão ao circo", disse uma vez à imprensa com a boina bem colocada na cabeça, os olhos bem abertos e a voz clara e franca. Foi essa visão com a qual construiu uma carreira que o tornou ídolo no Necaxa, no Puebla e no América, onde conquistou campeonatos memoráveis.

"Um dos melhores da história, senão o melhor. Pessoa extraordinária, coerente e um mestre. O treinador que mais confiou em mim. Vou sentir muito a sua falta. Só posso dizer obrigado", escreveu nas redes Ricardo Peláez, antigo avançado mexicano que foi treinado por Lapuente nos anos 90 no Necaxa, quando o clube viveu a melhor época da sua história, e na Seleção Mexicana do Mundial de França-1998.

Mas, para além da sua sabedoria e proximidade com os jogadores, a melhor apresentação que o próprio Lapuente escolheria para valorizar o seu trabalho são os 9 títulos com estes clubes. Um palmarés que tem por trás um método e uma forma de encarar o jogo, mas também a vida. Um percurso que educou mais do que um futebolista.

A inesquecível seleção de Manolo

E embora a sua influência na liga mexicana seja indiscutível, o que mais se recorda de Lapuente é a sua passagem pela Seleção Mexicana de Futebol, com a qual conquistou o único título oficial da FIFA que o Tri tem na sua história, ao vencer a Taça das Confederações em 1997, num Estádio Azteca à beira do delírio e com o Brasil superado.

Um ano depois, a equipa de Lapuente marcaria duas gerações no Mundial de França 1998. Com um equipamento icónico que ostentava o calendário asteca ao peito, o Tri soube sofrer e, talvez pela primeira vez na sua história, mostrou ao mundo esse lado da idiossincrasia que fala de lutar e nunca desistir. Os empates frente à Bélgica e aos Países Baixos, sempre recuperando de desvantagem, cativaram um país que começava a habituar-se a não ser apenas um mero participante em competições internacionais. Ironias da vida, o jogo dos oitavos de final em que a Alemanha venceu o México perto do fim marcaria o início de uma longa agonia de derrotas inexplicáveis em Mundiais.

A morte de Manuel Lapuente aos 81 anos deixa órfã a escola lapuentista que elevou treinadores e educou pessoas de bem. A sua passagem pelo futebol mexicano ficou evidente e exige sempre estar presente no debate diário em que todos se envolvem, mais cedo ou mais tarde. Aquele que diz que o mais importante será sempre ganhar.