Na noite de domingo, chegou ao fim mais um torneio de verão, com a final do Campeonato da Europa a opor Inglaterra e Espanha.
Recorde as incidências da partida
Antes mesmo do apito inicial, o encontro já estava carregado de narrativas e expectativas, com várias histórias a moldar o contexto deste confronto decisivo.
O confronto direto favorecia a Inglaterra
A equipa de Montse Tomé, atual campeã do mundo e vencedora da Liga das Nações, há muito que era considerada a favorita ao título, mas o histórico do confronto direto favorecia a equipa de Sarina Wiegman.
A treinadora neerlandesa preparava-se para a sua quinta final consecutiva numa grande competição internacional. A resiliência demonstrada pela sua equipa ao longo do torneio, com uma derrota na estreia da fase de grupos e desvantagem em 47% dos jogos, era motivo de confiança, apesar da exigência do desafio que tinham pela frente.
Lucy Bronze, peça-chave das Lionesses ao longo da prova, foi novamente titular na final, alcançando a sua 36.ª presença em fases finais de grandes competições, um novo recorde para o futebol feminino inglês. Superou assim Jill Scott e tornou-se a jogadora com mais jogos disputados neste tipo de torneios.
Outra veterana em destaque foi a capitã espanhola Irene Paredes, que se tornou a jogadora de campo mais velha a alinhar de início numa final do Europeu Feminino desde a sueca Pia Sundhage, em 1995 - tinha 34 anos e 23 dias.
Meio campo reforçado para travar o 4-3-3 de Espanha
O esquema 4-2-3-1 escolhido por Sarina Wiegman teve em Georgia Stanway e Keira Walsh o seu ponto de equilíbrio. O duplo pivot inglês foi essencial para contrariar o 4-3-3 ofensivo da Espanha, funcionando como escudo à frente da defesa e como tampão à construção espanhola. O plano passava por reduzir o raio de ação de Patri Guijarro - líder em passes completos no torneio - e de Alexia Putellas, figura mais influente da La Roja, com participação direta em sete golos (3 golos e 4 assistências) e criadora do maior número de oportunidades (18).
A Inglaterra entrou determinada e, logo aos três minutos, esteve perto de surpreender a defesa espanhola com uma bola longa que encontrou Alessia Russo, mas Cata Coll respondeu com uma grande defesa. A equipa de Wiegman explorava com inteligência o espaço nas costas da linha alta da La Roja, que demorou a assentar o seu jogo característico.
A partir do oitavo minuto, a Espanha começou a impor o seu estilo de posse, e rapidamente criou perigo. Um excelente passe de Laia Alexandri encontrou Esther González na área, mas o remate da melhor marcadora do torneio esbarrou em Hannah Hampton. Apenas dois minutos depois, a avançada voltou a ameaçar, à medida que a seleção espanhola crescia no jogo e assumia o controlo da partida.
Espanha mais perigosa e direta no início do jogo
Aos 15 minutos, embora a Inglaterra apresentasse uma taxa de passes completos de 83,1%, ligeiramente superior à da Espanha, os oito toques das espanholas na área adversária deixavam clara a sua maior agressividade e objetividade ofensiva, mesmo sem ainda ter concretizado em golo.
Com o meio-campo altamente congestionado, ambas as seleções apostavam nas alas como principal via de progressão. As jogadoras de largura eram chamadas a fazer constantes corridas pelos corredores, numa tentativa de esticar o jogo, abrir espaços e romper o bloqueio central.

Uma pressão intensa de Lauren James forçou um erro pouco habitual de Cata Coll, permitindo que Lauren Hemp recuperasse a bola do lado oposto e finalizasse com perigo. No entanto, a guarda-redes espanhola redimiu-se de imediato, realizando uma defesa decisiva à queima-roupa.
Momentos depois, foi a vez da Espanha capitalizar. Num lance fluido, Georgia Stanway foi batida num duelo individual, pela primeira vez em quatro tentativas, e o cruzamento preciso de Ona Batlle encontrou Mariona Caldentey, que cabeceou com força e colocação, assinando um grande golo e colocando La Roja em vantagem.
Lucy Bronze talvez devesse rever o seu posicionamento no lance do primeiro golo, já que a sua postura estática permitiu à ex-colega de equipa no Barcelona, Mariona Caldentey, espaço e liberdade para finalizar com sucesso no St. Jakob-Park.
A desvantagem era um sinal de alarme para as Lionesses: a Espanha tinha perdido apenas um dos seus 11 jogos em fases finais do Europeu depois de marcar primeiro (8 vitórias e 2 empates), e em seis das últimas sete finais da competição, a equipa que inaugurou o marcador acabou por erguer o troféu.
Pressão espanhola incessante à medida que se aproximava o intervalo
O domínio espanhol era cada vez mais evidente. O pêndulo do jogo tinha claramente oscilado a favor da equipa de Montse Tomé, com a Espanha a controlar a posse de bola e a empurrar a Inglaterra para trás, reduzindo as campeãs em título a lançamentos longos para aliviar a pressão.
Essa pressão tornou-se sufocante à medida que o intervalo se aproximava, momento em que a Inglaterra ainda viu Lauren James sair lesionada, agravando o cenário. Apesar de registarem mais interceções e um número idêntico de desarmes, as inglesas mostravam-se incapazes de criar lances perigosos ou de manter a bola com critério.
O contraste era gritante: até ao intervalo, a Espanha somava sete ocasiões de golo contra apenas duas da Inglaterra, 344 passes contra 165 e uns impressionantes 67,5% de posse de bola, a maior marca alguma vez registada numa final do Europeu feminino desde que há estatísticas (2013). Uma estatística que espelhava na perfeição o rumo do encontro até então.
A segunda parte manteve o mesmo enredo da etapa inicial: domínio total da Espanha e uma Inglaterra encurralada no seu próprio terço defensivo. Alexia Putellas, Aitana Bonmatí e Patri Guijarro circulavam a bola com fluidez, encontrando espaços e rompendo linhas com aparente facilidade. Ainda assim, foi Laia Aleixandri quem se destacou com 11 passes de rutura de linha, o número mais elevado da partida.
A estatística dos dois desarmes e seis alívios de Leah Williamson até aos 60 minutos revelava bem o sufoco que a Inglaterra vivia. Mas, contra a maré e quase sem aviso, surgiu a resposta inglesa: Alessia Russo aproveitou um cruzamento milimétrico de Chloe Kelly e, num cabeceamento pleno de esforço e precisão, restabeleceu a igualdade. Um golo inesperado, mas crucial, que reacendeu a esperança das Lionesses.
O golo de Russo marcou também um feito histórico: foi o décimo envolvimento direto das suplentes inglesas neste Europeu (cinco golos e cinco assistências), um recorde absoluto numa só edição do torneio. Além disso, esta foi a primeira final do Euro Feminino desde 1997 em que ambas as equipas marcaram de cabeça.
O momento psicológico virou novamente a favor da Inglaterra, com Chloe Kelly a assumir o protagonismo e a empurrar a equipa para a frente. Sentindo o jogo escapar, Montse Tomé fez uma substituição surpreendente: retirou Alexia Putellas, a jogadora mais influente do torneio até então, para lançar Clàudia Pina. A aposta não tardou a mostrar frutos - em apenas três minutos em campo, a jovem atacante já se envolvia com mais intensidade nas ações ofensivas do que a veterana colega.
Sem separação entre as equipas no tempo regulamentar
O equilíbrio manteve-se até ao fim do tempo regulamentar, com o jogo a tornar-se ainda mais intenso e imprevisível. A dinâmica de "parar e responder" tornou cada jogada carregada de tensão, com a Inglaterra a pressionar de forma mais direta e a Espanha a explorar os espaços deixados em transições rápidas e bem trabalhadas.
Com o empate a persistir, o prolongamento era inevitável. E, apesar do desgaste evidente, ambas as equipas mantiveram a coragem de atacar sempre que possível, alimentando um jogo aberto e competitivo.
A posse continuava amplamente dominada pela Espanha, refletida nos números: aos 105 minutos, só três jogadoras - Clàudia Pina, Cata Coll e Athenea del Castillo - tinham menos de 80% de eficácia no passe. Do lado inglês, apenas cinco atletas superavam essa marca, sublinhando a diferença no controlo técnico da partida.

Apesar do domínio espanhol e da pressão constante no prolongamento, a Inglaterra demonstrou uma resiliência impressionante. Lucy Bronze, mesmo em clara dificuldade física, personificou o espírito combativo das Lionesses com uma exibição de sacrifício e coragem: os seus 14 duelos disputados e 26 alívios falam por si.
Do lado espanhol, Salma Paralluelo desperdiçou uma ocasião clara antes do intervalo do prolongamento, tentando um toque de calcanhar que acabou por sair ao lado. Aitana Bonmati continuava a comandar o meio-campo com maestria, alimentando sucessivas vagas ofensivas da La Roja.
Ainda assim, a Inglaterra resistiu. Apesar dos cinco remates enquadrados da Espanha nos 30 minutos adicionais (contra zero das inglesas), o marcador não voltou a mexer. O destino do troféu europeu seria então decidido nas grandes penalidades.
Drama nos penáltis para encerrar o torneio
A final do Euro 2025 entrou para a história como apenas a quarta decisão de um grande torneio feminino a ser resolvida por grandes penalidades, seguindo os passos de Euro 1984, Mundial 1999 e Mundial 2011. E foi aí que emergiu o sangue frio inglês.
Aitana Bonmati e Mariona Caldentey viram os seus remates serem brilhantemente travados por Hannah Hampton, enquanto Salma Paralluelo desperdiçou ao atirar por cima. Chloe Kelly, heroína da final de 2022, não tremeu e selou o título com o penálti decisivo.
Com esta vitória, a Inglaterra mantém um registo perfeito em disputas de penáltis sob o comando de Sarina Wiegman (três vitórias em três tentativas) e a treinadora neerlandesa alcança um feito inédito: a conquista de três Europeus consecutivos.