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Europeu Feminino: A defesa é a maior fragilidade da Espanha?

Será que a defesa espanhola é o único ponto fraco de uma seleção que parece estar a caminho do título?
Será que a defesa espanhola é o único ponto fraco de uma seleção que parece estar a caminho do título?SEBASTIEN BOZON / AFP
A Espanha pode ter dominado a fase de grupos, mas os observadores identificaram um ponto fraco numa La Roja capaz de marcar 14 golos em três jogos: a sua defesa. Apesar de ter sofrido apenas três golos, a dificuldade em gerir a profundidade frente à Bélgica e à Itália deixou algumas dúvidas em relação ao que poderá fazer no resto da competição.

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Em três jogos da fase de grupos, a Espanha apresentou três duplas diferentes no centro da defesa: Maria Méndez e Laia Aleixandri contra Portugal, Irene Paredes e Laia Aleixandri contra a Bélgica, e Maria Méndez e Irene Paredes frente à Itália. A primeira alteração foi forçada, já que Paredes estava suspensa por ter visto cartão vermelho frente à República Checa na fase de qualificação. Contudo, as mudanças seguintes surpreenderam, uma vez que Montse Tomé ainda não parece ter encontrado a sua parceira de eleição para o eixo defensivo.

“Cada uma delas tem os seus pontos fortes”, comentou Maria Méndez na zona mista, após o Espanha-Itália. “Sinto-me confortável com todas elas. Ajudamo-nos mutuamente, independentemente de quem esteja a jogar. Todas estamos a jogar a um nível muito elevado. É um torneio longo e todas temos de estar preparadas para jogar, caso aconteça alguma coisa.”

A Espanha conta com um total de quatro jogadoras que podem atuar como centrais, mas apenas duas são centrais de raiz: Maria Méndez e Irene Paredes. Laia Aleixandri também pode desempenhar funções no meio-campo, enquanto Jana Fernández, apesar de ter sido formada como defesa-central, tem atuado preferencialmente como lateral-direita.

Mais golos para compensar

Essa alternância entre as duplas dificulta o trabalho conjunto no momento de lidar com lances de bola parada ou contra-ataques nas costas da defesa central. A cabeceamento de Justine Vanhaevermaet, após o canto cobrado por Tessa Wullaert, garantiu o empate a uma bola frente à Bélgica, enquanto Ona Batlle e Irene Paredes encaixaram mal a marcação no lance que resultou no golo de empate de Hannah Eurlings. Se as belgas, que tinham sido goleadas por 5-0 pela França num jogo de preparação, não conseguiram manter o ritmo para segurar o empate, isso deveu-se sobretudo ao ataque espanhol e não à solidez da sua defesa.

“Antes, os nossos adversários marcavam e nós não sabíamos como reagir. Agora conseguimos manter a calma quando isso acontece”, afirma Maria Méndez. “Isso é o mais importante numa competição como esta: saber dar a volta por cima.” Prova disso é que, se a defesa espanhola vacila, a equipa responde sempre marcando mais um golo.

Frente à Bélgica, a La Roja marcou mais quatro golos. Contra a Itália, que abriu o marcador após uma bola perdida num lance de bola parada, foram três. Estes três golos sofridos, sempre pelos mesmos erros, frente a seleções consideradas inferiores à atual campeã do mundo, a Espanha, começam a preocupar a imprensa espanhola, que sonha ver a seleção espanhola ultrapassar finalmente os quartos-de-final de um Campeonato da Europa. “O ‘mas’ da equipa espanhola de Montse Tomé está na defesa”, escreveu, por exemplo, o El País.

Um tema tabu

Mas essa fraqueza defensiva também alimenta a confiança das jogadoras suíças, que garantiram o apuramento para a fase final da competição no último minuto, graças a um golo do empate frente à Finlândia. Se as anfitriãs sonham com uma “façanha” frente ao gigante espanhol, Alayah Pilgrim sabe bem que poderá ter um papel decisivo como avançada: “Elas têm jogadoras incríveis, todas de altíssimo nível. Mas acho que também cometem erros, sobretudo na defesa. São mais fortes no ataque do que na defesa, são seres humanos. Acho que também vamos ter as nossas oportunidades.”

Montse Tomé não escondeu a irritação quando, na conferência de imprensa da véspera do Espanha-Suíça, lhe perguntaram sobre essas fragilidades. “Gostaria de lhe perguntar o que entende por fragilidades defensivas”, respondeu, dirigindo-se ao jornalista. “O que sei é que somos profissionais da área e conhecemos esta equipa melhor do que ninguém.”

“É evidente que esta equipa quer melhorar em todas as áreas, mas sofremos apenas três golos. Temos defesas de grande qualidade, jogadoras incríveis que já provaram o seu talento, o seu valor e a sua capacidade ao mais alto nível. Não creio que isso seja uma fraqueza. O ataque e a defesa são responsabilidades coletivas. Precisamos que as defesas nos ajudem a construir o jogo desde trás e que as avançadas pressionem quando perdemos a bola, tal como os laterais, que têm de iniciar o processo defensivo. É um trabalho de equipa.”

Pia Sundhage explicou, na conferência de imprensa, como a velocidade de Iman Beney e Nadine Riesen nas alas, ou de Sydney Schertenleib no centro, pode ser uma arma útil no contra-ataque. “Se o penúltimo passe for preciso, podemos criar oportunidades”, assegurou. Já a capitã Lia Wälti prefere manter a cautela: “Se elas têm sempre a bola, é porque defendem muito bem. Recuperam-na rapidamente e isso será um grande teste para nós. A questão é: estamos perante uma verdadeira fragilidade ou apenas perante uma perceção errada? A resposta será dada na sexta-feira.”