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As dificuldades para formar a convocatória para a fase final para o Europeu sub-21 foram várias vezes destacadas por Rui Jorge, não só numa tentativa de baixar as expectativas sobre uma seleção que chega a esta fase sempre a sonhar com o título, mas também numa necessária chamada de atenção para a realidade vivida antes da deslocação à Eslováquia.
O facto de os clubes não serem obrigados a libertar jogadores afetou a preparação para esta fase final, com a maioria dos atletas de Benfica e FC Porto - envolvidos no Mundial de Clubes - a não fazerem parte da lista final de Rui Jorge - apenas Samuel Soares foi a exceção.
Além das baixas que o próprio selecionador já esperava (Essugo também informou que não iria estar disponível), os dias que anteceram a fase final apresentaram novas dificuldades, depois da lesão de Fábio Silva, provável avançado titular, e da dispensa de Eduardo Quaresma, que deveria começar de início na defesa.

No entanto, apesar de todos estes problemas, Portugal não só passou o grupo C em primeiro lugar, sem sofrer qualquer golo, como deu boa resposta no teste mais exigente diante da França. Depois de uma fase de grupos perfeita, é impossível não sonhar com o tão desejado ouro nos sub-21 antes do confronto dos quartos de final diante dos Países Baixos.
Geovany Quenda, o melhor jogador do torneio
Quando o jogador mais jovem do torneio é, ao mesmo tempo, o melhor, está tudo dito sobre o talento de Geovany Quenda.
O extremo do Sporting desceu aos sub-21 depois das chamadas à seleção principal, mas não ficou a lamentar esta espécie de despromoção, aproveitando a fase final para demonstrar todo o seu talento a quem ainda não o conhecia - nas redes sociais, os adeptos do Chelsea já pedem que o extremo leonino chegue a Stamford Bridge em 2025/26 e não na época seguinte.

Quenda nem acabou a época na melhor forma, mas os 54 jogos realizados esta temporada no Sporting elevaram o extremo de 18 anos a um patamar altíssimo.
Além da capacidade de desequilíbrio que lhe é conhecida, o extremo dá muitas outras coisas ao jogo ofensivo português, aproveitando também o facto de ter passado por várias posições esta temporada para fazer a diferença no passe e visão de jogo. Apesar da gestão que tem vindo a ser feita por Rui Jorge, foi duas vezes o MVP e conta já com três golos (2.º melhor marcador) e duas assistências (entre os segundos melhores assistentes) na prova.
Em termos de talento, porém, não houve ninguém ao nível do jogador do Sporting em toda a fase de grupos.
Estabilidade defensiva
As baixas importantes de jogadores como Martim Fernandes e Eduardo Quaresma, sem contar já com Tomás Araújo e Renato Veiga, que até foram dos mais utilizados na qualificação, não faziam antever um cenário assim tão positivo para Portugal, mas a verdade é que a fase de grupos acabou sem qualquer golo sofrido.
Nesse aspeto, começa por destacar-se Samuel Soares. Apesar de não ter sido obrigado a intervir várias vezes, o guarda-redes do Benfica já fez grandes defesas neste torneio e tem sido essencial para manter o registo imaculado da equipa portuguesa.

Depois, claro, a nova dupla de centrais criada para este Europeu. Chico Lamba tinha feito 90 minutos na qualificação e João Muniz, que esteve meia época sem jogar em Vila do Conde, nem sequer foi utilizado. No entanto, os dois têm sido destaques positivos nas exibições portuguesas.
O defesa do Arouca está a dar seguimento à boa temporada na Liga Portugal e tem demonstrado cada vez mais evolução com bola e no capítulo da concentração, enquanto João Muniz é um esquerdino técnico, à imagem de Gonçalo Inácio, que oferece muitas soluções à construção da equipa nacional.

Por fim, o próprio jogo coletivo de Portugal tem contribuído para manter os adversários distantes da zona de maior perigo. Apesar das linhas subidas, a capacidade de pressão - Roger Fernandes tem sido importante a fechar o flanco de Flávio Nazinho, dando maior liberdade a Quenda - com médios trabalhadores como Mateus Fernandes, Diogo Nascimento e Paulo Bernardo, permite que Portugal consiga ser dominante com e sem bola.
Meio-campo com soluções diversas
Os médios utilizados por Rui Jorge neste Europeu já foram mencionados no ponto acima, mas se a importância do trio sem bola é relevante, a verdade é que é com bola que os três portugueses se sentem mais confortáveis.
Com papéis distintos, o selecionador entregou a Diogo Nascimento a responsabilidade pela criação do jogo ofensivo e o jogador do Vizela voltou a mostrar que está mais do que preparado para deixar a Liga 2.
Sem receio de recuar para ajudar a equipa a sair da primeira fase de pressão do adversário, o camisola 6 aproveitou a ausência de Essugo e, com um perfil bem distinto, assumiu-se como o patrão do miolo, dando variabilidade no passe aos sub-21 portugueses.

O talento à disposição de Rui Jorge tem permitido fazer rotação neste espaço, mesmo que não diretamente na equipa titular, mas na fase a eliminar é esperado que Paulo Bernardo e Mateus Fernandes joguem o máximo de minutos.
O médio do Southampton mostrou a sua evolução no jogo com a França, acabando por ser dos melhores portugueses em campo, fruto do conforto com bola e para sair de zonas de pressão, enquanto Paulo Bernardo, capitão de equipa e um dos mais internacionais de sempre nos sub-21, mostrou a já conhecida apetência para aparecer em zonas de finalização e causar desequilíbrios nas defesas contrárias.
A partir do banco, João Marques, Pedro Santos e Mathias de Amorim já mostraram ser opções válidas para os sub-21, mas é Gustavo Sá, que até já foi utilizado como avançado, que pode fazer a diferença na maioria das partidas - o médio do Famalicão é o melhor assistente da prova, com três passes para golo.

Alternativas ofensivas
Fábio Silva foi o melhor marcador de toda a fase de qualificação para o Europeu, mas a ausência do avançado formado no FC Porto não deixou Portugal sem poder de fogo, muito menos sem soluções.
Rui Jorge tem variado nesta posição e optou por fazê-lo devido aos diferentes perfis na frente de ataque. Henrique Araújo, também ele na lista dos mais internacionais de sempre neste escalão, é o favorito do selecionador.

O avançado emprestado pelo Benfica ao Arouca procura um jogo mais associativo que beneficia os médios e as combinações entre Quenda e Roger Fernandes, mas tem a frieza na hora de finalizar que falta a Tiago Tomás.
Já o avançado do Wolfsburgo não apresenta o mesmo nível técnico do jogador madeirense, mas a capacidade de pressão e de trabalho na frente de ataque não podem ser ignoradas. TT, como também é conhecido, é mesmo um todo-terreno ofensivo e mostrou que pode ser importante logo na primeira jornada.

Por fim, não podemos deixar de voltar a referir a importância de Roger Fernandes na seleção nacional. O extremo do SC Braga foi obrigado a jogar à esquerda, onde não rende tanto, face à qualidade de Geovany Quenda, mas mostrou inteligência para procurar outros recursos que mostram que pode ser ainda mais importante na equipa minhota em 2025/26, deixando de procurar a baliza com tanta frequência, devido aos movimentos interiores, e utilizando o pé esquerdo para procurar os colegas de equipa em zonas de finalização.

Experiência de Rui Jorge
Toda a turbulência pré-torneio fazia prever um cenário complicado para Rui Jorge, que até podia sentir o peso da clara necessidade que Pedro Proença sente de fazer alterações nas equipas técnicas da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Só que, tal como Martínez, o selecionador está, uma vez mais, a dar provas da sua competência e do porquê de ser selecionador sub-21 desde 2011, apesar de ainda não ter conquistado qualquer título.

A articulação com a seleção principal tem sido importante, é certo, mas o técnico de 52 anos também tem mostrado capacidade para liderar os sub-21 taticamente, apresentando ideias diferentes consoante o adversário.
Depois das finais perdidas em 2015 e 2021, será desta que Rui Jorge e Portugal vão conquistar o Europeu sub-21? Os sinais dados na fase de grupos já permitem, pelo menos, voltar a sonhar.