Há 36 anos, o reino do Norte de África foi o primeiro país do continente a apresentar uma candidatura para a edição de 1994 do Mundial, que acabou por ser atribuída aos Estados Unidos da América.
Seguiram-se quatro outras tentativas falhadas, incluindo a edição de 2010, atribuída à África do Sul, e o Mundial-2026, ganho novamente pelos Estados Unidos, desta vez juntamente com o México e o Canadá.
Finalmente, Marrocos vai acolher a edição de 2030, juntamente com Espanha e Portugal, uma candidatura que inclui três jogos na América do Sul para celebrar o centenário do torneio, que a FIFA deverá aprovar oficialmente na quarta-feira.
O país norte-africano de 38 milhões de habitantes tem uma taxa de crescimento de 2,8% e uma taxa de desemprego de 13,6% até ao terceiro trimestre de 2024, segundo dados oficiais.
Estádio monumental de Casablanca
"É uma oportunidade única para acelerar a dinâmica de crescimento da economia nacional nos próximos anos, criar oportunidades de emprego e permitir o desenvolvimento da atratividade turística do país", explicou Fouzi Lekjaa, presidente do comité do Mundial-2030, num conselho de ministros presidido pelo rei Mohammed VI, na quarta-feira.
Entre os projetos, "a ampliação e renovação dos aeroportos das seis cidades anfitriãs" e "o desenvolvimento de infra-estruturas hoteleiras e comerciais", de acordo com um comunicado emitido após o conselho de ministros.

O país prevê ainda a renovação de seis estádios, em Rabat, Casablanca, Fez, Tânger, Marraquexe e Agadir, para além da construção de um gigantesco estádio com capacidade para 115 mil pessoas em Benslimane, nos arredores de Casablanca, com um orçamento de 480 milhões de euros.
Marrocos espera que este estádio acolha a final ou, na sua ausência, o jogo de abertura da competição.
"Diplomacia do futebol"
Estas infraestruturas "são um legado para as gerações futuras", mas o país tem outras ambições, incluindo a promoção da sua imagem, disse o investigador em política desportiva Moncef El Yazghi.
A ideia de tentar acolher um Mundial nasceu depois de os Leões do Atlas se terem qualificado para a segunda fase do Mundial-1986, no México, um sucesso sem precedentes para o futebol africano na altura.
O sociólogo especializado em ciências do desporto Abderrahim Bourquia considera que a melhoria dos serviços e das infra-estruturas não só será "um motor económico", como também permitirá "associar Marrocos aos valores positivos do desporto, da qualidade de vida e da confiança".
Historicamente aberto à Europa em particular, Marrocos concentrou-se nos últimos anos na África subsariana, reforçando a sua presença e investindo nos países vizinhos.
Com o seu regresso à União Africana em 2017, que tinha abandonado há quatro décadas devido a divergências sobre o Sara Ocidental, "assistimos a uma diplomacia do futebol com os países do continente", sublinhou El Yazghi, recordando 44 acordos de patrocínio com federações africanas nos últimos anos.
Marrocos acolherá a Taça das Nações Africanas em 2025 e aspira a acolher o ambicioso novo Mundial de Clubes na sua segunda edição, em 2029. A primeira edição realizar-se-á em 2025, nos Estados Unidos.
Contexto favorável
Para a nação norte-africana, o Mundial-2030 surge num contexto diplomático favorável, uma vez que vários países, incluindo a Espanha, reconheceram a sua soberania sobre o Sara Ocidental, um território que controla mas que é disputado pela Frente Polisário, apoiada pela Argélia.
O entendimento entre Rabat e Madrid "abriu a porta a uma reflexão sobre a organização conjunta do Mundial", explica o especialista em relações internacionais Tajeddine El-Husseini.
O momento de euforia desportiva também ajuda. A seleção nacional chegou às meias-finais do Mundial-2022 no Catar, a primeira equipa africana e árabe a fazê-lo, liderada por jogadores de topo como Yassine Bounou, Achraf Hakimi e Hakim Ziyech.