Mais

Opinião: Argentina sambou na cara de um Brasil atordoado, a anos-luz do seu maior rival

Golo de Matheus Cunha deu esperança aos mais inocentes
Golo de Matheus Cunha deu esperança aos mais inocentesLuis ROBAYO / AFP
O que se viu no Monumental de Núñez, na goleada de 4-1 da Argentina sobre o Brasil, foi algo histórico. Um vexame que escancarou a diferença de nível, momento e maturidade entre as duas equipas. De um lado, uma equipa pronta. Do outro, um emaranhado de convocados de um selecionador que esteve tão perdido quanto a sua equipa dentro de campo.

Mais do que o resultado, o desempenho tão diferente dos rivais ficará marcado e será recordado durante muitos anos.

A "porrada" prometida pelo avançado Raphinha esteve longe de acontecer. Na verdade, ela apareceu, em letras maiúsculas, mas do lado dos argentinos, que deram um autêntico banho de bola à Seleção Brasileira, orientada pelo treinador Dorival Júnior.

Com seis alterações e a presença de jogadores que ainda tentam perceber o que é vestir a camisola do Brasil, a equipa canarinha foi uma presa fácil para uma Argentina que joga junta há bastante tempo e que não demorou a colocar o Brasil na roda. Vale lembrar que Messi e Lautaro nem sequer entraram em campo...

Com menos de 10 minutos de jogo, já se ouviam gritos de "olé" vindos da bancada albiceleste, que poderia muito bem ter saído de campo com uma goleada ainda mais expressiva, perante um adversário perdido e sem qualquer capacidade de reação.

A apatia do Brasil, desde o início, foi desoladora. Uma equipa que pareceu entrar em campo derrotada e que pouco fez para travar o passeio argentino. Dorival, à beira do relvado, gritava quando, na verdade, a sua ação deveria ter sido outra.

Uma mudança tática era urgente, mesmo sem substituições. Mas ele preferiu esperar pelo fim do baile na primeira parte para agir, quando o estrago já estava feito.

Jogo ou treino?

O resultado deixou clara a diferença de nível e de momento entre as duas principais seleções da América do Sul, pelo menos em nome e títulos. Porque, dentro de campo, o Brasil está a ficar para trás, sendo superado por adversários que conseguem apresentar um desempenho coletivo muito superior.

Durante todo o jogo, o Brasil correu atrás do prejuízo, com a partida a parecer um treino, tal foi a facilidade com que os argentinos trocaram a bola e penetraram a defesa adversária. Foi algo surreal de se ver, parecia que o Brasil jogava com um ou dois jogadores a menos.

O golo de Matheus Cunha deu esperança apenas aos mais ingénuos. Não demorou para o baile argentino continuar, com a seleção brasileira a parecer uma mera sombra de si mesma.

Apesar de estar perante um dos maiores clássicos do mundo, o Brasil pareceu encarar o jogo como um amigável contra um adversário qualquer, sendo facilmente superado por uma Argentina num ritmo muito superior.

O delay do Brasil, com os jogadores a chegarem sempre atrasados até mesmo para travar jogadas, foi um prato cheio para a Argentina dominar completamente um jogo que deveria ter sido mais equilibrado. Mas o equilíbrio esteve longe. Os adeptos argentinos voltaram para casa em êxtase, deliciando-se com a humilhação verde e amarela. O Brasil esteve atordoado em campo, parecendo, sem grande exagero, um grupo de baratas tontas.

Chama apagada

Jogadores de estatuto distinto na Seleção Brasileira, desde Murillo e Joelinton ao provocador Raphinha, passando pelo talento de Vini Jr., todos tiveram uma noite para esquecer, que pode muito bem iniciar a contagem decrescente para a saída de Dorival Júnior do comando técnico.

O banho de bola serviu para os argentinos lembrarem a Raphinha, ainda ao intervalo, o tamanho da asneira que tinha cometido, como se o Brasil tivesse algum tipo de moral para desbancar a Argentina em Buenos Aires.

A falta de noção do avançado do Barcelona certamente trouxe um grande ensinamento – que veio da pior forma possível. Uma goleada sonora da Argentina faz o Brasil cair na real quanto ao seu atual estado e aos anos-luz que o separam da atual campeã do mundo, que viveu um dos momentos mais altos da sua história após a conquista no Catar.