Na expedição da Azzurra à Eslováquia, há uma figura silenciosa, mas muito trabalhadora. Um dos primeiros a chegar ao campo de treinos montado na primeira semana em Trnava. Trata-se de Christian Maggio, adjunto de Carmine Nunziata. Participa frequentemente nas corridas com os jogadores, sendo visto por muitos como um "tio", devido aos conselhos que dá aos jovens, do alto da sua experiência. Incansável e altivo nas suas tarefas, como colaborador sente o campo como um jogador.
- Como está a viver esta nova aventura?
- É ótimo ter uma experiência com os sub-21. Estou a adaptar-me às situações, mas é algo positivo.
- Como é que tudo começou?
- Foi por mero acaso, no sentido em que estava a fazer o curso de treinador em Coverciano, quando o Maurizio Viscidi, um dos coordenadores das seleções nacionais de jovens, me abordou. Perguntou-me se eu queria fazer parte da equipa. No início hesitei, porque o meu primeiro objetivo era terminar o curso de treinador. Depois, com a cabeça fria e após pensar um pouco, decidi que era uma oportunidade a não perder.
- O seu objetivo é, antes de mais, dar algo mais aos jovens.
- É essa a esperança. Tenho também a tarefa de dar alguns conselhos e ajudar os jovens que estão agora a crescer.
- Quando éramos adolescentes, o mundo era outro. Sem redes sociais, smartphones...
- Sem dúvida, hoje é mais difícil. Lembro-me de ter feito um teste com os miúdos para ver quantas horas passavam nas redes sociais e o resultado foi um número impressionante, muito elevado. Claro que não lhes posso tirar os telemóveis, no máximo limito a sua utilização. Mas há momentos sagrados, como sessões de treino e refeições partilhadas, em que é preciso trabalhar em equipa.

- Agora vão ter de enfrentar a Alemanha nos quartos de final. Como é que encara este desafio?
- Com certeza será um jogo complicado contra uma equipa que mostrou o seu nível no grupo. Será um jogo intenso nos quartos de final. Estamos a preparar-nos da melhor forma possível para os defrontar com a mentalidade certa. Mas temos todas as condições para fazer um grande jogo.
- Chegou tarde à seleção nacional, mas viveu momentos importantes
- É verdade, cheguei aos 26 anos, o que provavelmente é tarde. Mas, mesmo assim, consegui ficar nove anos em atividade e jogar dois Mundiais e um Europeu.
- Como flanqueador polivalente, um dos seus melhores jogos com a Azzurra foi o 1-1 contra a Espanha na ronda inaugural do Euro-2012. E tinha pela frente Jordi Alba e Iniesta....
- Fizemos um grande jogo nessa altura. Depois, na final, novamente contra a Espanha, correu mal. A única coisa que nos faltou nessa corrida foi esse jogo. Mas tínhamos chegado muito cansados.
- Assistiu a essa final do banco de suplentes. É pior do que jogá-la e perdê-la?
- Sim, porque ver os nossos colegas de equipa em apuros nunca é agradável. Também porque quase chegámos ao fim e depois... Houve muita pena, mas também a consciência de que éramos um grupo unido.
- Naquele grupo, encontrou Antonio Cassano, que havia sido seu colega na Sampdoria e graças ao qual o Maggio marcou 11 golos na sua segunda temporada no Blucerchiato. Em 2007-08, o segundo melhor marcador, atrás de Bellucci, foi Maggio, que não era avançado.
- Estudaste bem (risos). Cassano foi um dos cinco melhores jogadores com quem joguei. Não tinha as jogadas do Neymar ou do Ronaldo, jogava simples, mas mesmo assim conseguia fazer coisas incríveis. Via-te sempre e dava-te bem a bola. Tinha uma visão de jogo e uma inteligência fora do comum.
- Alguns dos seus antigos companheiros de equipa eram muitas vezes criticados pela sua fraca capacidade técnica. Como é que ele era convosco?
- Caracteristicamente, todos o conhecíamos. Por vezes, exagerava um pouco. Mas, acreditem, tive uma ótima relação com ele. Quando se gosta dele, torna-se um irmão. E eu corria muito, era a minha sorte. Mas ele é uma pessoa que diz o que pensa, e mesmo que às vezes não gostemos dele, para mim ajuda-nos muito a pensar em certas coisas.
- Já para não falar que ele deve ter-lhe dado pelo menos metade das assistências para golos nesse ano....
- Sim, mas eu também lhe dei algumas, por isso dividimos as tarefas (risos).
- O que pensa do colapso desta Sampdoria, que está agora a disputar o playoff para se manter na Série B?
- É claro que lamento muito, até porque se trata de um clube historicamente importante. Agora falta um jogo importante, e é claro que espero que eles se saiam bem. Mas não é só isso, espero mesmo que consiga crescer e voltar aos níveis de há cinco ou seis anos e recuperar a importância que tinha.
- No Génova, com Walter Mazzarri, tornou-se um dos primeiros médios com chegada à baliza. Hoje muitos fazem isso, mas você foi o precursor...
- Sim, depois de um ano como trinco, com a chegada de Mazzarri, passei para o meio-campo, e foi aí que começou o meu percurso pessoal como quinto jogador. Acho que o treinador viu em mim algumas qualidades, principalmente físicas, e tentou fazer de mim o melhor para as minhas caraterísticas.
- Jogar como quinto jogador é um papel difícil, porque é preciso cobrir toda a ala.
- Exatamente, e nesse caso tinha de estar atento na baliza. Mas tive sorte, porque assim consegui fazer uma carreira positiva.
- Depois, a transferência para o Nápoles, onde era treinado por Edy Reja, com quem se tinha estreado no Vicenza. O que é que recorda desse momento?
- Só posso dizer que fiquei a saber da minha transferência para o Nápoles através dos jornais. Era uma manhã de domingo e vi no jornal: "Maggio, fechado com o Nápoles". Depois recebi um telefonema do então diretor desportivo dos Blucerchiato, Beppe Marotta, que me disse que eu tinha sido vendido para o bem do clube. Fiquei surpreendido, porque foi uma negociação rápida. Nos dias que se seguiram, falei sobre o assunto com os meus agentes e, obviamente, também com o treinador Reja, uma pessoa fantástica com quem ainda falo.
- A propósito, contra a Azzurra, marcou o seu primeiro golo como profissional na Série B, num Vicenza-Nápoles disputado a 10 de fevereiro de 2002. Um golo decisivo porque teria sido o 2-1 final...
- Evidentemente, estava destinado a acontecer. Foi o destino que me levou ao Nápoles. Mas, repito, a minha ida para a Azzurra foi fortuita e apanhou-me de surpresa.
- Como foi a sua adaptação a Nápoles como um homem do norte?
- No início foi complicado, até porque é uma cidade estranha. Depois... bem, vivo lá há 16 anos e não me quero ir embora. A minha mulher trabalha lá, os meus filhos nasceram em Nápoles e são grandes adeptos do Nápoles. É preciso dizer que o primeiro ano foi um pouco conturbado, porque o clube estava a começar a lançar as bases para se tornar naquilo em que se tornou agora. Depois, houve muitas mudanças, pelo que o primeiro ano foi muito difícil.
- Nesses nove anos, teve grandes satisfações. Qual foi a mais importante?
- Bem, felizmente foram muitas, mas talvez a conquista da Taça de Itália na final em Roma contra a Juve, que nunca havia perdido naquele ano. O Nápoles não ganhava nada há 22 anos. Mas também a outra Taça de Itália e a Supertaça de 2014 em Doha.
- Um jogo interminável decidido por penáltis. Nove para cada lado. Mais cedo ou mais tarde, seria a sua vez de bater. Embora não fosse um especialista...
- Era eu que tinha de rematar depois de Koulibaly. Mas, felizmente, nem tive de pensar em como rematar, porque o Rafael defendeu o remate do Padoin e nós ganhámos (sorri).
- Uma recordação muito importante do primeiro jogo do Nápoles na Liga dos Campeões está ligada a si. Aquele costa a costa de alta velocidade no Etihad Stadium do Manchester-Nápoles, o primeiro jogo da ronda, no final do qual fez a assistência para o golo da vitória do Cavani...
- Nesse caso, foi também um momento mágico para o clube, porque era a primeira vez que participava na Liga dos Campeões. E já era algo importante para nós. Depois, jogar o primeiro jogo em Manchester foi muito difícil. Mas conseguimos fazer um grande jogo.
- Certamente não se esqueceu daquela descida que deu à Azzurra a vantagem inicial...
- Eu estava lá, recuperei a bola e vi o espaço. E disse 'agora eu vou'. Consegui parar bem no nosso meio-campo e depois simplesmente arranquei. Tive a habilidade e a sorte de fazer uma pausa e servir Cavani na linha de fora de jogo. Ele fez o resto.
- Maurizio Sarri privou-o da homenagem do então San Paolo, não o deixando entrar nos minutos finais do Nápoles-Crotone, na sua última convocatória com o Nápoles, em maio de 2018. Numa entrevista recente, pediu-lhe desculpa por tudo.
- No início, fiquei muito zangado com o que tinha acontecido. Mas é normal, porque para mim era o meu último jogo com o Nápoles. E é claro que eu queria terminar de outra forma, mas virei a página imediatamente no dia seguinte. Não me importei, sempre achei que ele não o fez de propósito e ainda hoje o digo. E se ele pediu desculpa, para mim é suficiente. Não vou estragar nove anos por causa de um jogo.