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Esther González em estado de graça no Europeu Feminino

Esther González comemora novamente
Esther González comemora novamenteSefutbol

Esther González está a brilhar no Campeonato da Europa após conquistar o Mundial de 2023. De um início humilde numa equipa masculina em Huéscar, Granada, à consagração em Nova Iorque, a avançada espanhola percorreu um caminho desafiante até se tornar uma das protagonistas do futebol feminino mundial.

Os elogios à avançada têm-se acumulado na contagem decrescente para o Europeu: decisiva na final da primeira Liga dos Campeões da CONCACAF, em maio, foi eleita melhor jogadora de junho na liga norte-americana (NWSL) e soma já 10 golos em 13 jogos, antes da pausa internacional.

Com este arranque fulgurante, a camisola 9 da La Roja levou o seu nome até à Suíça. Titular frente a Portugal (5-0) e à Bélgica (6-2), a andaluza respondeu com três golos, liderando a tabela de marcadoras a par da colega de equipa Alexia Putellas.

Como evoluiu a jogadora que deixou o Real Madrid em 2023 para vestir o preto do Gotham, uma das alcunhas de Nova Iorque, a cidade imaginária do universo de Batman?

"A mudança desde que estou nos Estados Unidos é incrível. A NWSL é muito exigente do ponto de vista físico e o ritmo competitivo é muito elevado. Treinar com as americanas deu-me essa vantagem extra", explicou após a estreia dupla frente a Portugal.

"Depois, passei muitas horas no ginásio para ganhar aquela faísca de que nós, avançadas, precisamos para chegar primeiro à bola e disputar cada lance com as defesas", acrescentou.

Uma ligação especial com Alexia

Esther está numa forma espetacular: incansável na pressão, inteligente nas combinações, afiada na área e letal frente à baliza.

Tudo o que se pode pedir no currículo de uma avançada que tem as melhores jogadoras do mundo a apoiá-la. Ao lado de Alexia, Aitana, Mariona, Pina e Patri, brilha num coletivo de excelência.

Depois de falhar um ano ao serviço da seleção e de não ter participado nos Jogos Olímpicos de Paris, onde a Espanha terminou em quarto lugar, Esther, que se estreou pela equipa nacional em 2016, soma já 52 jogos e 36 golos. Joga ao lado de Alexia há quase uma década.

"Entendo-me muito bem com ela. É incrível. Os 'nove' são valorizados pelos golos, mas a pressão que ela exerce e o compromisso que demonstra... Ela segura a bola, ataca em profundidade e marca. Estou muito feliz por ela", disse Alexia Putellas, dupla Bola de Ouro (2021 e 2022), após o seu segundo prémio de MVP frente à Bélgica.

"A Alexia é intratável... Só coisas boas podem acontecer a pessoas boas. Ela merece tudo o que lhe está a acontecer", retribuiu Esther na zona mista.

Trabalho árduo e colocar tudo em perspetiva

Aos 32 anos, Esther González está de volta à sua melhor forma. É uma estrela “tardia” nos Estados Unidos, depois de uma passagem sólida por Espanha, onde representou o Levante, Málaga, Sporting Huelva, Atlético de Madrid e Real Madrid.

"Não posso dizer que tenha sido um caminho fácil. Comecei a jogar muito jovem na equipa de futebol de Huéscar. Era a única rapariga, fazíamos longas viagens todos os fins de semana, jogávamos em campos de terra batida… Tive de sair de casa aos 14 anos em busca de um sonho muito distante", recordou após o título mundial.

Quase duas décadas depois, acaba de renovar contrato com o Gotham F.C. até 2027, com um salário estimado em cerca de 500 mil euros - o teto máximo permitido pela competição.

Um sucesso duramente conquistado, refletido na humildade com que a avançada toma a palavra.

"Para mim, não há diferença entre jogar ou não, entre marcar ou não. Só penso em ajudar as minhas companheiras. E, se falho, penso sempre que vou marcar no próximo lance", resume a sua atitude em campo.

E fora de campo? Relativiza tudo o que conquistou, um discurso pouco comum no mundo do futebol.

"A minha vida não depende de ir ou não à seleção. A minha vida depende de como sou fora do futebol, e acho que sou uma pessoa muito equilibrada. Tenho uma família estruturada e um companheiro maravilhoso", explica, agradecida e sempre sorridente.