Responsável por um grupo de 21 futebolistas que conquistou o inédito título mundial para Portugal, em 27 de novembro, no Catar, após conquistar, neste ano, o título europeu da categoria, na Albânia, em 01 de junho, o treinador receia que nem todos os seus pupilos consigam jogar em “grandes equipas” ou na seleção AA, até pelo indicam as estatísticas, e aconselha-os a “nunca deixarem de trabalhar”.
“Talento não falta a nenhum destes jogadores. A envolvência que têm, quer familiar, quer dos amigos, quer dos empresários, quer do contexto que depois vão escolher para as suas carreiras, vai ditar se vão chegar longe. (…) A história tem sido assim: jogadores que individualmente faziam a diferença, mas com uma mentalidade que não era forte, ficaram pelo caminho. Outros, fruto do trabalho, não tendo tanta qualidade, singram no futebol. Isto diz-nos que o trabalho supera o talento”, resume, em entrevista à Lusa.
Ligado à Federação Portuguesa de Futebol desde 2022, Bino Maçães assumiu a geração que se viria a tornar campeã europeia e mundial em setembro de 2023, ainda como sub-16, tendo perdido os dois primeiros jogos no escalão, perante a Bélgica (1-0) e a Dinamarca (2-0), num torneio de preparação.
Após “um início difícil”, com jogadores de 15 anos que mostravam “muita energia”, mas queriam “fazer as coisas à sua maneira”, o técnico, de 52 anos, realça que as derrotas com Espanha e Alemanha em 2024, já como seleção sub-17, ajudaram o grupo a elevar a sua maturidade e a “dar mais” na representação de Portugal.
“O clique foi dos sub-16 para os sub-17. Passei a acreditar que esta geração estava no caminho certo e a crescer de forma muito sustentada, com muita qualidade a representar o nosso país”, detalha.
A transformação de futebolistas de 15 anos num grupo campeão europeu e mundial passados dois anos envolveu crescimento físico, no tamanho e na massa muscular, mental, com a consciência de que é preciso “jogar sempre nos limites”, e tático.
“Em Portugal, estão muito habituados a jogar em termos ofensivos e a ter sempre a bola. Quando jogamos a este nível, é preciso saber defender muito bem para se ser uma equipa equilibrada e lutar por títulos”, esclarece.
O treinador natural da Póvoa de Varzim considera ainda que “a inteligência demonstrada pelos jogadores” foi outro dos “fatores determinantes” para os êxitos de 2025, evidenciando-se, por exemplo, na capacidade em superarem habituais tendências egoístas.
“Fui jogador de futebol. Todos são muito egoístas e pensam muito neles. Os jogadores suplentes que entravam estavam muito focados em ajudar. Neste mundial, vemos a garra e a determinação de querer vencer, independentemente de jogarem 90, 40 ou 10 minutos”, enaltece.
Bino Maçães salienta ainda o crescimento dos jogadores entre o campeonato da Europa e o campeonato do Mundo, notória ao comparar, por exemplo, o desempate por grandes penalidades na meia-final do Europeu, com a Itália (4-3, após 2-2), e na semifinal do Mundial, com o Brasil (6-5, após 0-0).
“Quando chegou a altura das grandes penalidades contra a Itália, perguntei aos jogadores quem queria bater. Senti-os muito nervosos, alguns deles a esconderem-se. Foi um alerta para mim. (…) Para este Mundial, já não fiz da mesma forma. Ao treinarmos as grandes penalidades, fui vendo quem achava que tinha mais qualidade e mais frieza e decidi quem ia bater (…) Deixei-os mais tranquilos”, explica.
O selecionador realça, aliás, que o desempate por penáltis com o Brasil, seleção que havia vencido dois desempates nas eliminatórias anteriores, foi preparado ao pormenor, com a visualização dos últimos 20 penáltis com que se deparou o canarinho João Pedro, “um guarda-redes enorme”.
“Vimos que o guarda-redes do Brasil defendia mais penáltis para a sua direita, mas defende penáltis normalmente em baixo. Se os penáltis para a direita forem colocados mais acima, ele não vai defender. Aqueles que costumam bater para aquele lado tinham de atirar mais alto. Foi uma ajuda”, assinala.
Superados os desempates por grandes penalidades, Portugal venceu a França na final do Europeu, por 3-0, em Tirana, e a Áustria na final do Mundial, por 1-0, resultados que garantiram duas celebrações lusas, embora com sensações diferentes associadas.
“É muito saboroso das duas formas, mas é diferente. Na final contra a França, entrámos logo a ganhar e conseguimos ter frieza e lucidez para ter bola. Acabou por ser mais simples. A Áustria era uma equipa muito difícil, defensivamente muito forte e muito perigosa no contra-ataque. (…) Foi um jogo que ficou sempre em aberto, embora tenha sido de inteira justiça a vitória de Portugal”, sintetiza.
