No início de dezembro, nas profundezas do SoFi Stadium em Inglewood, condado de Los Angeles, 15 ventiladores com mais de dois metros de altura aguardavam o momento em que o recinto receberá oito jogos do Mundial.
Se nessa altura a temperatura ultrapassar os 26,7 °C, estes vaporizadores gigantes serão ativados no estádio.
A 45 metros do relvado, uma cobertura garante sombra aos espectadores e o ar circula neste recinto aberto e sem climatização.
"Com 70.000 pessoas no estádio, em estado de euforia, queremos estar preparados para responder a uma vaga de calor intenso", explica à AFP Otto Benedict, vice-presidente operacional da sociedade que gere o estádio, inaugurado em 2020.
Os outros 15 estádios do torneio não são tão modernos e o sul da Califórnia também não é a zona de maior risco nesta competição, marcada de 11 de junho a 19 de julho.
Pausas para reidratação
Um estudo publicado no International Journal of Biometeorology refere uma "séria preocupação com a saúde dos jogadores e árbitros no Mundial-2026 devido ao calor extremo" e identifica seis sedes "de alto risco": Monterrey (México), Miami, Kansas City, Boston, Nova Iorque e Filadélfia (Estados Unidos).
O relatório 'Terrenos em risco' da associação Football for Future especifica que em 2025 essas cidades registaram pelo menos um dia com temperaturas superiores a 35 graus em termómetros de bulbo húmido (WGBT), que consideram temperatura e humidade, "o limite da adaptação humana ao calor".
O sufocante Mundial de Clubes do verão de 2025 nos Estados Unidos não escapou a estas condições por vezes extremas, e a FIFA foi alvo de críticas de jogadores e treinadores.
Por isso, a entidade máxima do futebol decidiu implementar pausas para hidratação aos 22 e 67 minutos de todos os jogos do Mundial, independentemente das condições, uma boa notícia para as marcas publicitárias e os canais de transmissão.
E o calendário privilegiou horários diurnos para os jogos em estádios climatizados (Dallas, Houston, Atlanta) e as horas mais frescas da tarde nas zonas de risco.
"Nota-se claramente um esforço para programar os horários dos jogos tendo em conta as preocupações relacionadas com a saúde e o rendimento dos jogadores", afirmou um porta-voz do sindicato FIFPro, que preferiu manter o anonimato.
Segundo ele, isto seria "uma consequência direta das lições aprendidas no Mundial de Clubes", explicou.
"Jogos de risco"
O sindicato defende que continuam a existir "jogos de risco" e recomenda o adiamento dos encontros quando se ultrapassarem os 28 graus. A FIFA não respondeu ao pedido da AFP sobre o seu futuro protocolo em caso de condições extremas.
Para além dos jogadores, o risco para os espectadores nos estádios ou nas fan zones tem sido "subvalorizado" em muitas ocasiões, afirma Christopher Fuhrmann, diretor-adjunto do Gabinete Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica.
Os adeptos geram calor "com o seu entusiasmo" e, ao contrário dos jogadores em plena forma física, podem ter "comorbilidades" que os tornam mais vulneráveis a golpes de calor potencialmente fatais.
No interior dos estádios a temperatura é sempre mais elevada, já que são estruturas construídas em cimento, asfalto ou metal, indica o investigador.
Fuhrmann destaca ainda possíveis problemas com "a circulação do ar", "as zonas de sombra" e a "hidratação" dos adeptos, muitas vezes consumidores de bebidas alcoólicas.
A FIFA ainda não informou as empresas que operam os estádios se os adeptos poderão entrar com garrafas recarregáveis ou se terão de pagar pela água.
"Prevenção"
Para o meteorologista do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) Benjamin Schott, que aconselhou a FIFA e o grupo de trabalho dedicado ao Mundial, é fundamental insistir na "prevenção" dos espectadores, sobretudo dos estrangeiros, que desconhecem o clima local.
O NWS, que terá um interlocutor por cada cidade-sede, irá emitir alertas de acordo com as previsões meteorológicas. A FIFA e as autoridades locais terão a decisão final sobre a realização dos jogos.
"Trabalhamos com as diferentes equipas de gestão de catástrofes (governos, forças de segurança, bombeiros, etc.) para garantir a segurança de todos e prepararmo-nos para qualquer situação que a Mãe Natureza nos possa reservar", considera.
O meteorologista alerta que as condições do Mundial de Clubes não foram "nada de excecional" num país onde os recordes de temperatura são batidos "todos os anos".
