Recorde aqui as incidências do encontro
Com tolerância de ponto concedida pelo governo, o Estádio Nacional de Cabo Verde estava a rebentar pelas costuras para empurrar a equipa a caminho do primeiro Mundial da sua história. O interesse era tanto que não havia sequer coletes suficientes para todos os jornalistas que queriam acompanhar o encontro. E com boa razão, porque os Tubarões Azuis só precisavam de ganhar aos últimos classificados para carimbar o bilhete. Aliás, o empate ou derrota até podiam ser suficientes, caso os Camarões não vencessem Angola (empataram 0-0).
A primeira parte, com as lendas Ryan Mendes (mais internacional de sempre, 91 jogos), Vozinha (segundo, com 85) e Garry Rodrigues (quinto, com 59) no onze, foi de sentido único: Essuatíni tentou ao máximo frustrar a equipa da casa, quebrando o ritmo de jogo com sucessivas paragens e demoras na retoma. Só aos 20 minutos surgiu a primeira oportunidade da partida, quando Dailon Livramento aproveitou uma boa simulação de corpo para rematar de primeira a rasar o poste.
Pouco depois, os cabo-verdianos ficaram a pedir grande penalidade por uma falta clara, mas o árbitro nada assinalou e sem vídeo-árbitro os jogadores ficaram a reclamar para ninguém. Até ao intervalo, o guarda-redes Shabalala mostrou serviço para aguentar o nulo ao travar dois remates à figura. Do outro lado, Vozinha, histórico guardião que regressou da reforma internacional aos 39 anos, era um mero espetador. Ainda assim, ao descanso teimava o nulo.
No arranque da segunda parte, a história foi diferente. Logo após o reatamento, na sequência de um pontapé de canto, a bola foi levantada para a área, nova simulação deixou a defensiva essuatina à deriva e um ressalto caiu nos pés de Dailon Livramento à boca da baliza, que aproveitou para fuzilar as redes e soltar uma explosão de alegria nas bancadas.
O mais difícil estava feito: o muro ruiu. Logo depois, Jamir Monteiro disparou para defesa apertada de Shabala com ajuda da trave. A pressão intensificou-se e, no seguimento desse lance, Yannick Semedo levantou para o segundo poste, Diney Borges ganhou de cabeça e Willy Semedo só teve de encostar para assinar o 2-0. Em seis minutos, Cabo Verde via o Mundial ao virar da esquina.
Os anfitriões limitaram-se a gerir a vantagem, mas também os ânimos do público para evitar invasões de campo fora de tempo. Destaque ainda para a entrada de Stopira (Torreense), também ele já reformado do futebol internacional como o quarto mais internacional de sempre (59 jogos), para delírio dos 15.000 espetadores, praticamente ao mesmo tempo que Dailon Livramento ficou a centímetros do terceiro.
Mas a festa não ficaria por aí, faltava a cereja no topo do bolo: Aos 37 anos, Stopira fechou com chave de ouro a qualificação ao aproveitar uma série de ressaltos na pequena área para fazer o 3-0 e confirmar a presença de Cabo Verde no Mundial-2026. Um momento maravilhoso de se assistir com uma chuva de abraços ao lendário defesa e uma festa incrível nas bancadas.
Os Tubarões Azuis vão dar à costa do maior palco do futebol internacional que será disputado nos Estados Unidos, México e Canadá!
Na 23.ª edição do Mundial de futebol, a disputar entre 11 de junho e 19 de julho de 2026, nos Estados Unidos, no Canadá e no México, Cabo Verde pode tornar-se o mais pequeno país a disputar uma fase final, destronando Trindade e Tobago, e o segundo menos populoso, apenas atrás da Islândia.
A seleção cabo-verdiana é a 19.ª seleção a assegurar a qualificação para o Mundial-2026, juntando-se aos anfitriões Estados Unidos, Canadá e México.
Cabo Verde é o terceiro estreante a assegurar uma vaga entre as 48 seleções presentes no Mundial-2026, juntamente com Jordânia e Uzbequistão, tornando-se na sexta nação africana apurada, depois de Marrocos, Tunísia, Egito, Argélia e Gana.