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Europeu Feminino: Montse Tomé enfrenta momento decisivo depois de um caminho cheio de obstáculos

Montse Tomé, selecionadora de Espanha
Montse Tomé, selecionadora de EspanhaRFEF

A 40 dias do final do seu contrato como selecionadora de Espanha e após um percurso repleto de altos e baixos, chegou a hora da verdade para Montse Tomé. Brilhante ao longo do torneio, a sua equipa vai jogar tudo nas meias-finais, na próxima quarta-feira (20:00), frente à Alemanha, em Zurique.

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O treino termina e uma criança pede um autógrafo a Montse Tomé. Sem papel, pede-lhe que assine na sua cara. A selecionadora acede com boa disposição, contagiada pelo ambiente descontraído que rodeia a campeã do mundo em Lausana.

"É um desafio maravilhoso, bonito para a seleção feminina e para toda a Espanha. É uma enorme ilusão. Esta equipa está destinada a fazer história", afirmou a treinadora, após a vitória por 2-0 frente à Suíça nos quartos, na passada sexta-feira, em Berna.

Quase dois anos do furacão

Montse Tomé foi impulsionada para o cargo de seleccionadora após o furacão que se seguiu à conquista do título mundial em 2023 e ao polémico beijo forçado de Luis Rubiales, ex-presidente da Federação Espanhola (RFEF), a Jenni Hermoso na entrega dos troféus.

O futebol feminino espanhol explodiu em mil pedaços e uma das principais consequências, para além da saída de Rubiales, mais tarde declarado culpado de agressão sexual, foi o despedimento do selecionador Jorge Vilda.

Braço direito do técnico, Tomé ascendeu ao cargo no meio de críticas e do ruído mediático por ter integrado a sua equipa técnica. Mas assim começou a sua própria história.

O percurso não tem sido fácil, especialmente na gestão do caso de Jenni Hermoso, a maior goleadora da história da La Roja: deixada de fora da sua primeira convocatória para "protegê-la", a jogadora foi gradualmente perdendo protagonismo até ser excluída da lista para o Europeu, algo que motivou uma reacção pública de desagrado nas redes sociais.

Balanço desportivo de Tomé: conquistou o título da primeira edição da Liga das Nações feminina, em 2024, garantiu a qualificação para as meias-finais este ano e assegurou o quarto lugar nos Jogos Olímpicos de Paris-2024.

A paz em Lausane

À espera do desfecho final no Europeu, reina, para já, um ambiente de tranquilidade, acompanhado por resultados positivos e um futebol avassalador.

Responsável por equilibrar forças naquela que é, provavelmente, a equipa mais talentosa da competição, Montse Tomé conseguiu dar minutos a todas as jogadoras de campo, com exceção de Alba Redondo, afetada por um desconforto muscular desde o início da prova.

Na baliza, Esther Sullastres também ainda não foi utilizada, enquanto Adriana Nanclares foi titular nos três jogos da fase de grupos. Nos quartos de final, Cata Coll, que tinha sido suplente devido a uma amigdalite, recuperou a titularidade e voltou a assumir o estatuto de número um.

Tomé também precisou de "travar" Aitana Bonmatí, atual detentora de duas Bolas de Ouro, que sofreu uma meningite viral pouco antes do torneio. A médio, impaciente por somar minutos desde que chegou a Lausane, começou no banco nos dois primeiros jogos e foi titular na vitória frente à Itália (3-1) e também frente à Suíça, já a 100%, tendo sido eleita melhor jogadora do encontro.

A jovem Vicky López, de apenas 18 anos, brilhou nos dois primeiros jogos (vitórias por 5-0 frente a Portugal e 6-2 frente à Bélgica), mas acabou por ceder o lugar à melhor jogadora do mundo.

A selecionadora pode ainda orgulhar-se de ter encontrado a solução no jogo armadilha frente à anfitriã, em Berna. Após mais de uma hora de jogo, com três remates aos ferros e um penálti desperdiçado, lançou Athenea del Castillo, que se revelou decisiva ao encaminhar a equipa para as meias-finais, logo na sua primeira oportunidade.

Desforra frente à Alemanha

O próximo passo rumo à primeira coroa europeia da La Roja é a Alemanha, rainha do continente com oito títulos em 13 edições. As alemãs sobreviveram frente à França, ao recuperarem de uma desvantagem e vencerem nas grandes penalidades (1-1, 6-5), apesar de jogarem com 10 jogadoras desde o minuto 13.

O reencontro acontece praticamente um ano depois do bronze conquistado pela Alemanha frente à Espanha (1-0), em Paris, numa ocasião em que as jogadoras da Roja chegaram sem fôlego, após um torneio com ritmos bem diferentes dos da Eurocopa ou do Mundial.

A Alemanha, o gigante que a Espanha nunca conseguiu vencer em jogos oficiais de seleções femininas, é o penúltimo obstáculo para a equipa de Montse Tomé, que está agora a dois passos do trono europeu e da sua potencial renovação.