Mais

Julie Piga: A francesa que representa a Itália nas meias do Europeu Feminino

Julie Piga em ação
Julie Piga em ação ČTK / imago sportfotodienst / BEAUTIFUL SPORTS/Gelhardt
Após a eliminação da França nos quartos de final, frente à Alemanha, a seleção francesa ainda terá um último representante neste Euro 2025... mas ao serviço de Itália! A central Julie Piga, nascida em Lyon e filha de pai italiano, vai defrontar a Inglaterra, na próxima terça-feira, com a camisola da Azzurra.

Acompanhe as incidências da partida

É a história de um sonho azul. Ou melhor, azzurro. Aos 27 anos, Julie Piga, nascida e formada em Lyon, está a disputar os seus primeiros jogos numa grande competição internacional com a camisola da Itália. A defesa-central, que passou por clubes como o Lyon, Grenoble e Fleury, e que representou todas as seleções jovens de França, vive agora a sua primeira experiência em solo italiano, o país que sempre sonhou defender.

"Sempre me senti italiana, apesar de ter crescido em França. Sempre tive a camisola da selecção nacional desde criança. Para mim, poder vestir esta camisola é verdadeiramente incrível. Sempre me senti italiana, desde que comecei a jogar futebol, aos seis anos, seguindo os passos do meu irmão", confidenciou a jogadora que até deu ao seu cão o nome de "Pirlo", em homenagem ao seu ídolo.

Apesar de ter assistido ao histórico apuramento da sua seleção a partir do banco de suplentes, Julie Piga esteve sempre ao lado das companheiras, cantando todo o repertório italiano a plenos pulmões para celebrar a vitória por 2-1.

"Estou a sentir-me bem, fizeram-me sentir muito bem-vinda desde o primeiro dia", disse-nos após o jogo entre Portugal e Itália, na fase de grupos.

"Comecei por ser francesa e nunca me disseram nada, sempre me aceitaram como sou. Sou de origem italiana e sempre apoiei a Itália, mas isso nunca fez qualquer diferença para elas."

"Ela é mais italiana do que nós!"

Elena Linari, com quem Julie Piga partilhou 19 minutos em campo frente à Bélgica e 14 contra a Espanha, confirma a sua integração plena na seleção italiana: "Ela é incrível, às vezes é mais italiana do que nós! Gosta de se divertir e de fazer parte da equipa..."

A antiga capitã da selecção sub-20 de França, que terminou em 4.º lugar no Mundial de 2018, nunca teve dúvidas sobre a sua escolha. Na verdade, fez tudo o que estava ao seu alcance para garantir que a concretizava. Apesar de poder ter sido chamada aos Bleues na véspera do Mundial de 2023, entrou em contacto com a FIGC (Federação Italiana de Futebol) e comunicou o seu desejo de representar a Itália. De seguida, informou Hervé Renard da sua decisão.

Entretanto, Julie Piga, que era uma das melhores defesas da liga francesa ao serviço do Fleury, decidiu trocar a D1 Arkema pela Serie A feminina, assinando pelo AC Milan. Foi uma forma de se aproximar da seleção italiana, maioritariamente composta por jogadoras que actuam em clubes italianos (21 das 23 convocadas para o Euro 2025). A aposta revelou-se acertada: foi chamada à seleção italiana enquanto se preparava para o Mundial.

Embora não tenha sido convocada para o torneio na Oceânia, acabaria por se estrear pela Itália a 25 de outubro de 2024, numa vitória por 5-0 sobre Malta, em jogo particular.

"Quando joguei o meu primeiro jogo, foi simplesmente incrível", recorda. Na Suíça, concretizou outro "sonho": vestir a camisola da Azzurra numa grande competição. Tudo isto diante da família e dos amigos.

"O que é fantástico neste Euro, na Suíça, é que a minha família (de Lyon, em França) pôde vir ver-me jogar! Acho que sou a única do grupo cuja família está tão perto. É bom porque aqui falam italiano e francês, por isso, quando posso ajudar em francês, ajudo", sorri a jogadora, que, logo de seguida, concede uma entrevista em italiano, sem qualquer dificuldade.

Mais do que uma simples suplente

Apesar de não ser uma das titulares numa defesa muito experiente, composta por Cecilia Salvai (31 anos, titular da Juventus) e Elena Linari (31 anos, titular da AS Roma), Julie Piga conquistou o seu espaço numa equipa italiana que se destaca pelo forte espírito de grupo: "Estou feliz por fazer parte de um grupo onde todas se ajudam, dentro e fora de campo. As jogadoras mais experientes têm sempre palavras de conforto e liderança, de que as mais jovens precisam."

Ter Julie Piga na equipa é "uma mais-valia", garante Linari, que só tem elogios para a sua companheira de seleção: "Está sempre presente quando é preciso. Estou muito feliz por ela, fez uma grande temporada no Milan e é mais uma opção importante para nós."

Embora não se espere que Julie Piga seja titular no duelo contra a Inglaterra, a franco-italiana garante que está pronta para "incentivar a equipa a partir do banco" ou "entrar em campo, nem que seja por um minuto, para ajudar este grupo fantástico."

Uma Itália que já fez história, com Julie Piga a contribuir para esse feito.